Batalhas dos Guararapes
Sabe-se que, no século XVII, os holandeses conseguiram boa parte da região Nordeste do Brasil. A administração flamenga instalou-se, sobretudo, na então Capitania de Pernambuco, onde montou um sofisticado sistema de produção açucareira. Essa fase da história do Brasil e, em particular, da história do Nordeste brasileiro é conhecida como Brasil Holandês (ou invasões holandesas no Brasil).
O processo efetivo de montagem do sistema colonial holandês no Brasil começou em 1630 e obteve paulatinamente muitos êxitos ao longo dessa década e da década de 1640 – período que ficou marcado pela administração do príncipe Maurício de Nassau. Entretanto, a partir de 1645, os holandeses passaram a sofrer sucessivas ofensivas de nativos e luso-brasileiros, que pretendiam retomar os domínios ocupados em 1630. Esses acontecimentos ficaram conhecidos como Insurreição Pernambucana.
Vale relembrar que essa insurreição foi motivada, em grande parte, pelas guerras de restauração do trono português (até então integrado ao império espanhol) ocorridas em 1640. Os momentos decisivos da Insurreição Pernambucana desenrolaram-se na região de Montes dos Guararapes (Pernambuco) e, por isso, receberam a alcunha de Batalhas de Guararapes. A primeira delas transcorreu ao longo do dia 19 de abril de 1648, enquanto a segunda desenrolou-se em 19 de fevereiro do ano seguinte.
No dia 17 de abril de 1648, o então governador das Armas Holandesas, lotado em Pernambuco, Sigmund von Schkoppe, mobilizou um contingente de 4.500 homens dos regimentos oficiais e cerca de 1.000 tapuias contra os insurgentes. Do outro lado, o comandante era o general português Francisco Barreto, com 2.200 homens. Em 19 de abril, já se achando no local da batalha, os dois exércitos começaram o combate. A princípio, o exército luso-brasileiro realizou uma ofensiva que obrigou os holandeses a partirem em retirada. Porém, outro destacamento, liderado pelo coronel Hendrik van Haus, atacou os insurgentes pelos flancos.
Apesar da desvantagem numérica, os luso-brasileiros conseguiram melhor desempenho na batalha, principalmente no combate “corpo a corpo” com armas brancas. O empenho em retomar Pernambuco e a presença de grandes líderes no campo de batalha garantiram a vitória dos insurgentes sobre os holandeses. A primeira derrota holandesa seria o início do enfraquecimento da Companhia das Índias Ocidentais no Brasil.
No início do ano seguinte, mais um conflito desenrolou-se. Entretanto, a batalha de 19 de fevereiro apresentou um diferencial estratégico por parte dos luso-brasileiros. O exército dividiu-se em dois, um pelo sul dos montes Guararapes e o outro pelo norte. Assim, os soldados poderiam ficar estacionados em meio aos canaviais e não sofreriam com a ação do sol cáustico. O exército holandês entrou pelo meio dos montes, no descampado, recebendo assim toda a insolação da tarde daquele dia.
Os exércitos luso-brasileiros aguardaram até as três da tarde a movimentação dos holandeses. Quando estes se puseram em marcha, houve o ataque repentino e mortífero. A vitória foi menos árdua que a da primeira batalha, e, para o exército holandês, um desastre sem precedentes, como conta o pesquisador Marcos Vinicius Vilaça:
“A segunda batalha dos Montes Guararapes foi um dos maiores fracassos da história dos exércitos holandeses. Enquanto as perdas do lado luso-brasileiro foram computadas em 47 mortos e 200 feridos, do lado holandês perderam a vida o comandante geral, Tenente-general Johan van den Brincken, o Vice-almirante Giesseling e 101 outros oficiais que, somados as demais perdas, perfaziam um total de 1.044 mortos e mais de 500 feridos” [1]
NOTAS
[1] VILAÇA, Marcos Vinicius. Duas vezes Guararapes (1648-1649). Revista Da Cultura, ano VI. Nº 10. p. 17.