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Bullying

Bullying é uma prática sistemática e constante de agressões e intimidações cometidas por uma pessoa ou grupo contra um indivíduo, causando danos, principalmente, a suas vítimas.
Jovem agrendindo outro jovem em alusão ao bullying.
Em casos extremos, o bullying pode resultar em agressões físicas.

Bullying é uma prática sistemática e repetitiva de atos de violência física e psicológica, tais como intimidação, humilhação, xingamentos e agressão física, de uma pessoa ou grupo contra um indivíduo. A prática do bullying geralmente acontece no ambiente escolar e pode provocar danos psicológicos sérios em suas vítimas.

Leia mais: Instituições sociais – a importância desses mecanismos para a integração dos indivíduos

O que é bullying?

A palavra bullying tem origem na língua inglesa e contém o radical bully, que significa valentão. O sufixo -ing (acrescido ao prefixo bully-) denota continuidade, constância, o que nos ajuda a entender com maior precisão o significado do termo referido.

Tal prática é caracterizada por constantes agressões, que podem ser de ordem física, verbal e psicológica (geralmente ocorrem as três juntas), em que um indivíduo ou um grupo humilha, xinga, expõe e agride um outro indivíduo. Só podemos chamar de bullying o comportamento sistemático e constante, de modo que episódios isolados de agressão física ou verbal não são caracterizados dessa forma. Classificamos como bullying um comportamento desenvolvido por crianças e adolescentes, sendo que, entre os adultos, a prática similar a isso é chamada de assédio moral.

Menino gritando para uma menina com a cabeça baixa em referência ao bullying.
Para caracterizar bullying, as agressões têm que ser repetidas.

O bullying acontece de diversas maneiras: pode ser expresso por apelidos vexatórios e sistematicamente utilizados, pela perseguição à vítima, pela humilhação da vítima diante de um público, pela exposição da vítima por suas características físicas ou psicológicas, chegando, em muitos casos, a agressões físicas que podem provocar lesões corporais.

Cleo Fante, estudiosa do assunto, afirma, em matéria publicada na revista Super Interessante, que, até a década de 1970, a sociedade não via o bullying como um problema, mas como uma fase normal do desenvolvimento infantil|1|. Infelizmente, algumas pessoas ainda mantêm a mentalidade retrógrada de encarar o bullying como uma brincadeira ou um comportamento social normal, em que uns são dominados por serem mais fracos e outros são dominantes por serem mais fortes. Esse comportamento negligente de algumas famílias e, às vezes, até de profissionais da educação pode provocar na vítima a sensação de impotência e a crença de que o erro está nela, que não consegue defender-se sozinha.

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As crianças e adolescentes que praticam o bullying procuram alvos fáceis, normalmente crianças menores e sem comportamento agressivo. Não podemos simplesmente julgar e condenar esse tipo de comportamento quando se trata de menores de idade, pois geralmente ele se revela em pessoas que passam por problemas emocionais e psicológicos que, muitas vezes, originam-se no ambiente familiar.

Veja também: Cyberbullying – a prática do bullying em ambientes virtuais

Bullying escolar

O ambiente em que os casos de bullying mais se manifestam é a escola, e há uma razão sociológica para isso: a escola é o ambiente em que as crianças e os adolescentes passam grande parte do seu dia e convivem diariamente uns com os outros.

Como ocorre na sociedade extraescolar, o ambiente escolar comporta a formação de grupos sociais e, muitas vezes, cria, entre os estudantes, situações de hierarquia com base na força ou na aceitação que um indivíduo tem do grupo. Isso não isenta outros ambientes da prática do bullying, como o condomínio ou a vizinhança.

Na comunidade escolar em que grupos dominantes cristalizam-se como padrões de aceitação, os grupos que não se enquadram nesses padrões acabam excluídos e podem conter vítimas de bullying. Normalmente, os padrões estabelecidos nas relações sociais escolares, sobretudo entre adolescentes, são formados com base nas características físicas e no grau de popularidade e aceitação que os indivíduos têm dentro do grupo.

Aquelas pessoas consideradas mais populares ou “descoladas” tornam-se a referência para o comportamento social, e aqueles que não se enquadram nesse padrão são considerados “estranhos” ao grupo. Daí surge o comportamento humilhante e vexatório por parte dos que se consideram normais ou populares contra os que eles mesmos consideram estranhos por não se enquadrarem nos parâmetros estabelecidos.

Além da violência psicológica, o bullying pode chegar à violência física, em que alguns indivíduos agridem suas vítimas, normalmente crianças ou adolescentes menores e mais indefesos. Em todos os casos, cabe aos profissionais da educação coibir qualquer prática violenta que ocorra dentro do ambiente escolar.

Alguns casos emblemáticos e extremos fazem-nos refletir sobre o papel da escola em relação à prática do bullying. Mencionaremos aqui ao menos três casos em que essa prática pode entrar como um elemento causador de atos extremos de violência em ambientes escolares.

Devemos lembrar que as associações possíveis entre o bullying e os casos podem apresentar, às vezes, contradições, visto que tal prática é uma forma de violência sistemática e recorrente. Ainda assim, algum tipo de ato violento contra os jovens que praticaram as ações extremadas e criminosas pode ter ocorrido.

Veja casos expressivos de violência escolar que podem ter tido o bullying como uma possível causa:

  • Massacre de Columbine

Em 20 de abril de 1999, dois estudantes adolescentes da Columbine High Scholl, na cidade de Columbine, Colorado, nos Estados Unidos, invadiram a escola altamente armados com fuzis, submetralhadoras, pistolas e explosivos de alto poder de destruição. O caso chocou o mundo. Foram, ao todo, 13 mortos, 21 feridos pelo tiroteio, e 3 feridos por bombas enquanto tentavam fugir do atentado.

Os autores do massacre chegaram a trocar tiros com a polícia e acabaram cometendo suicídio. Os motivos são incertos, e mostram que há muita especulação por trás do que realmente pode ter acontecido, considerando que os jovens davam sinais de alerta há quase dois anos em blogs mantidos na internet, mas nada foi feito.

Entre os motivos, podemos elencar a falta de atenção das famílias e da escola quanto aos sinais de personalidade dos autores do massacre e um possível destempero emocional causado por algum tipo de violência sistêmica (bullying).

  • Massacre de Realengo

Em 07 de abril de 2011, um homem de 23 anos invadiu a Escola Municipal Tasso da Silveira, no bairro de Realengo, Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro. O homem era Wellington Menezes de Oliveira, que entrou na escola armado com dois revólveres e conseguiu matar 12 adolescentes e ferir 22. Ele chegou a ser interceptado por policiais, mas cometeu suicídio.

Wellington deixou uma anotação contendo pistas sobre o motivo do ataque que, em conjunto com o depoimento de sua irmã adotiva e de um amigo próximo, revelam que ele sofreu bullying na adolescência enquanto estudava na Escola Municipal Tasso da Silveira e em outras instituições pelas quais passou, além de ter sido obcecado por atentados terroristas.

  • Massacre do Colégio Goyases

No dia 20 de outubro de 2017, um aluno de 14 anos do Colégio Goyases, um colégio particular situado em Goiânia, Goiás, levou uma pistola de calibre 40 para a sala de aula e efetuou disparos. Apesar do pânico que se instalou, uma das professoras conseguiu acalmar o estudante que não pode ter sua identidade revelada por ser menor de idade.

Ao todo foram dois mortos e quatro feridos. Depois de preso, o autor do massacre revelou que sofria bullying por parte de um dos colegas. A arma usada no atentado pertencia ao pai do adolescente, que seria policial militar. O autor do atentado foi preso e condenado a cumprir três anos de medida socioeducativa em instituições voltadas para o tratamento de jovens infratores.

  • Massacre de Suzano

No dia 13 de março de 2019, um adolescente de 17 anos, Guilherme Taucci Monteiro, e um homem de 25 anos, Luiz Henrique de Castro, invadiram a Escola estadual Professor Raul Brasil, situada no município de Suzano, Região Metropolitana de São Paulo. Eles portavam um revólver calibre 38, uma besta, um arco e flecha e uma machadinha.

Além do armamento, eles deixaram artefatos na escola que pareciam ser bombas e bombas incendiárias (coquetéis molotov). Os jovens eram ex-alunos da escola e conseguiram matar 10 pessoas e deixar 11 feridos. Antes de entrarem na escola no horário de aula, os jovens mataram o tio de Guilherme Taucci, há poucos quilômetros da instituição de ensino. O motivo para o assassinato do tio eram desavenças familiares.

O massacre foi planejado por cerca de um ano antes do ocorrido, e quem planejou tudo foi o rapaz mais novo, Guilherme Taucci. Quando estavam acuados, Guilherme matou Luiz Henrique e matou-se em seguida. A mãe de Guilherme aponta que o filho sofria bullying na escola. O estopim para que ele executasse o plano foi a sua expulsão da instituição de ensino.

As notícias sobre o crime mostraram que, além de um possível bullying e do destempero emocional de Guilherme Taucci, havia uma completa desestruturação familiar.

Em todos os casos apresentados, não podemos simplesmente evidenciar o bullying como o único fator causador dos episódios violentos. É certo que, muitas vezes, ele é o primeiro gatilho, mas fatores posteriores podem colaborar para as ações extremadas. Em geral, há algum tipo de desordem ou desestrutura familiar, as famílias não prestam a atenção no comportamento de seus jovens, além de haver, muitas vezes, algum tipo de negligência da escola em relação às vítimas de bullying.

Acesse também: Direitos humanos: conjunto de direitos reconhecidos como os mais básicos

Consequências do bullying

O bullying pode trazer diversas consequências em suas vítimas. Normalmente, as agressões e a exclusão do grupo levam o indivíduo que sofre a um quadro de isolamento social. Devido aos maus tratos e ao sentimento de não pertencimento ao grupo, a vítima vê-se como alguém estranho, diferente e que não pertence àquele local. A partir daí, inicia-se um quadro de isolamento que a faz querer sair daquele lugar para escapar de seus problemas.

Ao não conseguir escapar e não encontrar apoio entre os amigos (muitas vezes as vítimas não conseguem desenvolver laços afetivos no seu ambiente social por conta das agressões) e os familiares (normalmente elas não comentam o que se passa com a família por medo), o quadro de isolamento começa a causar danos psicológicos que podem levar à depressão, ao transtorno de ansiedade, à síndrome do pânico e a outros distúrbios psiquiátricos, além de gerar traumas que acompanharão a vítima por toda a sua vida se não tratados adequadamente.

Algumas vítimas do bullying que desenvolvem distúrbios psiquiátricos ou que se encontram momentaneamente abaladas psicologicamente podem procurar válvulas de escape, como as drogas e o álcool, na fase em que as agressões estão ocorrendo ou na fase adulta para lidar com os traumas deixados. Também pode acontecer de o indivíduo desenvolver um comportamento violento e repetir as agressões que sofreu com outras pessoas. Nos casos extremos, a vítima encontra no suicídio a única saída momentânea para lidar com o seu sofrimento.

Como identificar o alvo do bullying

As vítimas mais comuns do bullying são pessoas que não se enquadram no padrão aceito como normal para a sociedade, que é repetido e intensificado dentro do universo adolescente. Características físicas, sociais e comportamentais são levadas em conta para produzir as agressões, que podem dar-se por conta da etnia, do peso, da altura, da condição socioeconômica, da orientação sexual, de problemas de fala e dicção, pela dificuldade de aprendizagem etc.

Alunas assistindo um menino cometendo bullying.
As pessoas que assistem às agressões e não fazem nada contribuem indiretamente com a sua prática.

É necessário que as famílias e os profissionais da educação estejam atentos ao comportamento das crianças e dos adolescentes para que identifiquem as possíveis vítimas de bullying. Se a criança ou adolescente começar a apresentar um quadro de isolamento, introspecção e agressividade, os familiares devem investigar para saber a causa. Se os profissionais da educação perceberem as agressões, devem agir de maneira a encerrar a prática do bullying sem expor a vítima e oferecer a ela apoio emocional.

Leia também: Racismo – um possível motivador do bullying

Como solucionar esse problema social?

Os melhores meios de combate ao bullying são a conscientização e o diálogo. Conversas dos pais e das mães com seus filhos e filhas, campanhas de conscientização nas escolas e diálogo dos profissionais da educação com os estudantes são as melhores formas para acabar com essa prática.

Quando identificado o bullying, é necessário que se converse com as vítimas para oferecê-las apoio emocional, e também com os agressores, a fim de descobrir o motivo das agressões e conscientizá-los dos danos que eles podem causar ao outro.

A família dos agressores também deve agir para que o quadro de agressão não se repita e, em hipótese alguma, deve-se utilizar da violência para coibir a prática do bullying, pois o efeito pode ser oposto ao desejado. Ciomara Schneider, psicanalista de crianças e adolescentes, afirma que os pais devem estar atentos aos jovens e sempre manter o diálogo e a comunicação com eles para evitar que ocorra qualquer tipo de situação de agressão sistemática.

Lei sobre o bullying escolar

A fim de coibir a prática do bullying, que se tornou um problema do cotidiano escolar, a Lei 13.185, de 6 de novembro de 2015, foi sancionada pela então presidente Dilma Roussef e entrou em vigor em fevereiro de 2016.

Essa lei institui o Programa de Combate à Intimidação Sistemática (bullying), que preza pela conscientização e pelo diálogo para acabar com a prática do bullying, criando campanhas, oferecendo apoio às famílias e evitando punições aos agressores, pois a lei entende que a conscientização é o meio mais efetivo para acabar com as agressões.

A lei estabelece o que é bullying (práticas recorrentes de perseguição, intimidação, ridicularização e agressões físicas ou verbais em ambientes físicos ou virtuais) e impõe uma série de medidas, que, além das campanhas de conscientização, visam criar uma complexa rede de apoio que envolve o poder público (por meio do Ministério da Educação e das secretarias estaduais e municipais de educação), a classe docente, os gestores escolares e as famílias.

Essa rede visa capacitar os agentes da educação e os pais para lidarem com o assunto, além de oferecer apoio psicológico, educativo e judicial aos jovens que praticam e sofrem bullying, em conjunto com as suas famílias.

Notas

|1| Para ler a matéria na íntegra, clique aqui.     

Publicado por Francisco Porfírio
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