Anomia

A anomia é um termo que aparece pela primeira vez na Sociologia a partir dos estudos de Émile Durkheim. O sociólogo clássico francês identificou a anomia como uma situação em que as normas sociais se ausentam ou se tornam confusas a ponto de a sociedade como um todo perder o controle dos indivíduos. Essa situação é comum em guerras, crises econômicas e políticas ou escassez de alimentos e de recursos naturais. A anomia abala as instituições sociais e a própria dinâmica de funcionamento normal da sociedade, o que resulta em caos, desordem social, rebeliões, ditaduras e até em suicídio.

Leia também: Patriarcado — o sistema de organização social baseado na dominação dos homens

Resumo sobre anomia

• Anomia é um processo em que as normas sociais são suspensas ou não são reconhecidas pelos indivíduos.
• Para Durkheim, a anomia leva a uma situação de descontrole social que pode gerar até suicídio.
• Guerras e crises econômicas podem ser causas de anomia social.
• Robert Merton associou a anomia aos seus estudos sobre criminologia, descrevendo-a como um processo em que há um desequilíbrio entre a norma social e os padrões sociais.

O que é anomia?

A palavra anomia vem do grego a-nomos, que significa “sem lei” ou “sem normas”. Esse termo foi utilizado na Sociologia pela primeira vez pelo sociólogo francês clássico Émile Durkheim no livro Sobre o Suicídio, publicado pela primeira vez em 1897.

A anomia é a ausência de normas e regras causada por desequilíbrios sociais, desequilíbrios de poder e situações extremas, como crises econômicas, sociais, políticas e escassez de recursos naturais, assim como acontece durante guerras.

O que é anomia segundo Durkheim?

Émile Durkheim utilizou a palavra anomia para descrever situações em que a sociedade perde a capacidade de regular e normatizar o comportamento dos indivíduos. A anomia é associada por Durkheim a situações em que as regulações e normas sociais são informalmente suspensas, resultando em caos e desordem social.

Para Durkheim, a anomia acontece quando as regras sociais deixam de ser suficientemente claras ou perdem força devido a motivos extremos, resultando em processos desastrosos na sociedade. Coletivamente, a anomia leva ao enfraquecimento social e à desmotivação e desunião dos indivíduos, o que podemos identificar na Sociologia como quebra da coesão social.

Em situações extremas, a anomia generalizada leva a eventos como usurpação do poder por governos ditatoriais (ou a própria anomia resulta de ditaduras), ocasionando até mesmo o suicídio dos indivíduos, o que Durkheim chamou de suicídio anômico.

Leia também: Afinal, o que é justiça?

Exemplos de anomia

• Guerras: processos bélicos que afetam a população, seja por bombardeios, seja por escassez de recursos, tendem a gerar processos de anomia social.
• Crises econômicas: trabalho, renda e rotina são elementos norteadores da vida individual e social. Recessões econômicas em que as pessoas perdem o emprego, perdem seus investimentos e vão à falência são situações de anomia, podendo causar inclusive, segundo Durkheim, o suicídio anômico.
• Sociedades em transição: revoluções com transição rápida de sociedade, como a Revolução Francesa, ou processos de mudança social que modificam as estruturas sociais de maneira profunda, como a Revolução Industrial, tendem a gerar anomia. Nesses casos, temos uma situação em que as antigas normas deixam de valer, mas novas normas sociais ainda não são firmadas, o que gera um estado de descontrole social, causando aumento da violência, da criminalidade e dos índices de suicídio.

Anomia na criminologia

Posteriormente a Durkheim, o sociólogo estadunidense Robert Merton também utilizou o conceito de anomia, desta vez no âmbito da criminologia. A criminologia é um campo de estudo interdisciplinar sobre o comportamento criminoso que envolve as Ciências Jurídicas, a Psicologia, a Psiquiatria, a Filosofia, a Sociologia, a Antropologia Social, entre outras áreas.

Segundo Merton, a anomia é um desequilíbrio entre alguns objetivos culturalmente valorizados, como dinheiro, fama, posses e propriedades e os meios lícitos disponíveis para atingir tais objetivos. A anomia, nesse caso, gera comportamentos socialmente desviantes da norma, ou seja, a anomia gera os crimes.  

Principais características do estado de anomia

• Enfraquecimento ou ausência das normas que regulamentam a sociedade.
• Desorientação e insegurança individual.
• Desorientação e insegurança coletiva.
• Desequilíbrio entre as expectativas sociais e a realidade.
• Maior probabilidade de conduta criminosa.

Anomia, heteronomia e autonomia

Apesar de ambos os termos terem a mesma raiz (nomos, que significa lei ou norma), eles não têm, necessariamente, um significado comum. Podemos relacioná-los de maneira artificial. Enquanto a anomia é um estado descrito por Durkheim nos estudos sobre a sociedade como ausência de normas sociais, autonomia e heteronomia aparecem em outro contexto.

Na ética, a partir de textos do filósofo iluminista Immanuel Kant, chamamos de autonomia a capacidade autorreguladora do indivíduo que não precisa de qualquer poder ou força externa a ele para se autorregular, pois ele já internalizou a norma moral e age conforme o dever e pelo dever.

Já o indivíduo heterônomo é aquele que não passou pelo processo moral de internalização da norma, precisando de qualquer tipo de poder externo a ele para agir conforme o dever, pois ele não tem a capacidade de agir pelo dever. Por exemplo: uma sociedade com indivíduos completamente autônomos não precisaria de vigilância, policiamento, punição, câmeras de segurança e radares de velocidade no trânsito, pois todos teriam internalizado a norma moral e agiriam conforme essa norma por ser o certo. No entanto, ainda vivemos em um estado de heteronomia e precisamos de policiamento, vigilância e punição, pois não agimos conforme o dever.

A anomia não é um processo inverso à heteronomia e à autonomia, mas um processo que se relaciona pela questão da normatização. Sociedades com maiores índices de heteronomia tendem a cair mais em situações de autonomia, pois o indivíduo heterônomo precisa do poder externo a ele e, quando este poder falha, ele caiu na anomia social.

Leia também: Sexismo — ideologia que perpetua a discriminação e a desigualdade entre os gêneros

Exercícios sobre anomia

Questão 1

(UFU 2008) Sobre os quadros de anomia social, considere a teoria sociológica de Émile Durkheim e marque a alternativa correta.

A) A anomia social não se relaciona à divisão social do trabalho, pois essa diz respeito, estritamente, às funções econômicas de produção, de riqueza e de comércio.

B) Situações de patologia social são raras nas sociedades de solidariedade orgânica, pois essas se assentam na semelhança de funções entre as partes que compõem o tecido social.

C) A ameaça de desintegração é particularmente presente nas sociedades mais complexas, pois essas se baseiam na diferenciação, o que potencializa o enfraquecimento dos valores.

D) A sociedade ocidental moderna encontra na religião tradicional sua principal fonte para as crenças comuns, sendo essas a prevenção eficaz à anomia social.

GABARITO: C. As sociedades modernas seguem um modelo de coesão que Durkheim chamou de solidariedade orgânica. A coesão é mais fraca nessas sociedades, o que facilita o processo de anomia social.

Questão 2

(UFU 2010) Segundo Durkheim, o crime é um fato social presente em toda sociedade. Para o autor, nem todo crime é anômico, mas apenas aquele que corresponde a uma crise de coesão social.

A partir do exposto acima, assinale a alternativa correta sobre o significado de anomia social em Durkheim.

A) Ocorre quando há, nas sociedades modernas, com seus intensos processos de mudança, uma situação em que o conjunto de regras, valores e procedimentos são reconhecidos por todos os indivíduos, levando ao desenvolvimento da sociedade.

B) Conceito que descreve os sentimentos de falta de objetivos e de desespero provocados pelo processo de mudanças do mundo moderno, os quais resultam na perda da influência das normas sociais sobre o comportamento individual.

C) Conceito que descreve a ocorrência, nas sociedades modernas, com seus intensos processos de mudança, de um estado de complementaridade e interdependência entre os indivíduos, o que leva a uma menor divisão do trabalho social e ao fortalecimento das instituições sociais.

D) Ocorre quando os sentimentos de falta de objetivos e de desespero provocados pelo processo de mudanças do mundo moderno resultam no fortalecimento da coesão social e da influência das normas sociais sobre o comportamento individual.

GABARITO: B. Para Durkheim, a anomia é uma ausência de normas claras resultante de uma perda de sentido da vida coletiva.

Fontes

DURKHEIM, Émile. O suicídio: estudo de sociologia. In: GIANNOTTI, José Arthur (selec.); MOURA, Carlos Alberto Ribeiro de; et al. (trad.). Os Pensadores. 2. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1983.

REGO, Martin Ramalho de Freitas Leão. A teoria da anomia social no estudo criminal: uma abordagem a partir das sociologias de Durkheim e Merton. Transgressões: ciências criminais em debate, v. 7, dez. 2019. Disponível em: <https://periodicos.ufrn.br/transgressoes/article/view/18807>. Acesso em: 29 ago. 2025.