Sororidade

A sororidade é a solidariedade entre mulheres, fundamentada no reconhecimento de experiências compartilhadas e na luta por igualdade de gênero.
Sororidade é a solidariedade entre mulheres.

A sororidade é a solidariedade entre mulheres, fundamentada no reconhecimento de experiências compartilhadas e na luta por igualdade de gênero, promovendo união e apoio mútuo para superar opressões históricas impostas pelo patriarcado. Derivado do latim soror (irmã), o termo foi ressignificado pelos movimentos feministas como um pacto ético de igualdade, contrapondo-se à exclusão implícita na fraternidade tradicional.

Na prática, a sororidade se manifesta por meio de ações concretas como escuta ativa, combate à rivalidade feminina, formação de redes de apoio e incentivo às lideranças femininas. Diferente da empatia, que é emocional e individual, a sororidade tem caráter político e coletivo, voltada para mudanças estruturais. Embora homens não pratiquem sororidade, podem adotar posturas solidárias ao apoiar iniciativas femininas e combater o machismo.

Leia também: Qual a diferença entre misoginia e machismo?

Resumo sobre sororidade

  • Sororidade é a solidariedade entre mulheres, baseada no reconhecimento de experiências compartilhadas e na luta por igualdade de gênero.
  • A sororidade promove a união e o apoio mútuo para enfrentar as opressões patriarcais que perpetuam rivalidades e desuniões históricas.
  • O termo sororidade vem do latim soror (irmã), e foi ressignificado pelos movimentos feministas como resposta à exclusão das mulheres no ideal de fraternidade, passando a designar um pacto ético de solidariedade e igualdade entre mulheres.
  • Pode ser praticada na criação de espaços de escuta e empatia, combate a rivalidade feminina e fomenta redes de apoio e incentivo a lideranças femininas.
  • Sororidade vai além da empatia, pois é um compromisso político e coletivo entre mulheres para agir contra opressões; a empatia é uma habilidade emocional de compreender o outro.
  • Embora homens não pratiquem sororidade, podem adotar posturas de solidariedade ao apoiar mulheres, combater o machismo e criar ambientes mais inclusivos, contribuindo para a igualdade sem usurpar o significado do termo.

O que é sororidade?

Sororidade é a união, solidariedade e aliança entre mulheres, baseada no reconhecimento de experiências comuns e na busca por igualdade de gênero. O termo, derivado do latim soror, que significa irmã, tem ganhado destaque no debate feminista contemporâneo como uma forma de combater a rivalidade feminina fomentada por sistemas patriarcais.

Mais do que um simples laço de amizade, a sororidade implica uma postura ética e política que busca construir uma sociedade mais justa, onde as mulheres se apoiem mutuamente e fortaleçam umas às outras.

Na prática, a sororidade desafia as estruturas que incentivam a competição e a desunião entre mulheres. Historicamente, o patriarcado cultivou a ideia de que as mulheres deveriam competir entre si por aprovação, poder ou recursos, perpetuando rivalidades e enfraquecendo a luta por direitos iguais. A sororidade, nesse contexto, propõe uma alternativa: a construção de redes de apoio baseadas na empatia, no reconhecimento mútuo e no compromisso coletivo com a equidade.

Esse conceito é central para o feminismo, que entende a sororidade como uma forma de resistir às opressões impostas às mulheres. Ele transcende diferenças de classe, raça e orientação sexual, promovendo uma visão inclusiva que acolhe as diversas realidades vividas pelas mulheres. Ao adotar a sororidade, as mulheres não apenas enfrentam as desigualdades de gênero, mas também desafiam outras formas de opressão interseccionais, como o racismo e a homofobia.

Veja também: Mulheres importantes da história — da Antiguidade aos dias atuais

Origem do termo sororidade

O termo sororidade tem suas raízes no latim soror, irmã, e foi originalmente utilizado em contextos religiosos, referindo-se à irmandade entre freiras nos conventos. Entretanto, sua ressignificação ocorreu a partir dos movimentos feministas, especialmente durante a terceira onda, que buscou enfatizar a solidariedade entre mulheres como uma ferramenta política e social.

Durante a Revolução Francesa, o lema "Liberdade, Igualdade, Fraternidade" destacou a fraternidade como um valor central, mas limitado aos homens, refletindo a exclusão das mulheres das esferas de poder e decisão. A sororidade surgiu como uma resposta a essa exclusão, propondo uma união entre mulheres baseada em princípios de igualdade e empatia. Enquanto a fraternidade reforçava uma visão masculina da solidariedade, a sororidade reivindicava um espaço próprio para as mulheres, reconhecendo suas experiências únicas de opressão.

Marcela Lagarde y de los Ríos, escritora e feminista que ajudou a popularizar o termo sororidade.[1]

A escritora e feminista Marcela Lagarde y de los Ríos desempenhou um papel crucial na popularização do termo. Ela definiu a sororidade como um pacto ético entre mulheres, fundamentado no respeito mútuo e na luta conjunta contra o patriarcado. Essa visão enfatiza que a sororidade não significa necessariamente amizade, mas sim o reconhecimento da importância de trabalhar juntas por objetivos comuns, apesar das diferenças.

Como aplicar a sororidade na prática?

Praticar a sororidade envolve ações cotidianas que promovam a união e o apoio mútuo entre mulheres. Algumas dessas ações incluem:

  • Escuta ativa e empatia: criar espaços seguros onde as mulheres possam compartilhar suas experiências e dificuldades sem medo de julgamento ou represálias. Essa prática permite a troca de vivências e o fortalecimento de vínculos.
  • Combate à rivalidade feminina: evitar atitudes que reforcem estereótipos de competição entre mulheres, como críticas baseadas na aparência ou comparações injustas. Isso inclui desconstruir narrativas que promovem a ideia de que mulheres são naturalmente rivais.
  • Promoção de redes de apoio: participar ou criar grupos de apoio que auxiliem mulheres em situações de vulnerabilidade, como vítimas de violência de gênero ou mães solo. Essas redes são fundamentais para oferecer suporte emocional, financeiro e logístico.
  • Educação e conscientização: informar e educar outras mulheres sobre seus direitos e sobre a importância da solidariedade feminina. Isso pode ser feito por meio de workshops, palestras ou materiais educativos.
  • Apoio a mulheres em posições de liderança: incentivar e valorizar mulheres que ocupam cargos de destaque, seja no ambiente de trabalho, na política ou na sociedade. Isso inclui combater preconceitos e apoiar iniciativas lideradas por mulheres.

Exemplos de sororidade podem ser encontrados em diversas culturas e contextos. Nas comunidades quilombolas, por exemplo, as mulheres muitas vezes lideram iniciativas de preservação cultural e ambiental, demonstrando um forte senso de coletividade e apoio mútuo. Essas práticas são uma manifestação clara de como a sororidade pode transformar vidas e comunidades.

Sororidade x empatia

Embora a sororidade e a empatia estejam relacionadas, elas possuem diferenças fundamentais. A empatia refere-se à capacidade de se colocar no lugar do outro, compreender suas emoções e perspectivas. É uma habilidade individual que pode ser aplicada em qualquer tipo de relação, independentemente do gênero.

Já a sororidade é mais específica e política. Ela envolve um compromisso coletivo entre mulheres para enfrentar as desigualdades de gênero e apoiar umas às outras. Enquanto a empatia é uma qualidade emocional, a sororidade é uma prática social que exige ação e engajamento.

Por exemplo, uma mulher pode sentir empatia por outra que enfrenta dificuldades, mas praticar a sororidade significa ir além desse sentimento, oferecendo ajuda concreta ou participando de iniciativas que combatam as causas dessas dificuldades. Assim, a sororidade não apenas complementa a empatia, mas a potencializa, transformando-a em uma força para a mudança social.

Existe sororidade masculina?

Embora o conceito de sororidade seja intrinsecamente ligado às mulheres, ele pode inspirar reflexões sobre como homens podem adotar práticas de solidariedade e apoio em relação às mulheres. No entanto, a aplicação do termo diretamente aos homens é controversa, pois a sororidade nasce de experiências específicas de opressão vividas pelas mulheres no patriarcado.

Homens podem contribuir para o fortalecimento da sororidade ao reconhecer seus privilégios e trabalhar para desconstruir comportamentos machistas. Isso inclui apoiar iniciativas femininas, educar outros homens sobre questões de gênero e criar ambientes onde as mulheres se sintam seguras e respeitadas. Embora isso não seja sororidade em si, é uma forma de solidariedade que pode complementar as práticas sororais.

Importância da sororidade

A sororidade pode transformar comunidades inteiras, unindo mulheres em prol de objetivos comuns.

A sororidade é essencial para a desconstrução de estruturas opressoras como o patriarcado. Ela promove a união entre mulheres, fortalecendo movimentos feministas e criando redes de apoio que são fundamentais para enfrentar desafios sociais e individuais. Além disso, a sororidade contribui para a inclusão e a equidade, permitindo que mulheres de diferentes origens e contextos se unam em prol de objetivos comuns.

No âmbito social, a sororidade pode transformar comunidades inteiras. Em grupos marginalizados, como os quilombolas, as mulheres frequentemente assumem papéis de liderança, demonstrando como a solidariedade feminina pode ser uma força poderosa para a resistência cultural e a luta por direitos. A sororidade também tem um impacto positivo no ambiente de trabalho, incentivando a colaboração e combatendo práticas discriminatórias.

Além disso, a sororidade é uma ferramenta para a transformação pessoal. Ao praticar a sororidade, as mulheres aprendem a valorizar suas próprias experiências e a reconhecer o potencial de suas contribuições para a sociedade. Isso fortalece sua autoestima e as motiva a continuar lutando por seus direitos e por um mundo mais justo.

Saiba mais: O que é sexismo e qual a sua relação com a desigualdade de gênero?

Frases sobre sororidade

  • "Sororidade não é sobre amar todas as mulheres, mas sobre não odiar nenhuma mulher apenas por ela ser mulher."
  • "A sororidade é uma prática ética e política de resistência ao patriarcado."
  • "Nós, mulheres quilombolas, sabemos a dor uma da outra."

Créditos da imagem

[1] Wikimedia Commons

Fontes

ALVES, Simone Silva. Saberes das Mulheres Veteranas na Economia Solidária: Sororidade a Outra Educação! 2014. Tese (Doutorado) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Faculdade de Educação, Programa de Pós-Graduação em Educação, Porto Alegre, 2014.

BECKER, Márcia Regina; BARBOSA, Carla Melissa. Sororidade em Marcela Lagarde y de los Ríos e experiências de vida e formação em Marie-Christine Josso e algumas reflexões sobre o saber-fazer-pensar nas ciências humanas. Coisas do Gênero, São Leopoldo, v. 2, n. 2, p. 243-256, ago.-dez. 2016.

FERNANDES, Evelyn Blaut. Morte ao patriarcado: fraternidade, irmandade, sororidade. Cadernos Pagu, n. 63, 2021. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/18094449202100630009.

GARCIA, Dantielli Assumpção; SOUSA, Lucília Maria Abrahão e. A sororidade no ciberespaço: laços feministas em militância. Estudos Linguísticos, São Paulo, v. 44, n. 3, p. 991-1008, set.-dez. 2015.

PEREIRA, Amanda dos Santos; ALLEGRETTI, Maitê; MAGALHÃES, Lilian. Nós, mulheres quilombolas, sabemos a dor uma da outra: uma investigação sobre sororidade e ocupação. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, v. 30, e3318, 2022. DOI: https://doi.org/10.1590/2526-8910.ctoAO254033181.

SCHERER, Cristina. Princípios da Sororidade na Vida e na Bíblia. Anais do Congresso Latino-Americano de Gênero e Religião, São Leopoldo, v. 5, p. 112-127, 2017.

SILVEIRA, Maria Eduarda; ALDA, Lucía Silveira. Nós, mulheres: a importância da sororidade e do empoderamento feminino. 13º Congresso Mundos de Mulheres & Fazendo Gênero 11, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2017.

Publicado por Tiago Soares Campos

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