Wu Lien-teh
Wu Lien-teh foi um médico sino-malaio que ganhou renome internacional por sua atuação na crise epidêmica de peste pneumônica que atingiu a Manchúria, na China, entre os anos de 1910 e 1911. Ele foi responsável por criar um modelo de máscara que deu origem ao modelo PFF-2, um dos mais seguros da atualidade.
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Primeiros anos
Wu Lien-teh nasceu em Penang, na Malásia, no dia 10 de março de 1879. Sabe-se muito pouco sobre a origem familiar de Wu Lien-teh, mas sabe-se que seu nome de nascimento era Ngoh Lean Tuck, nome que ele mudou, em 1908, quando já residia na China. Seu pai era um chinês que emigrou para a Malásia, e sua mãe era malaia descendente de chineses.
Wu Lien-teh contava com mais quatro irmãos e seis irmãs em sua família. Sua educação básica aconteceu integralmente na Malásia, estudando em colégios de sua cidade natal. Em 1896, Wu Lien-teh ingressou no curso de Medicina para estudar no Emmanuel College, em Cambridge, na Inglaterra.
Lá, Wu Lien-teh foi um dos melhores alunos da turma e foi o primeiro sino-malaio a se graduar nesse curso. Depois disso, ele seguiu os estudos na área de microbiologia, passando por locais renomados na Europa, como o Instituto Pasteur, em Paris. Ainda, ele fez uma pós-graduação em Liverpool, na Inglaterra.
Em 1903, ele retornou à Malásia, ingressando nos círculos da alta sociedade local. Em sua terra natal, ele recebeu convite para dar aulas em Cingapura, além de ter participado da edição de uma revista local e ingressado no Instituto de Pesquisa Médica em Kuala Lumpur (atual capital da Malásia). Wu Lien-teh também ingressou numa campanha contra o comércio de ópio.
Carreira na China
Em 1907, Wu Lien-teh recebeu um convite para mudar-se para a China, a fim de trabalhar. Ele se mudou para a China com sua esposa, Ruth Shu-chiung Huang, estabelecendo-se em Tianjin e sendo nomeado para o cargo de vice-diretor do Colégio Médico do Exército Imperial. Wu Lien-teh passou muitos anos de sua vida na China, encontrando desafios em sua carreria.
O maior deles começou a despontar nos meses finais de 1910. A partir do outono (no Hemisfério Norte), um surto epidêmico começou a se espalhar pela Manchúria, especialmente na cidade de Harbin. Os infectados morriam poucos dias após manifestar sintomas da doença, e o número de mortos chegou ao total de 100 pessoas por dia.
Wu Lien-teh foi nomeado para ir a Harbin averiguar a situação a fim de controlar a doença que afetava a região. Chegando lá, ele encontrou um cenário caótico e identificou a doença depois de realizar uma autópsia no cadáver de uma japonesa que tinha morrido na região. Wu Lien-teh identificou a bactéria Yersinia pestis, determinando que havia uma epidemia de peste pneumônica.
Perante a situação da cidade de Harbin e a doença, o médico não pensou duas vezes e aconselhou o governo chinês a tomar medidas drásticas para conter a situação. Ele orientou o governo a limitar o deslocamento de pessoas, desinfetar as casas, hospitalizar os doentes, e sugeriu que as pessoas usassem uma máscara para se proteger.
A máscara indicada por Wu Lien-teh foi fabricada por ele mesmo. Ela era feita de algodão e gazes que formavam várias camadas, atuando como filtro. A existência desses filtros garantia que as pessoas não seriam contaminadas ao inalarem oxigênio. Essa medida se explica pelo fato de que a peste pneumônica é transmitida por via respiratória.
Outra medida que Wu Lien-teh sugeriu ao governo chinês foi a cremação dos cadáveres que ainda não tinham sido enterrados. No total, havia cerca de dois mil corpos para serem enterrados porque a região estava no meio do inverno e as baixas temperaturas tinham congelado o solo, tornando impossível essa tarefa.
Para piorar, a cultura chinesa considerava um ato de sacrilégio a cremação. Apesar disso, o risco que esses cadáveres representavam era tão grande que o governo chinês autorizou sua cremação, e, no dia 31 de janeiro de 1911, o primeiro ato desse tipo em massa aconteceu na China.
As medidas propostas por Wu Lien-teh deram resultado, e logo os casos da doença começaram a diminuir na região. No dia 1º de março de 1911, registrou-se o último caso de peste pneumônica na região. Ao todo, a peste que atingiu a Manchúria se estendeu por sete meses, causando um total de 60 mil mortes.
Além de ter contido a epidemia em cerca de quatro meses (ele assumiu a situação no começo de dezembro), Wu Lien-teh também deixou uma contribuição bastante significativa. A máscara que ele criou à base de algodão e gazes foi revolucionária e é considerada um modelo precursor da PFF-2, uma das máscaras mais seguras atualmente.
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Outros feitos
Depois da epidemia de peste pneumônica, Wu Lien-teh permaneceu na China realizando outros trabalhos importantes no campo da medicina. Ele indicou a necessidade de convocar uma conferência internacional para informar a todos as descobertas importantes realizadas durante o combate da peste. Essa conferência ocorreu em 1911.
Wu Lien-teh atuou diretamente na formulação de um sistema de saúde público na China a fim de evitar que novas epidemias como essa acontecessem. Wu Lien-teh foi indicado para assumir a direção do Serviço de Proteção no Norte da Manchúria e também foi presidente da Associação Médica Nacional durante os anos de 1916 a 1920.
No começo da década de 1930, Wu Lien-teh ainda atuava diretamente em instituições governamentais que faziam a monitoração para impedir que novas epidemias surgissem na China. A situação política da China nessa década acabou prejudicando a carreira do sanitarista sino-malaio.
O início da Segunda Guerra Sino-Japonesa forçou Wu Lien-teh a retornar para sua terra natal, a Malásia. Antes disso, ele tinha sido indicado para concorrer ao Nobel de Fisiologia ou Medicina em 1935, sendo o primeiro malaio a conquistar uma indicação ao prêmio, o qual, no entanto, ele não ganhou.
Wu Lien-teh dedicou os últimos anos de sua vida ao conhecimento científico. Seu falecimento aconteceu em Penang, no dia 21 de janeiro de 1960, por conta de um derrame cerebral.
Créditos da imagem:
[1] Commons