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Álvaro de Campos

Álvaro de Campos está entre os heterônimos criados por Fernando Pessoa. Sua obra poética pode ser analisada por meio de três diferentes fases.
Álvaro de Campos é um dos heterônimos de Fernando Pessoa e foi tido pelo próprio Pessoa como seu alter ego
Álvaro de Campos é um dos heterônimos de Fernando Pessoa e foi tido pelo próprio Pessoa como seu alter ego

Álvaro de Campos é mais uma das personalidades criadas pelo criativo e misterioso escritor português Fernando Pessoa. Pessoa, um dos mais importantes poetas da literatura universal, é sinônimo de heteronímia: de sua genialidade nasceram Álvaro de Campos, Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Bernardo Soares, heterônimos que comprovam que o poeta não cabia em si. Fernando Pessoa foi múltiplos em um só, sendo capaz de atribuir peculiaridades a cada uma de suas criações.

Não bastasse serem dotados de estilo próprio, os heterônimos de Pessoa ganharam de seu criador biografias recheadas de acontecimentos que quase nos fazem acreditar que eles de fato existiram fora do escritor. Álvaro de Campos está entre os principais transbordamentos do poeta, isso porque os versos atribuídos a ele ocorriam nos momentos em que Pessoa sentia um incontrolável impulso para escrever, daí a urgência e os versos tidos como febris.

(...) Como escrevo em nome desses três?... Caeiro por pura e inesperada inspiração, sem saber ou sequer calcular que iria escrever. Ricardo Reis, depois de uma deliberação abstracta, que subitamente se concretiza numa ode. Campos, quando sinto um súbito impulso para escrever e não sei o quê.

(Fernando Pessoa – Carta a Adolfo Casais Monteiro, 13 de janeiro de 1935)

Conforme biografia criada por Fernando Pessoa, Álvaro de Campos nasceu em Tavira, Portugal, no dia 15 de outubro de 1890. Considerado como um alter ego de Fernando Pessoa, Campos talvez seja sua personalidade literária mais elaborada, cuja escrita pode ser dividida em três diferentes fases, que serão agora apresentadas a você. Boa leitura, bons estudos!

Primeira fase – Decadentista

O decadentismo tem como principal característica a visão pessimista do mundo. Durante essa fase, os poemas de Álvaro de Campos evidenciaram certo tédio e uma necessidade pungente de novas sensações. Essa necessidade de fuga à monotonia foi marcada por símbolos e imagens, características que aproximaram os poemas de Álvaro de Campos ao Romantismo e ao Simbolismo.

(...) Esta vida de bordo há-de matar-me. 
São dias só de febre na cabeça 
E, por mais que procure até que adoeça,
já não encontro a mola pra adaptar-me.

Em paradoxo e incompetência astral 
Eu vivo a vincos de ouro a minha vida,
Onda onde o pundonor é uma descida 
E os próprios gozos gânglios do meu mal (...)”.

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(Excerto do poema “Opiário”)

Segunda fase – Futurista/Sensacionista

Durante essa fase, os poemas de Álvaro de Campos foram influenciados pelo futurismo, estética também encontrada na obra dos escritores Walt Whitman e Marinetti (este responsável pelo Manifesto Futurista). É possível perceber o fascínio pelas máquinas e pelo progresso nos poemas futuristas de Campos, fase que pode ser ilustrada a partir da leitura dos poemas Ode Triunfal e Ode Marítima.

À dolorosa luz das grandes lâmpadas elétricas da fábrica  
Tenho febre e escrevo.  
Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto,  
Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos.

Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno!  
Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!  
Em fúria fora e dentro de mim,  
Por todos os meus nervos dissecados fora,  
Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto!  
Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos,  
De vos ouvir demasiadamente de perto,  
E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso  
De expressão de todas as minhas sensações,  
Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas!(...)”

(Excerto do poema “Ode Triunfal”)

Terceira fase – Intimista/Pessimista

Nela encontramos um poeta ensimesmado, angustiado e incompreendido. Como temas, destacam-se a solidão interior, a nostalgia da infância, a frustração e a incapacidade de amar. Ilustra essa fase o poema Tabacaria, um dos mais importantes e representativos da poética de Álvaro de Campos.

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a pôr humidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.(...)”.

(Excerto do poema “Tabacaria”)

Publicado por Luana Castro Alves Perez

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