As freiras modernas
Quando falamos sobre a emancipação da mulher na sociedade, logo reconhecemos tal fato como um fenômeno histórico recente. Podendo trabalhar, estudar, controlar sua vida sexual e o momento de ter filhos, as mulheres saíram do julgo masculino para enfrentar o mundo. Seguindo essa mesma linha de raciocínio, muitos contrapõem os séculos anteriores como sendo um período machista, onde as mulheres estavam reclusas e subordinadas.
Apesar da coerência de tais argumentos, não podemos esquecer que as mulheres de outros tempos buscavam alternativas para se livrarem do ambiente doméstico e da dominação patriarcal e marital. Na América de quatro séculos atrás, uma das melhores alternativas para se afugentar desse destino feminino (quase) absoluto era a dedicação à vida nos conventos.
Para muitos pode não ser a melhor solução, mas se transformando em freira, a mulher tinha liberdade para desenvolver dotes artísticos, aprendia a ler e poderia ter acesso à vasta literatura que era preservada nessas localidades. Com isso, de simples “senhoras do lar”, as freiras poderiam obter uma formação intelectual que, no contexto matrimonial, poderia ser facilmente interpretada como uma ameaça à autoridade do marido.
Além disso, segundo alguns registros, as freiras de alguns conventos possuíam escravas e se retiravam em aposentos luxuosos adornados com detalhes e quinquilharias feitas de prata e ouro. Essa situação só acabou perdendo espaço nos fins do século XVIII, quando os altos escalões da Igreja resolveram enrijecer os hábitos da vida monástica para que os abusos de poder e a luxúria se afastassem desses locais.
Por Rainer Sousa
Mestre em História