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Neoliberalismo e crise russa de 1998

A crise russa de 1998 foi apontada como decorrente da adoção de medidas neoliberais para poder realizar a transição ao capitalismo ocidental, causando graves problemas ao país.
Bandeira da Federação Russa. País sofreu uma grave crise financeira em 1998
Bandeira da Federação Russa. País sofreu uma grave crise financeira em 1998

A chamada crise russa de 1998 foi o resultado de fugas de capitais que haviam sido investidos no país, causando uma série de dificuldades à economia da Federação Russa. Dentre elas, podem-se destacar a desvalorização do rublo (a moeda do país), a impossibilidade de pagamento da dívida interna e externa do país, a dificuldade de arcar com salários do funcionalismo público e dos militares, dificuldade na manutenção de serviços públicos estatais e quebra de bancos em decorrência da queda de ações na bolsa de valores.

O fim da URSS, em 1991, havia levado a Federação Russa a realizar uma série de medidas para enquadrar-se no modelo capitalista ocidental. Tais medidas estavam ligadas ao chamado neoliberalismo, que consiste basicamente na privatização de empresas e demais meios de produção, que antes eram estatais, na diminuição da atuação do Estado na economia e no controle inflacionário.

É necessário salientar que na URSS a quase totalidade da propriedade dos meios de produção (empresas, indústrias, meios de comunicação e transporte etc.) era estatal. Além disso, havia um planejamento econômico centralizado também no Estado.

Tais características decorriam da interpretação de certas vertentes do marxismo de que a planificação econômica centralizada era necessária para acabar com a anarquia do mercado capitalista de propriedade privada. Dessa forma, era possível evitar os problemas de distribuição de mercadorias e evitar as crises econômicas do capital.

Com o desmantelamento da URSS, a Federação Russa realizou privatizações de empresas, abrindo a economia do país aos investimentos externos, oriundos de capitalistas do mundo ocidental. Não que nessa nova configuração econômica não havia planejamento econômico, mas ele era feito de forma articulada entre as próprias empresas e o Estado.

O objetivo era realizar uma transição do modelo soviético para o capitalismo ocidental. Heranças de gastos do Estado russo tornavam alta a fração do orçamento destinada às despesas com a máquina estatal. A economia russa, apesar de ser altamente industrializada e dinâmica, não conseguiu manter o nível de produção anterior e aumentar suas exportações. Com isso, boa parte de suas receitas era oriunda da exportação das chamadas commodities, mercadorias ligadas à produção agrícola e à extração de recursos naturais como petróleo e gás natural.

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Em 1997, uma crise da Bolsa de Valores iniciada nos chamados Tigres Asiáticos afetou diversas economias consideradas como emergentes, incluindo a russa. Essa crise provocou fuga de capitais investidos no mercado financeiro, levando à desvalorização de várias moedas nacionais em relação ao dólar. Porém, o Estado russo manteve o rublo em paridade com o dólar, o que aumentou ainda mais as despesas para manter essa política cambial. Ao mesmo tempo, houve uma queda do preço do petróleo, uma das principais fontes de receita de exportação da economia russa.

Com a queda da receita das exportações e a paridade do rublo com o dólar, a dívida russa tornou-se difícil de ser paga. A solução de Boris Yeltsin, presidente do país à época, foi declarar a moratória da dívida do país. Tal medida gerou ainda mais desconfiança dos investidores internacionais, que não tinham garantias de lucros em seus investimentos.

Um acordo foi feito entre o Fundo Monetário Internacional (FMI) e a Rússia, em que um montante de capitais seria disponibilizado aos russos. O resultado foi a troca de rublos por dólares pelos capitalistas do país e o envio desses dólares para o exterior. O desemprego, que já era alto no país, aumentou ainda mais. A medida encontrada pelo Estado foi a desvalorização do rublo, que garantiu rapidamente que os investimentos voltassem ao país, recuperando paulatinamente a economia, apesar do sofrimento de grande parte da população do país.

Publicado por Tales dos Santos Pinto
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