Augusto Frederico Schmidt
Você já ouviu falar sobre o escritor Augusto Frederico Schmidt? Importante poeta da segunda geração do modernismo brasileiro, Schmidt nem sempre é lembrado como deveria. Além de escritor, foi empresário de sucesso e também braço direito do presidente Juscelino Kubitschek, para quem escreveu vários discursos memoráveis, além de slogans de campanha inesquecíveis, entre eles o famoso “50 anos em 5”, que sintetizava toda a audácia de um dos presidentes mais progressistas que o Brasil já teve.
Augusto Frederico Schmidt nasceu no Rio de Janeiro, no dia 18 de abril de 1906. Integrou o “grupo católico carioca”, que reunia intelectuais e artistas católicos de grande expressão, como Vinicius de Moraes (que posteriormente se desvinculou da estética religiosa), Murilo Mendes, Cecília Meireles, Jorge de Lima, entre outros. Sua poesia, de inspiração bíblica, é permeada por uma fala romântica e melódica, criando assim um estilo derramado e até mesmo anacrônico, vide as referências anteriores ao período modernista tão presentes em sua poética. Entre os temas centrais da obra de Augusto Frederico Schmidt, estão o amor, a morte, a solidão, a angústia e a fuga, sempre retratados de maneira intensa. É possível notar também grande resistência às subversões propostas pelos modernistas heroicos, como a coloquialidade, o neoindianismo e o gosto pelo pitoresco e pelo anedótico.
Augusto Frederico Schmidt foi responsável pelo lançamento de grandes escritores da literatura brasileira (em 1930, fundou a Schmidt Editora), entre eles Graciliano Ramos, Rachel de Queiroz, Jorge Amado, Vinicius de Moraes, Lúcio Cardoso e Gilberto Freyre. Faleceu no dia 08 de fevereiro de 1965, aos 58 anos, no Rio de Janeiro, deixando para a literatura brasileira uma obra memorável. Para que você a conheça um pouco melhor, o Mundo Educação selecionou cinco poemas de Augusto Frederico Schmidt que certamente farão você ter vontade de conhecer muitos outros. Boa leitura!
Pequena igreja
Eu queria louvar-te, pequena e humilde igreja
Desta cidadezinha que está morrendo.
Eu queria agradecer-te a compreensão que me deste
Das coisas humildes e eternas.
Eu queria saber cantar a tua tranqüilidade
E a tua pura beleza,
Ó igreja da roça, adormecida diante do jardim cheio de rosas!
Ó pequena casa de Jesus Cristo, irmã das outras casas solenes
[e graves.
Escondida e modesta, com as tuas torres e os teus sinos
Que sabem encher o ar matinal com um tão doce apelo,
E no instante vesperal lembram que é hora de dormir para a
[grande família dos passarinhos inquietos,
Dos passarinhos que tumultuam o pobre jardim cheio de flores!
Quando
Quando repousarás em mim como a poesia
nos grandes poetas
Como a pureza na alma dos santos
Como os pássaros nas torres das igrejas?
Quando repousará o teu amor no meu amor?
Quando penetrará tua luz nos meus olhos
vazios,
Como o sol nos pântanos
Como o sorriso nos tristes
Como o Cristo no mundo em pecado?
Vazio
A poesia fugiu do mundo.
O amor fugiu do mundo —
Restam somente as casas,
Os bondes, os automóveis, as pessoas,
Os fios telegráficos estendidos,
No céu os anúncios luminosos.
A poesia fugiu do mundo.
O amor fugiu do mundo —
Restam somente os homens,
Pequeninos, apressados, egoístas e inúteis.
Resta a vida que é preciso viver.
Resta a volúpia que é preciso matar.
Resta a necessidade de poesia, que é preciso contentar.
Apocalipse
As velas estão abertas como luzes.
As ondas crespas cantam porque o vento as afogou.
As estrelas estão dependuradas no céu e oscilam.
Nós as veremos descer ao mar como lágrimas.
As estrelas frias se desprenderão do céu
E ficarão boiando, as mãos brancas inertes, sobre as águas frias.
As estrelas serão arrastadas pelas correntes boiando nas
[águas imensas.
Seus olhos estarão fechados docemente
E seus seios se elevarão gelados e enormes
Sobre o escuro do tempo.
Poema XXX
Encontraremos o amor depois que um de nós abandonar
os brinquedos.
Encontraremos o amor depois que nos tivermos despedido
E caminharmos separados pelos caminhos.
Então ele passará por nós,
E terá a figura de um velho trôpego,
Ou mesmo de um cão abandonado,
O amor é uma iluminação, e está em nós, contido em nós,
E são sinais indiferentes e próximos que os acordam do
seu sono subitamente.
*A imagem que ilustra o artigo é capa do livro Antologia Política, de Augusto Frederico Schmidt, Editora UniverCidade.