O que é justiça
A justiça é um princípio fundamental que busca garantir a equidade, a ordem e o respeito aos direitos de todos, promovendo uma convivência harmoniosa e a proteção dos valores sociais. Tem como função principal estabelecer a ordem social, promovendo uma convivência pacífica e equilibrada que respeite os direitos individuais e coletivos.
Esse conceito abrange diversos tipos específicos de justiça: a ambiental protege recursos e populações vulneráveis; a restaurativa promove reconciliação entre vítima e infrator; a de transição busca reparar abusos em períodos pós-conflito; a digital assegura direitos no ambiente virtual; e a econômica visa reduzir desigualdades. Historicamente, as teorias sobre justiça variam, desde a harmonia social de Platão até a teoria da equidade de John Rawls; e, no Brasil, Miguel Reale propôs uma visão tridimensional que integra fato, valor e norma.
A justiça é essencial para uma sociedade civilizada, pois protege os direitos humanos e garante que todos vivam com dignidade. Seu símbolo é a figura de uma mulher vendada, com balança e espada, indicando imparcialidade, ponderação e força.
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Resumo sobre o que é justiça
- A função da justiça é estabelecer e manter a ordem social, promovendo uma convivência pacífica e equilibrada, baseada em equidade e respeito aos direitos individuais e coletivos.
- A justiça se manifesta em diferentes tipos, cada um voltado para áreas específicas:
- a ambiental protege recursos e populações vulneráveis;
- a restaurativa promove reconciliação entre vítima e infrator;
- a de transição busca reconciliação após períodos de abuso;
- a digital assegura direitos no ambiente virtual;
- e a econômica visa reduzir desigualdades sociais.
- As teorias da justiça variam historicamente, indo desde a harmonia social de Platão e a equidade de Aristóteles até a teoria da equidade de Rawls e a tridimensionalidade de Reale, sempre enfatizando a importância de uma aplicação que respeite o contexto social.
- O símbolo da justiça é representado por uma mulher vendada com uma balança e uma espada.
- A justiça no Brasil enfrenta desafios estruturais, como a desigualdade de acesso e a sobrecarga processual, mas busca promover inclusão e proteger os direitos fundamentais.
- Globalmente, a justiça é vista como essencial para a paz e a segurança, e é aplicada em tribunais internacionais, como o Tribunal Penal Internacional, promovendo limites a governantes e nações e protegendo os direitos humanos.
Qual a função da justiça?
A justiça desempenha a função essencial de estabelecer e manter a ordem social, promovendo uma convivência harmoniosa entre os indivíduos. Ela é a base para a criação e manutenção de instituições sociais, garantindo que as relações humanas se fundamentem em princípios de equidade e respeito mútuo.
No pensamento de Roberto Aguiar, a justiça é vista como uma virtude ativa, que se manifesta na prática social e em um compromisso com a realidade e as minorias oprimidas. Segundo o autor, a justiça busca ir além de uma simples aplicação mecânica de normas legais, pois é impulsionada pelo compromisso com uma visão social mais justa e inclusiva.
Aguiar ressalta que a justiça não pode ser desvinculada das circunstâncias históricas e das necessidades da sociedade; é um processo dinâmico em que os valores e princípios são constantemente revisados e adaptados às realidades de diferentes contextos sociais.
Tipos de justiça
- Justiça ambiental: surgiu como resposta às desigualdades na distribuição dos benefícios e dos prejuízos associados ao meio ambiente. Ela reconhece que as comunidades marginalizadas são frequentemente as mais afetadas pela degradação ambiental e pela poluição. Em termos práticos, a justiça ambiental visa garantir que todos os grupos sociais tenham acesso aos recursos naturais e sejam protegidos dos riscos ambientais. No contexto brasileiro, isso pode ser visto em lutas de comunidades indígenas e quilombolas para preservar seus territórios contra atividades de exploração que danificam o meio ambiente, como a mineração ilegal e o desmatamento. A justiça ambiental é, portanto, uma ferramenta que combate tanto a exploração econômica quanto a degradação ambiental, promovendo um desenvolvimento sustentável que respeite os direitos das populações vulneráveis.
- Justiça restaurativa: é uma abordagem voltada à reparação dos danos causados por atos ilícitos, visando restabelecer o equilíbrio social e restaurar a dignidade das vítimas. Ela promove o diálogo entre as partes envolvidas — vítimas, infratores e a comunidade — em busca de soluções que contribuam para a reconciliação. Essa modalidade tem se mostrado eficaz na ressocialização de jovens infratores, ajudando-os a reconhecer o impacto de suas ações e a assumir a responsabilidade pelos danos causados. Exemplos de justiça restaurativa incluem encontros mediadores entre as vítimas e os infratores, nos quais são discutidas formas de compensação e o infrator se compromete com a reparação do dano. No Brasil, essa abordagem tem ganhado espaço nos tribunais, especialmente em casos de menor potencial ofensivo, visando reduzir a reincidência e promover um processo mais humanizado de resolução de conflitos.
- Justiça de transição: atua em contextos pós-conflito ou pós-regime autoritário, com o objetivo de assegurar que abusos cometidos por governos passados sejam investigados e reparados. A transição democrática no Brasil, por exemplo, impulsionou o surgimento de comissões da verdade, que se dedicaram a apurar crimes cometidos durante o período da Ditadura Militar. A justiça de transição é fundamental para a construção de uma sociedade mais justa, pois não apenas pune os responsáveis como também permite a reconciliação nacional e fortalece a confiança nas instituições democráticas.
- Justiça digital: emergiu como uma forma de proteger os direitos individuais e coletivos no ambiente virtual. Ela abrange questões como crimes cibernéticos, privacidade de dados, e ética nas tecnologias de informação. No contexto brasileiro, a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) é um exemplo de justiça digital, regulamentando como os dados pessoais podem ser coletados, armazenados e utilizados, e assegurando direitos aos cidadãos quanto ao uso de suas informações pessoais.
- Justiça econômica: busca reduzir as desigualdades de riqueza e assegurar que todos os cidadãos tenham acesso a recursos e oportunidades econômicas justas. Ela defende a criação de políticas que promovam a equidade no trabalho, a distribuição de renda e a inclusão social. A justiça econômica é evidente em iniciativas como a criação de programas sociais, que visam melhorar as condições de vida das populações mais pobres. No Brasil, o programa Bolsa Família pode ser visto como um exemplo de justiça econômica, pois busca reduzir a desigualdade social ao oferecer apoio financeiro às famílias de baixa renda.
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Teorias sobre justiça
As teorias sobre justiça variam de acordo com a visão de mundo e o contexto histórico dos pensadores que as desenvolveram.
- Platão e Aristóteles: Ambos os filósofos clássicos consideravam a justiça como uma virtude política essencial para a vida em sociedade. Para Platão, a justiça era a harmonia entre as diferentes partes da alma e da sociedade. Aristóteles, por sua vez, via a justiça como uma virtude que orienta as ações humanas para o bem comum, dividindo-a em distributiva e corretiva.
- John Rawls: No século XX, John Rawls desenvolveu a teoria da justiça como equidade, que se baseia no princípio de que todos os indivíduos devem ter igualdade de oportunidade e acesso a recursos. Sua obra influenciou profundamente a compreensão contemporânea de justiça, especialmente ao propor o “véu de ignorância”, um experimento mental em que as pessoas escolhem princípios de justiça sem conhecer suas próprias posições sociais.
- Miguel Reale: No contexto brasileiro, Reale desenvolveu a teoria tridimensional do direito, que afirma que a justiça é resultado da interação entre fato, valor e norma. Ele argumenta que o direito não pode ser reduzido a uma simples aplicação de regras, mas deve considerar o contexto social e cultural em que se insere, para que seja realmente justo.
Importância da justiça
A justiça é um princípio fundamental para qualquer sociedade organizada, pois ela estabelece as bases para a coexistência pacífica e ordenada. Sem justiça, as relações sociais se tornam desiguais e conflituosas, levando à opressão e ao desrespeito aos direitos humanos. Aguiar afirma que a justiça, ao promover o respeito aos direitos individuais e coletivos, é um instrumento de transformação social, capaz de reduzir as desigualdades e promover a inclusão dos mais vulneráveis.
Além disso, a justiça é essencial para o fortalecimento das instituições democráticas, pois legitima a autoridade do Estado e assegura que os governantes atuem em benefício do bem comum. Em uma sociedade justa, todos os cidadãos têm a garantia de que seus direitos serão respeitados, independentemente de sua condição social, econômica ou política.
Qual o símbolo da justiça?
O símbolo da justiça, tradicionalmente representado pela figura de uma mulher com os olhos vendados, segurando uma balança e uma espada, traz uma rica simbologia. A venda simboliza a imparcialidade, indicando que a justiça deve ser aplicada sem favoritismos. A balança representa o equilíbrio e a ponderação das provas e dos argumentos, enquanto a espada simboliza a força e a capacidade de executar as decisões justas. Esse símbolo é universal e transmite os ideais de equidade e integridade, que regem a justiça em diferentes culturas.
Justiça no Brasil
No Brasil, o sistema de justiça enfrenta desafios como a desigualdade no acesso, a lentidão processual e a sobrecarga de processos. Para Roberto Aguiar, a justiça brasileira deve ir além da simples aplicação da lei, buscando formas de tornar o sistema mais inclusivo e acessível, especialmente para as populações marginalizadas.
Um exemplo desse desafio é a justiça trabalhista, que busca proteger os direitos dos trabalhadores, mas enfrenta dificuldades em garantir o cumprimento efetivo de suas decisões, especialmente em áreas de menor acesso à informação e à assistência jurídica.
Além disso, a justiça brasileira tem papel fundamental na defesa dos direitos humanos, especialmente em casos de violência policial e violações de direitos em comunidades vulneráveis. Aguiar argumenta que é essencial promover uma educação em direitos humanos aos agentes do sistema de justiça, para que possam atuar com maior sensibilidade social e comprometimento com os princípios de equidade e inclusão.
Justiça no mundo
A justiça é um conceito universal, reconhecido como essencial para a paz e a segurança global. A criação do Tribunal Penal Internacional e o julgamento de crimes de guerra em tribunais como o de Nuremberg exemplificam a busca por uma justiça que transcenda as fronteiras nacionais e imponha limites às ações de governantes e instituições que desrespeitam os direitos humanos.
Além disso, organismos como as Nações Unidas desempenham papel fundamental na promoção da justiça internacional, assegurando que os países respeitem acordos e resoluções que protegem a paz e os direitos humanos. A justiça internacional, contudo, enfrenta desafios, especialmente em contextos nos quais há resistências políticas e culturais à interferência externa.
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História da justiça
A história da justiça remonta às primeiras civilizações, nas quais as leis eram frequentemente associadas a princípios religiosos e consagradas como normas de conduta. Desde o Código de Hamurabi na Babilônia, que estabelecia regras rigorosas para a sociedade, até o desenvolvimento das democracias modernas, a justiça sempre foi um ideal central.
Júlio César Tadeu Barbosa observa que, ao longo dos séculos, a justiça evoluiu de um conceito baseado em princípios morais e religiosos para uma construção jurídica complexa, que busca garantir o bem-estar social e a proteção dos direitos humanos.
Exercícios resolvidos sobre o que é justiça
1. No contexto atual, a justiça se apresenta de forma multifacetada, atuando em diversas áreas da sociedade para promover a equidade, os direitos humanos e o bem-estar coletivo.
A justiça restaurativa se diferencia da justiça tradicional por buscar soluções que não se baseiam exclusivamente na punição, mas também na reparação do dano e na reconciliação entre as partes. Qual dos seguintes aspectos é característico da justiça restaurativa?
a) A punição severa do infrator, visando à retribuição pela transgressão cometida.
b) O foco na reabilitação do infrator por meio de penas privativas de liberdade.
c) A resolução do conflito por meio de diálogos entre as partes envolvidas, promovendo a reconciliação.
d) A aplicação de penas financeiras para compensar a vítima pelo dano causado.
e) A imposição de sentenças baseadas unicamente em normas legais, sem considerar o contexto social.
Resposta correta: c)
A justiça restaurativa tem como principal característica o foco na restauração das relações danificadas, promovendo o diálogo entre as partes envolvidas — vítima, infrator e comunidade — e buscando a reparação do dano de maneira mais humanizada e reconciliatória, em vez de simplesmente punir o infrator como ocorre na justiça tradicional. A ênfase está na reconstrução social e na reintegração do infrator à sociedade.
2. Ao longo da história, a justiça foi sendo construída de diferentes maneiras, refletindo os valores e as necessidades das sociedades em cada período. Considerando as diferentes abordagens de justiça, como a justiça distributiva, de John Rawls, qual seria a principal característica dessa teoria, aplicada em sociedades que buscam promover a equidade entre seus cidadãos?
a) A promoção da igualdade absoluta entre todos os indivíduos, sem considerar as desigualdades naturais.
b) A aplicação de uma distribuição de bens e direitos baseada apenas no mérito individual.
c) A criação de um sistema jurídico que privilegia as classes mais altas da sociedade.
d) A garantia de que as desigualdades sociais sejam estruturadas para beneficiar os menos favorecidos.
e) A adoção de uma abordagem punitiva voltada para retribuir os danos causados pelos infratores.
Resposta correta: d)
A teoria da justiça distributiva de John Rawls propõe que as desigualdades sociais são aceitáveis apenas se beneficiarem os membros mais desfavorecidos da sociedade, garantindo, assim, oportunidades equitativas para todos. O princípio da justiça como equidade defende que as estruturas sociais e econômicas devem ser organizadas de maneira que as vantagens adquiridas pela classe mais alta também possam contribuir para a melhoria das condições dos mais pobres, garantindo uma justiça mais igualitária.
Fontes
REALE, Miguel. Lições Preliminares de Direito. 27. ed. São Paulo: Saraiva, 2002.
BARBOSA, Júlio César Tadeu. O que é justiça. Brasiliense, 2000
AGUIAR, Roberto Armando Ramos de. O que é Justiça: uma abordagem dialética. Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2020. 320 p. (Edições do Senado Federal; v. 279).