História do Kremlin de Moscou
Moscou, capital da Rússia, é a maior cidade desse país e possui cerca de 12,3 milhões de habitantes. É a sede do governo russo e também é um dos principais centros econômicos do país. A importância dessa cidade é refletida exatamente na quantidade de turistas que vão todos os anos visitá-la. Um dos locais de Moscou que recebem grande parte desses visitantes é o Kremlin.
História do Kremlin
O Kremlin da cidade de Moscou é, naturalmente, o principal de toda Rússia (existem cerca de 20 kremlins espalhados pela Rússia). Ele é a casa dos presidentes russos desde 1991, ano em que a União Soviética desintegrou-se e a Rússia ganhou a sua independência. A história do Kremlin está diretamente ligada com o desenvolvimento da própria Moscou.
Considera-se que a fundação de Moscou aconteceu em 1147, pois nessa data registrou-se a primeira menção da cidade em documentos históricos. A menção a Moscou nessa data fala de uma festa organizada por Yury Dolgoruky, um príncipe da Dinastia Rurik. Nessa festa, Dolgoruky teria um convidado especial, o seu aliado chamado Svyatoslav Olgovich.
Esses fatos levaram alguns historiadores a questionar a data de fundação de Moscou, pois, se em 1147 a cidade estava apta para sediar uma festa e receber uma grande quantidade de convidados, então ela era uma cidade grande e que provavelmente teria sido fundada antes da data citada. De qualquer forma, o Kremlin surgiu em Moscou poucos anos depois, em 1156.
O Kremlin foi construído a mando do próprio Yury Dolgoruky com o objetivo de proteger a cidade de possíveis ataques estrangeiros. Isso é totalmente entendível dentro daquele contexto, uma vez que os povos que habitavam aquela região, conhecida como Rus Kievana, frequentemente entravam em conflitos com povos vizinhos. Um exemplo disso são os conflitos dos russos contra os cumanos e contra os búlgaros do Volga.
A palavra Kremlin significa “fortaleza dentro de uma cidade” e denota bem a função dessa construção na época. A conclusão da obra de construção do Kremlin foi realizada por Andrey Bogolyubsky, filho de Dolgoruky. A estrutura da construção era de madeira, e os muros da fortaleza eram cercados por um fosso. A duração dessa primeira construção, no entanto, não foi muito longa.
A região de Rus (da qual Moscou fazia parte) foi gradativamente invadida pelos mongóis entre 1237 e 1240. Com a cidade de Moscou atacada, o Kremlin foi destruído. Sua reconstrução aconteceu somente em 1339 por ordens de Ivan Kalita, e o Kremlin foi refeito com estrutura de madeira. Pouco mais de duas décadas depois, em 1365, um incêndio atingiu Moscou, e o fogo consumiu as paredes de madeira |1|.
Por essa razão, os muros do Kremlin foram refeitos entre 1366 e 1368, porém, com estrutura de calcário. A construção dessa nova estrutura foi ordenada por Dmitry Donskoy, Grão Príncipe de Moscou, e refletia a nova condição de Moscou como cidade enriquecida e em desenvolvimento. Pouco mais de um século depois, a estrutura do Kremlin foi reforçada durante o reinado de Ivan III.
Ivan III convidou uma série de arquitetos italianos para que eles renovassem toda a estrutura do Kremlin e, assim, novas construções no complexo do Kremlin foram feitas, e o perímetro de defesa foi reforçado com a construção de torres de vigilância. Foi durante esse processo que foi construído o Campanário de Ivan III, que contém a maior torre de todo o Kremlin, com 81 metros de altura.
Novas mudanças aconteceram no Kremlin durante o reinado de Ivan, o Terrível (também conhecido como Ivan IV), governante da Rússia durante mais de 50 anos. Ivan IV ordenou a construção da Catedral de São Basílio, um dos mais belos prédios que fica ao lado do complexo do Kremlin e, além disso, ordenou a separação do complexo do restante da cidade.
Com a consolidação do poder da monarquia russa, sediada em Moscou, o Kremlin foi a casa dos imperadores russos (czares) até o início do século XVIII. Isso mudou quando Pedro, o Grande, ordenou a transferência da capital da Rússia para São Petersburgo, fazendo dessa nova cidade a casa dos imperadores e da nobreza russa.
Durante a invasão da Rússia pelos franceses, a cidade de Moscou foi alvo dos ataques das tropas lideradas por Napoleão Bonaparte. Chamada pelos russos de Guerra Patriótica de 1812, os russos permitiram os avanços franceses a partir da tática da terra arrasada e, assim, os franceses marcharam sobre Moscou. Ao entrar na cidade, Napoleão encontrou Moscou praticamente vazia.
Incapaz de fornecer suprimentos para seu exército em Moscou, Napoleão ordenou o retorno do exército à França, mas não sem tentar danificar a estrutura do Kremlin. Assim, Napoleão ordenou a destruição do complexo, mas os franceses conseguiram destruir apenas uma torre. Antes da invasão francesa, o Kremlin havia sido invadido pelos poloneses no século XVII.
Com a Revolução de Outubro, realizada pelos bolcheviques, Moscou voltou a ser a capital da Rússia, e o Kremlin voltou a sediar o governo. No período soviético, novas alterações na estrutura do Kremlin foram feitas. Antigos símbolos do Império Russo (duas águias com duas cabeças) que ficavam no alto de duas torres foram substituídos por duas estrelas vermelhas (símbolo da União Soviética) em 1937.
Atualmente, o complexo do Kremlin é um dos locais mais visitados de Moscou e possui diversos museus, igrejas, além dos prédios governamentais e da residência presidencial. A visitação da maioria dos prédios é realizada a partir da compra de tíquetes. O Palácio Estatal tem entrada permitida somente por agendamento prévio. Prédios administrativos e a residência presidencial não são abertos para o público.
Canhão do Tsar tem mais de 400 anos e é o maior canhão do mundo*
O muro construído ao redor do Kremlin de Moscou possui cerca de 2.500 metros de comprimento, e a altura do muro pode variar de 5 a 19 metros. A maior torre do Kremlin, como já mencionado, possui 81 metros de altura, e o Kremlin possui ao todo 20 torres. Outras construções de destaque do Kremlin são o Sino do Tsar e o Canhão do Tsar (Tsar tem o mesmo significado de Czar).
O Canhão do Tsar foi construído em 1586, durante o reinado do czar Teodoro I, por Andrei Tchokov. Esse canhão possui um calibre de 890 milímetros, o que faz dele o maior canhão do mundo. O canhão pesa 40 toneladas, e cada bala atirada por ele tem o peso de 800 quilos. Atualmente, os historiadores têm conhecimento de que esse canhão foi utilizado pelo menos uma vez, no entanto, não se sabe quando e em qual contexto.
O sino do Tsar foi construído durante o século XVIII e pesa mais de 200 toneladas**
O Sino do Tsar foi construído em 1730 por ordem da Imperatriz Ana da Rússia. O Sino do Tsar possui o peso total de 202 toneladas e mede mais de 6 metros de altura, o que faz dele o maior sino do mundo. Um pedaço do sino foi danificado e fez com que uma parte de aproximadamente 11 toneladas se quebrasse. O Sino do Tsar nunca foi tocado, porém, cientistas americanos fizeram uma simulação digital de como seria o som do sino.
|1| GERRARE, Wirt. The Story of Moscow. London, 1910, p. 23.
*Créditos da imagem: Ekaterina Bykova e Shutterstock
**Créditos da imagem: Elina e Shutterstock