Secularização
A sociologia de Max Weber influenciou e ainda influencia profundamente grande parte do pensamento sociológico. De inúmeras maneiras, seu trabalho ainda é extraordinariamente preciso mesmo quando consideramos que suas observações foram feitas em um contexto de mais ou menos 100 anos atrás. Não obstante, é admirável ainda sua sensibilidade e sagacidade para apreender fenômenos de seu mundo social que ainda eram extremamente recentes. Um desses fenômenos é o que hoje nos referimos como o processo de “secularização”.
♦ O que é Secularização?
O termo “secularização” faz referência ao processo gradual de abandono dos preceitos culturais que se apoiam na religiosidade. Em outras palavras, está relacionado com o surgimento de um modo de vida que não mais está estruturado em torno de uma visão firmada em hábitos ligados à religiosidade. Trata-se da separação dos âmbitos culturais que estão ligados à crença das demais estruturas da vida social, como a política, os aspectos monetários e os processos legais no âmbito do Direito.
♦ Secularização para Max Weber
Sobre o processo de secularização, Weber concluiu que grande parte da vida social foi reduzida à lógica racional. A modernidade construiu-se em meio aos conflitos ideológicos da razão objetiva instrumental, utilizada como ferramenta de abordagem de problemas e questões do pensamento humano e de sua realidade, e abandonou progressivamente o pensamento tradicional. Weber também faz alusão a esse fenômeno ao chamá-lo de “o processo de desencantamento do mundo”, em que o sujeito moderno despe-se de costumes e crenças baseadas em tradições herdadas ou aprendidas que se apoiam nos pilares fixos das religiões ou da “magia”. Explicações e questionamentos baseados na utilização da razão instrumental quebram noções preconcebidas e ancoradas no núcleo religioso tradicional.
Weber atribuiu ao momento de crescimento histórico do sistema capitalista, que ganhava grande fôlego diante da enorme produção que a Revolução Industrial permitia, o ponto principal do processo de secularização. O lucro tornava-se prioridade nas relações comerciais, o que exigia em grande parte a racionalização das ações dos sujeitos. Isso se estendeu e alcançou as demais organizações e instituições do Estado moderno, que, em sua organização burocrática e na separação entre mundo público e mundo religioso, isto é, a laicidade ou a constituição do Estado laico, colocou de lado as formas de controle tradicionais, estruturando-se, a partir de então, em torno da racionalidade formal do Direito Civil.
O processo de secularização está relacionado, portanto, com a construção do mundo moderno. A queda das teocracias (governos regimentados em torno de uma crença religiosa e seus preceitos) da Europa feudal culminou no surgimento dos moldes das instituições modernas que ainda hoje regimentam nosso mundo social. Entender o transcorrer do fenômeno da secularização ajuda-nos a entender grande parte da forma como o pensamento moderno estruturou-se e as diferentes formas como ele ainda se modifica.