Imigração de venezuelanos no Brasil
A imigração venezuelana no Brasil foi motivada pelo cenário de crise vivido na Venezuela, que enfrenta um caos político, econômico e institucional. O país vive instabilidades no governo desde 2013. A falta de emprego e de recursos básicos para a sobrevivência resultou em uma situação de miséria, fome, agravamento de doenças e violência. Por causa disso, milhares de venezuelanos começaram a migrar para outras regiões à procura de melhores condições de vida e oportunidades de emprego. Um dos principais destinos escolhidos pelos imigrantes foi o Brasil.
Resumo
O caos político, econômico e humanitário vivido na Venezuela tem sido noticiado em jornais do mundo todo. Atualmente, o país, governado por Nicolás Maduro, enfrenta uma forte insatisfação por parte da população, que o considera autoritário e acredita que sua gestão colaborou para que o país estivesse em um cenário de miséria e falta de empregos. Em razão dessa triste realidade, milhares de venezuelanos migraram para outras regiões à procura de melhor qualidade de vida e oportunidades de trabalho.
Atualmente, o fluxo migratório de venezuelanos é o maior no Brasil. Por causa desse intenso fluxo migratório, problemas começaram a surgir em território nacional, visto que a maioria dos venezuelanos fixou-se em um único estado, Roraima.
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Causas da imigração venezuelana no Brasil
Nicolás Maduro, atual presidente da Venezuela, foi eleito em 2013 após o falecimento de Hugo Chávez, que era o presidente da Venezuela. Maduro tentou manter a mesma política praticada no governo anterior, porém o cenário herdado apontava para graves problemas, como a alta do preço do barril de petróleo, a inflação acima de 800% ao ano, elevação dos preços dos recursos básicos e a falta deles no mercado. Toda essa conjuntura provocou o colapso socioeconômico do país. A saída dos venezuelanos foi migrar para outros países em busca de condições mínimas para sobreviver.
Nicolás Maduro, presidente da Venezuela, enfrenta grande oposição ao seu governo*
Consequências
O Instituto de Migrações e Direitos Humanos define migrante como “toda pessoa que se transfere do seu lugar habitual, residência ou local de nascimento para outro local, região ou país.” Os venezuelanos adentram o território brasileiro pelo estado de Roraima, mais especificamente pela cidade de Pacaraima, que faz fronteira terrestre com a Venezuela.
Pacaraima, cidade roraimense que faz fronteira com a Venezuela, tem recebido intenso fluxo migratório.*
O intenso fluxo migratório de venezuelanos para o Brasil afetou principalmente o estado de Roraima, por ser o local de maior acessibilidade e também porque nele se concentrou a maior parte dos imigrantes que entraram no território brasileiro. Há uma sobrecarga nos serviços públicos do estado, que não consegue sozinho atender a essa nova demanda.
Apesar de não haver dados concretos sobre o número de venezuelanos em Roraima, é certo que o estado enfrenta diversas dificuldades para abrigar todo esse contingente populacional que ali se concentrou. Uma pequena porcentagem dos venezuelanos está nos abrigos disponíveis, e o restante encontra-se marginalizado em praças.
Em virtude da falta de políticas públicas que acolham essa massa migratória para inseri-la no mercado de trabalho, fornecer educação e saúde, entre outras necessidades básicas, boa parte dos venezuelanos que se encontram em Roraima lotou semáforos para pedir esmola ou vender alimentos, improvisando barracas, prostituindo-se e até mesmo praticando crimes.
O fato é que a prefeitura carece de apoio do Governo Federal. A ajuda ao estado roraimense vem principalmente de instâncias municipais e estaduais. O governo brasileiro fez um repasse de 480 mil reais em agosto de 2017, contudo, o valor foi insuficiente para atender a demanda. Segundo a coordenadora do Programa de Política Externa da Conectas Direitos Humanos, Camila Asano (para ler a matéria completa, clique aqui), o Governo Federal tardou em assumir as responsabilidades dos reflexos provocados pela entrada e concentração dos venezuelanos em Roraima.
Por que o Brasil apresenta dificuldades no recebimento dos imigrantes?
O fluxo migratório venezuelano atualmente é o maior no Brasil, e é nítido que o país apresenta dificuldades no recebimento desses imigrantes. Os brasileiros classificam esse cenário como uma “crise migratória”, porém é válido ressaltar que os venezuelanos fogem de uma crise no próprio país. Portanto, é a falta de políticas públicas capazes de inserir esses imigrantes na educação, no mercado de trabalho e na saúde pública que gera a sensação de crise no Brasil.
Apesar de Roraima não possuir condições de abrigar esses imigrantes, o número de venezuelanos não sobrepassa a capacidade do Brasil de absorvê-los, visto que em relação a outros países, como Estados Unidos e Canadá, o território brasileiro apresenta um número de imigrantes abaixo da sua capacidade. Apenas 1% da população brasileira é composta por imigrantes. No mundo, a média é de 3%. O problema é a atual concentração de venezuelanos em apenas um estado.
É necessário que o Brasil supere seus desafios e busque soluções por meio de uma interiorização que possa distribuir os venezuelanos para outros centros urbanos do país que ofereçam maiores oportunidades de inserção.
Imigração venezuelana e a xenofobia
A inoperância do Brasil acerca do recebimento dos imigrantes tem resultado em impactos sociais. Os imigrantes estão vulneráveis e imersos em uma realidade de miséria, fome e agravamento de doenças. Essa marginalização provoca o aumento de situações conflituosas, visto que há episódios de roubos/furtos de alimentos, ocorrência de prostituição, entre outras situações, o que acaba distanciando brasileiros e venezuelanos.
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A caracterização de “crise migratória” no Brasil faz com que os brasileiros associem à vinda dos imigrantes a uma espécie de invasão. Alguns casos de violência já foram registrados em Roraima, mas não apenas por parte dos venezuelanos. Centenas de imigrantes já foram forçados a voltar ao seu país de origem por pressão dos brasileiros.
Isso constata que já existe um quadro de xenofobia (aversão ou discriminação ao estrangeiro). O homem desloca-se desde os primórdios da humanidade e continuará deslocando-se enquanto houver motivação e necessidade para isso. Cabe a nós superar as dificuldades e promover políticas de integração a fim de amenizar a vulnerabilidade dessas pessoas que buscam refúgio.
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*Créditos das imagens: Marcos Salgado / Shutterstock