Orvalho
“O orvalho vem caindo, vai molhar o meu chapéu
e também vão sumindo, as estrelas lá do céu”
Noel Rosa – O Orvalho Vai Caindo
O que o trecho dessa música tem de errado?
Se você está procurando algo relacionado à falta de acentos ou sinais - ou mesmo à presença de erros de concordância - não percebeu, ainda, que o problema começa no próprio título: “O Orvalho Vai Caindo”. Não desconsiderando o músico e também nos lembrando que compositores são perdoados, por meio das licenças poéticas, a grande questão é que o orvalho não cai!
O orvalho é o resultado da condensação de vapores d’água presentes no ar, em forma de gotículas, quando entram em contato com superfícies nas quais a temperatura está mais baixa ("abaixo do ponto de orvalho"). Desta forma, aquelas gotas de água no solo e objetos perto deste, nas gramas e plantas em geral, vistas pela manhã, presentes mesmo quando não choveu à noite, são uma deposição, e não uma precipitação, tal como a composição sugere.
Um exemplo que ajuda a compreender este fenômeno: pegue um copo, coloque dentro dele uma boa quantidade de gelo e aguarde alguns instantes. A formação de gotas de água do lado de fora deste recipiente segue o mesmo princípio do orvalho. Quando respiramos em frente a um vidro ou espelho, algo semelhante acontece, já que o ar que sai de nosso pulmão contém vapores de água e é mais quente do que tais superfícies.
No inverno, época em que a umidade costuma aumentar, e temperatura tende a baixar rigorosamente, o vapor de água pode se cristalizar, formando gelo, como se tivesse nevado. Entretanto, tal como orvalho, as geadas não caem do céu!
Por Mariana Araguaia
Graduada em Biologia