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Ironia

A ironia (ou antífrase) é uma figura de linguagem bastante popular, utilizada recorrentemente na linguagem cotidiana, em textos literários e, até mesmo, na publicidade. O termo “ironia” vem do grego eirōneía e significa “dissimulação”, enquanto o termo “antífrase”, que vem do grego antiphrasis, significa “expressão contrária”. A ironia pode ser verbal ou observável, dependendo da situação. Vamos entender melhor essas classificações.

Leia também: Paradoxo – figura de linguagem que expressa uma ideia contrastante

O que é ironia?

A ironia é uma figura de linguagem que se caracteriza pelo uso de expressões que remetem ao oposto, de maneira proposital, do que se quis dizer. Veja o seguinte exemplo:

Estou de recuperação na escola... Parabéns para mim!

A pessoa usa ironia quando se parabeniza, já que estar de recuperação na escola não é um motivo para comemorar.

Tipos de ironia

A ironia pode ser classificada de acordo com a sua fonte. Assim, temos a ironia verbal, cuja fonte é o próprio enunciador, e a ironia observável, cuja fonte é a própria situação irônica, não tendo sido verbalizada por ninguém.

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  • Ironia verbal

Trata-se do discurso irônico e da fala ou representação de algo com o objetivo de remeter ao seu sentido inverso. Ocorre de maneira proposital e pode se dar por meio da fala ou de algum enunciado (ironia oral) ou por intermédio de uma representação artística (ironia dramática), que pode ser percebida pelos telespectadores, mas não necessariamente pelas personagens.

Machado de Assis é um autor brasileiro muito conhecido pelo uso de ironia em suas obras. Neste trecho do romance Helena, vemos um exemplo simples do uso da ironia, no qual Machado qualifica o olhar de uma mula como “filosófico”:

A primeira das duas mulas que conduzia olhava filosoficamente para ele.

  • Ironia observável

Ocorre quando um fato ou uma situação se configura irônica por si só, independentemente do enunciado de alguém.

No trecho a seguir, o cronista Luís Fernando Verissimo narra uma situação que traz uma leve ironia: os condôminos deveriam estar livres, mas estão presos para se proteger dos criminosos que estiverem livres. A situação por si só pode ser considerada uma ironia observável, ou seja, um fato irônico que se dá no contexto da narrativa. Verissimo a transforma em uma ironia verbal ao narrar esse fato.

Foi reforçada a guarda. Construíram uma terceira cerca. As famílias de mais posses, com mais coisas para serem roubadas, mudaram-se para uma chamada área de segurança máxima. E foi tomada uma medida extrema. Ninguém pode entrar no condomínio. Ninguém. Visitas, só num local predeterminado pela guarda, sob sua severa vigilância e por curtos períodos.

Ironia e sarcasmo

O sarcasmo é um recurso estilístico semelhante à ironia por também expressar propositalmente o oposto do que se quis dizer. No entanto, ao contrário da ironia, o sarcasmo é notadamente mais agressivo e provocador, muitas vezes zombando de algo ou de alguém. A ironia, por sua vez, pode ser mais leve ou menos óbvia e mais sutil no tom de deboche.

Veja também: Eufemismo – figura de linguagem que atenua o sentido de algum discurso

A ironia consiste em uma figura de linguagem que traz o sentido oposto do que foi enunciado.
A ironia consiste em uma figura de linguagem que traz o sentido oposto do que foi enunciado.

Exercícios resolvidos

Questão 1 – (Fuvest)

A certa personagem desvanecida

Um soneto começo em vosso gabo*:

Contemos esta regra por primeira,

Já lá vão duas, e esta é a terceira,

Já este quartetinho está no cabo.

Na quinta torce agora a porca o rabo;

A sexta vá também desta maneira:

Na sétima entro já com grã** canseira,

E saio dos quartetos muito brabo.

Agora nos tercetos que direi?

Direi que vós, Senhor, a mim me honrais

Gabando‐vos a vós, e eu fico um rei.

Nesta vida um soneto já ditei;

Se desta agora escapo, nunca mais:

Louvado seja Deus, que o acabei.

Gregório de Matos

*louvor

**grande

Tipo zero

Você é um tipo que não tem tipo

Com todo tipo você se parece

E sendo um tipo que assimila tanto tipo

Passou a ser um tipo que ninguém esquece

Quando você penetra num salão

E se mistura com a multidão

Você se torna um tipo destacado

Desconfiado todo mundo fica

Que o seu tipo não se classifica

Você passa a ser um tipo desclassificado

Eu até hoje nunca vi nenhum

Tipo vulgar tão fora do comum

Que fosse um tipo tão observado

Você ficou agora convencido

Que o seu tipo já está batido

Mas o seu tipo é o tipo do tipo esgotado

Noel Rosa

O soneto de Gregório de Matos e o samba de Noel Rosa, embora distantes na forma e no tempo, aproximam‐se por ironizarem

A) o processo de composição do texto.

B) a própria inferioridade ante o retratado.

C) a singularidade de um caráter nulo.

D) o sublime que se oculta na vulgaridade.

E) a intolerância para com os gênios.

Resolução

Alternativa C. O soneto começa afirmando que fará louvores a alguém; entretanto, o eu lírico passa todo o poema sem tecer um elogio, ironizando o fato de não haver elogios a serem feitos. Do mesmo modo, o samba fala sobre um “tipo que ninguém esquece” e que é “destacado” para, ao final, revelar que se trata de um “tipo desclassificado” e “esgotado”. Nos dois casos, há ironia ao destacar a falta de qualidades daqueles que ganharam um soneto e um samba em sua “homenagem”, ou seja, a singularidade de seu caráter nulo.

Questão 2 – (Unesp)

Os donos da comunicação

Os presidentes, os ditadores e os reis da Espanha que se cuidem porque os donos da comunicação duram muito mais. Os ditadores abrem e fecham a imprensa, os presidentes xingam a TV e os reis da Espanha cassam o rádio, mas, quando a gente soma tudo, os donos da comunicação ainda estão por cima. Mandam na economia, mandam nos intelectuais, mandam nas moças fofinhas que querem aparecer nos shows dos horários nobres e mandam no society que morre se o nome não aparecer nas colunas.

Todo mundo fala mal dos donos da comunicação, mas só de longe. E ninguém fala mal deles por escrito porque quem fala mal deles por escrito nunca mais vê seu nome e sua cara nos “veículos” deles. Isso é assim aqui, na Bessarábia e na Baixa Betuanalândia. Parece que é a lei.

O que também é muito justo porque os donos da comunicação são seres lá em cima. Basta ver o seguinte: nós, pra sabermos umas coisinhas, só sabemos delas pela mídia deles, não é mesmo? Agora vocês já imaginaram o que sabem os donos da comunicação que só deixam sair 10% do que sabem? Pois é; tem gente que faz greve, faz revolução, faz terrorismo, todas essas besteiras. Corajoso mesmo, eu acho, é falar mal de dono de comunicação. Aí tua revolução fica xinfrim, teu terrorismo sai em corpo 6 e se você morre vai lá pro fundo do jornal em quatro linhas.

(Millôr Fernandes. Que país é este?, 1978.)

Millôr Fernandes emprega com conotação irônica o termo inglês society, para referir-se a

A) pessoas dedicadas ao desenvolvimento da sociedade.

B) pessoas que fazem caridade apenas para aparecer nos jornais.

C) sociedades de atores de teatro, cinema e televisão.

D) norte-americanos ou ingleses muito importantes, residentes no país.

E) indivíduos presunçosos da chamada alta sociedade.
 

Resolução

Alternativa E. O termo society é uma referência à expressão em inglês high society, que significa alta sociedade. O uso do estrangeirismo remete à presunção dos indivíduos da alta sociedade, que “morre se o nome não aparecer nas colunas”.

Publicado por Guilherme Viana

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