Filosofia
A filosofia não possui um conceito único. Em momentos diversos da história, muitos pensadores tentaram responder à pergunta “o que é filosofia?”. A dificuldade de uma resposta única surge da constatação de que essa atividade não manteve as mesmas características no decorrer dos séculos.
É uma forma diferenciada de pensar e agir que nos conduz a questionar racionalmente a nós mesmos e o que se constrói como resultado das ações humanas. Trata-se de ultrapassar a opinião e construir uma resposta a um problema, a saber, aquilo que é aceito por muitos, ou simplesmente assumido, mas que é falso ou que se mostrará incompleto ou superficial.
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Quando e como surgiu a filosofia?
A atividade filosófica surgiu nas colônias gregas da Antiguidade, entre os séculos VII e V a.C.. O raciocínio que se caracterizou posteriormente como filosófico surgiu em oposição ao pensamento baseado nos mitos reunidos por Homero e Hesíodo. Pensadores como Xenófanes, Heráclito, Empédocles e outros deixaram de aceitar as explicações baseadas em deuses e heróis para investigar a natureza (o conceito em grego é physis) em busca de princípios que explicassem o todo da realidade. A aceitação passiva de verdades não comprováveis foi, assim, abandonada e iniciou-se uma busca por respostas com base em novas racionalizações
Foi apenas no século V que essa atividade começou a se tornar conhecida, havendo o uso do verbo grego philosophein, que significa filosofar, para identificá-la. Fatores como o desenvolvimento das cidades, as relações comerciais com outros povos e a importância do debate na Atenas clássica favoreceram a ênfase no uso da razão e, consequentemente, a atividade filosófica entre os gregos.
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O que a filosofia estuda?
É possível questionar tudo o que se apresenta como verdade, como algo já estabelecido? Se sim, a atividade filosófica pode abordar qualquer assunto. Muitos dos temas com os quais os filósofos ocuparam-se estavam relacionados a situações ou assuntos que provocavam dúvidas ou despertavam curiosidade. Cada época teve um ou outro tema que esteve em debate e muitos deles receberam tratamento filosófico.
Um dos questionamentos que têm ocupado os filósofos desde a Antiguidade está relacionado à ética. Somos obrigados a ajudar as outras pessoas? Nossos valores morais são reflexos das sociedades em que vivemos? O agir genuinamente moral e não egoísta é possível?
Igualmente, preocupações sobre o conhecimento foram e são relevantes ainda hoje: como podemos fundamentar racionalmente o que acreditamos? Os sentidos são fonte segura de conhecimento? Há verdades inquestionáveis?
A validade das leis, a importância da arte e a origem das sociedades já foram temas investigados ao longo da história da filosofia. Esses e outros temas continuam a ser relevantes hoje, conduzindo-nos a novas perguntas ou a novas interpretações.
O pensamento filosófico sempre esteve relacionado com o desenvolvimento das ciências em geral, com a reflexão moral e as produções artísticas. O questionamento colocado não se limita em seu aspecto negativo, um desafio àquilo que é, mas abre a possibilidade de construção de novas compreensões. Ao se questionar sobre a vida, por exemplo, não se limita aos aspectos biológicos ou psicológicos, mas considerando-os, visa-se à outra dimensão, a saber, o sentido da própria existência.
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Períodos filosóficos e principais filósofos
Concordou-se em dividir a história da filosofia em quatro grandes períodos. A especificação cronológica não é o mais relevante, mas o modo próprio em que cada período abordou suas questões e entendeu o que seria fazer filosofia.
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Filosofia antiga
Os filósofos pré-socráticos foram os primeiros a colocar em questão a autoridade do pensamento mítico. O que restou de seu pensamento foram apenas fragmentos ou menções em escritos posteriores. Parmênides e Heráclito foram influentes na filosofia platônica e outros filósofos, como Pitágoras e Demócrito, influenciaram o desenvolvimento das ciências. Seus pensamentos são divididos nas seguintes escolas: jônica, eleata, pitagórica e os pluralistas.
Sócrates é o filósofo mais importante desse período, mas só conhecemos suas reflexões por meio dos diálogos escritos por Platão. As reflexões socráticas ampliaram os temas abordados pelos filósofos anteriores, substanciando a atitude crítica que conhecemos hoje como filosofia. É atribuída a Platão a famosa teoria das Ideias, segundo a qual o que é verdadeiro só pode ser alcançado pelo intelecto, pois temos acesso apenas a objetos corruptíveis pelos sentidos.
Aristóteles, discípulo de Platão, marcou o fim da era clássica da filosofia grega. Considerou que o conhecimento verdadeiro é abstrato, mas não dependeria de um acesso para além das coisas. Diferentemente de seu mestre, acreditava que as sensações seriam meios para alcançar o que há de essencial na realidade. É esse filósofo que propôs um pensamento mais sistematizado e estabeleceu as bases da lógica. A distinção entre essência e aparência é um tema comum a todo esse período.
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Filosofia medieval
Esse período ficou marcado por uma proximidade entre a religião vigente na Europa central e a fundamentação filosófica. Iniciou-se já no 1º século e é marcado pela tentativa de defesa ou explicação da fé cristã por meio da herança cultural greco-romana. Entre os pensadores importantes do primeiro período, chamado Patrística, temos Clemente de Alexandria, Tertuliano e outros, mas Agostinho de Hipona é o principal filósofo. Deus e a alma foram os temas de maior interesse para esse filósofo e o fato de ter escrito em primeira pessoa demonstra a importância da introspecção em sua obra.
A Escolástica, cujo auge esteve entre os séculos XI e XV, tem Tomás de Aquino como seu principal pensador. Conhecido pelas cinco provas de existência de Deus, baseou sua filosofia em Aristóteles e fez uma distinção importante entre essência e existência. Entre outros nomes importantes desse período, temos Pedro Abelardo e Anselmo de Cantuária. O período medieval também contou uma produção filosófica considerável no Oriente, sendo Averróis e Moisés Maimônides os principais pensadores.
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Filosofia moderna
O período moderno iniciou-se no século XV e representou um distanciamento das teorias e concepções medievais. A especificação das ciências e a Reforma Protestante são elementos culturais que indicam a importância da razão no avanço da humanidade. René Descartes, Francis Bacon, Thomas Hobbes, John Locke e David Hume são os principais filósofos. A fundamentação do conhecimento foi o principal tema filosófico desse período, cujas reflexões formaram as correntes do empirismo e do racionalismo.
O retorno ao pensamento clássico, dos gregos e romanos, e o retorno do humano como centro das reflexões identificaram o movimento renascentista. Foi nessa fase de transição que encontramos as novidades elaboradas por Nicolau Maquiavel e Michel de Montaigne. O iluminismo e seus desdobramentos imediatos, assim como uma tendência oposta, o romantismo, também pertencem a esse período.
Immanuel Kant, François-Marie Arouet (Voltaire), Jean-Jacques Rousseau representam, junto a outros, o iluminismo, e Friedrich Schiller, Friedrich Hölderlin e Heinrich Heine e outros são aqueles que se opuseram aos excessos da ênfase na razão. O idealismo de Georg Wilhelm Hegel marcou o fim do período, com sua tentativa de sistematização do pensamento filosófico.
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Filosofia contemporânea
Classifica-se o pensamento filosófico posterior a Georg Wilhelm Hegel como sendo contemporâneo. A partir de desdobramentos e abandonos de propostas anteriores, surgiram inúmeras perspectivas novas. Arthur Schopenhauer valorizou a experiência estética no início do século XIX, em O mundo como Vontade e Representação (1818), enquanto Karl Marx apresentou suas críticas ao idealismo na segunda metade do mesmo século.
A hermenêutica tornou-se um novo campo de estudos filosóficos, com Friedrich Schleiermacher e Wilhelm Dilthey. Destacou-se também o pensamento pragmatista, elaborado por Charles Pierce, William James e outros.
Houve grande tendência de analisar a linguagem em busca de elucidações ou soluções para alguns problemas filosóficos, estabelecendo os estudos de Filosofia da Linguagem. Essa corrente de pensamento iniciou-se com o pensamento denso e profundo de Friedrich Gottlob Frege na Alemanha e logo se estendeu para outros países. Bertrand Russell e Ludwig Wittgenstein são os primeiros herdeiros dessa proposta, que logo se consolidou como campo de investigação filosófico.
Edmund Husserl pretendeu estabelecer uma nova forma de fundamentar o conhecimento e superar as dificuldades do realismo e do idealismo ao propor que a consciência sempre visa a um objeto intencionalmente. Surgiu, assim, a fenomenologia, campo de estudo que estabeleceu muitas novidades não só em filosofia, mas em outros campos do saber.
O existencialismo foi outra forma de pensamento que influenciou o mundo do pós-guerra. Jean-Paul Sartre e Sören Kierkegaard são as principais referências, sendo o primeiro de vertente ateia e o segundo considerado cristão. Friedrich Nietzsche, com seu pensamento a golpes de martelo e seus aforismos, apresentou uma valorização da vida com todas as suas tristezas e alegrias.
Martin Heidegger é certamente um dos principais filósofos da segunda metade do século XX, com sua tentativa de estabelecer nova compreensão sobre o problema do ser. Sua proposta de que se deve compreender o mundo a partir do ser que somos estabeleceu uma nova abordagem para a ontologia.
O pensamento filosófico caracteriza-se por se distanciar de uma resposta apressada e insuficiente a qualquer assunto. Tende a abordar os assuntos de forma ampla e precisa, para que a investigação não se mostre falha posteriormente. A atenção a detalhes, a fundamentação lógica e a discussão conceitual são elementos presentes em toda produção filosófica.
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[1] Lorenzo Bartolini [domínio público]| Commons
[2] Psychiatrick [domínio público]| Commons