Machismo
O machismo é um sistema de representações simbólicas que perpetua a dominação masculina e a submissão feminina, moldando identidades de gênero desde a infância. Ele se manifesta em diversas esferas da sociedade, como no ambiente doméstico, onde as mulheres são sobrecarregadas com responsabilidades, e no mercado de trabalho, onde enfrentam barreiras à liderança e desigualdade salarial. Essa estrutura ideológica é sustentada por normas culturais e institucionais que naturalizam a hierarquia de gênero, tornando o machismo uma parte invisível, mas poderosa, da sociedade. Além disso, suas manifestações variam desde o machismo estrutural, que opera nas instituições sociais e políticas, até o micromachismo, presente em atitudes cotidianas aparentemente inofensivas que reforçam estereótipos de gênero.
As causas do machismo são complexas, enraizadas em processos históricos e culturais que moldaram as relações de poder entre os sexos. Ele também afeta negativamente os homens ao impor papéis rígidos de masculinidade que reprimem emoções e criam pressões sociais. Apesar de ser frequentemente associado a benefícios para os homens em sociedades patriarcais, como maior liberdade social e controle sobre decisões familiares, o machismo limita tanto homens quanto mulheres. Historicamente, ele evoluiu desde sistemas patriarcais antigos até formas mais sutis nas sociedades contemporâneas, sendo combatido por movimentos feministas que buscam igualdade de gênero. No entanto, o machismo é persistente e ainda gera desigualdades significativas.
Leia também: Violência contra a mulher — problema social que é uma das consequências do machismo
Resumo sobre o machismo
- O machismo é um sistema ideológico que reforça a dominação masculina e a submissão feminina, moldando identidades de gênero e perpetuando desigualdades desde a infância.
- Está presente em instituições como trabalho, família e educação.
- Reforça normas que limitam o potencial feminino e justificam a dominação masculina.
- Existem dois tipos principais de machismo: o machismo estrutural e o micromachismo.
- O machismo estrutural refere-se às desigualdades enraizadas em normas, leis e práticas institucionais que privilegiam os homens e tornam a desigualdade sistêmica.
- O micromachismo refere-se a atitudes cotidianas sutis que desvalorizam as mulheres, muitas vezes consideradas normais, como comentários ou comportamentos que reforçam estereótipos de gênero.
- O machismo é causado por estruturas históricas, sociais e culturais, mas é perpetuado por normas patriarcais transmitidas desde a infância por meio de instituições como família e escola.
- As mulheres podem se tornar machistas ao internalizar normas patriarcais e perpetuar valores que reforçam a submissão feminina, muitas vezes sem perceber.
- Movimentos feministas têm combatido as práticas culturais e institucionais que sustentam o machismo, promovendo maior igualdade de gênero na sociedade atual.
O que é machismo?
O machismo é um sistema de representações simbólicas que perpetua a dominação masculina e a submissão feminina, moldando identidades de gênero desde a infância. Desde a infância, meninos e meninas são inseridos em relações que moldam suas consciências, promovendo um sentimento de superioridade nos garotos por serem homens e de inferioridade nas meninas por serem mulheres. Exemplos disso incluem a orientação das meninas para atividades que não geram renda, enquanto os meninos são incentivados a buscar profissionalização. O machismo, assim, em seu efeito mistificador, manifesta-se como um ideal a ser alcançado pelos homens e admirado ou invejado pelas mulheres, perpetuando uma hierarquia de gênero onde o masculino é dominante e o feminino é submisso.
Na sociedade, o machismo se articula através de diversas instituições que reforçam normas e práticas hegemônicas. Ele se manifesta em discursos institucionais que ocultam a realidade das relações de poder entre os sexos. Por exemplo, no ambiente de trabalho, as mulheres frequentemente enfrentam barreiras para alcançar posições de liderança ou são subvalorizadas em comparação aos homens. No âmbito doméstico, espera-se que as mulheres assumam a maior parte das responsabilidades do lar e do cuidado com os filhos, mesmo quando também trabalham fora. Essas práticas são sustentadas por uma estrutura simbólica que justifica a dominação masculina e perpetua estigmas que limitam o potencial das mulheres na sociedade.
Quais os tipos de machismo?
A análise dos tipos de machismo requer uma compreensão das suas raízes sociais, históricas e econômicas, bem como dos mecanismos institucionais que o mantêm. Existem dois tipos principais de machismo: o machismo estrutural e o micromachismo.
→ Machismo estrutural
O machismo estrutural refere-se a um sistema de representação e dominação profundamente enraizado nas estruturas sociais, culturais, políticas e econômicas, que perpetua a desigualdade de gênero de maneira sistêmica e institucionalizada. Diferente de manifestações individuais de machismo, que podem ser observadas em comportamentos ou atitudes pessoais, o machismo estrutural está embutido nas normas, leis e práticas das instituições, moldando as relações sociais de forma a privilegiar o masculino em detrimento do feminino.
O machismo estrutural se manifesta através de políticas públicas, hábitos perpetuados no ambiente de trabalho e até mesmo no sistema educacional, onde as mulheres frequentemente enfrentam barreiras que limitam suas oportunidades e participação plena na sociedade. Essa forma de machismo é mais insidiosa porque opera silenciosamente através das normas culturais aceitas, tornando-se parte do "normal" na sociedade e, portanto, mais difícil de identificar e combater.
→ Micromachismo ou machismo cotidiano
O micromachismo refere-se a atitudes cotidianas sutis que desvalorizam as mulheres, muitas vezes consideradas normais, como comentários ou comportamentos que reforçam estereótipos de gênero. As situações de micromachismo, ainda que frequentes, muitas vezes passam despercebidas por estarem culturalmente enraizadas. O micromachismo é um machismo sutil, interiorizado em nós, e que às vezes escapa e se revela por meio de pensamentos e atos do cotidiano – uma armadilha mesmo para aqueles que se consideram progressistas, livres de preconceito e a favor da igualdade de gêneros.
Apesar de parecer diminuir o fenômeno, o termo “micromachismo” diz respeito a pequenas tiranias contra as mulheres, um terrorismo íntimo que elas experimentam diariamente. O sociólogo francês Pierre Bourdieu descreveu o mesmo fenômeno como “neomachismo”. Em 2020, a proposta de redação do Vestibular Unicamp ofereceu uma lista baseada em exemplos que demonstram micromachismos |1|:
- Achei necessário explicar algo a uma mulher sem que ela me pedisse, pelo simples fato de ser mulher.
- Comentei com um amigo que ficou cuidando dos filhos: “Hoje te deixaram de babá.”
- Perguntei a uma mulher se ela estava “naqueles dias” quando me respondeu com indiferença ou desprezo.
- Disse que “ajudo” nas tarefas do lar, subentendendo que esse é um trabalho da mulher em que eu estou ajudando, e não participando em condições de igualdade.
- Em meu trabalho ou entre amigos, só chamo os homens para jogar futebol, pressupondo que as mulheres não querem jogar.
- Perguntei a uma mulher quando vai ter filhos, mas nunca perguntei o mesmo a um homem.
- Pago todos os meus jantares com mulheres acreditando que é o que se espera de mim.
- Descrevi uma mulher como “pouco feminina”.
- Usei a palavra “provocante” para descrever a roupa de uma mulher.
- Comentei que “essas não são formas para uma moça falar.”
- Na televisão, aprecio homens ácidos e divertidos e mulheres bonitas.
- Fiz o comentário “Ela é uma mulher forte”, subentendendo que as mulheres, em geral, são fracas.
- Deixo meu filho adolescente ficar na rua até as 3 da madrugada, mas obrigo minha filha a voltar antes da meia noite.
Existem muitos outros exemplos de atitudes e comentários preconceituosos em relação à mulher, geralmente dissimulados ou sutis, como os da lista anterior. Eles provam que ainda não entendemos o que é o feminismo e quanto ainda precisamos mudar para que as mulheres vivam em paz, livres da violência branda dos micromachismos.
Veja também: Quais são os impactos da desigualdade de gênero?
Causas do machismo
As causas do machismo são complexas e multifacetadas, enraizadas em sistemas de representação e dominação que se desenvolvem ao longo da história. O machismo é sustentado por uma estrutura ideológica que molda identidades de gênero e perpetua a desigualdade entre homens e mulheres. Desde a infância, meninos e meninas são socializados em um ambiente que reforça a superioridade masculina e a inferioridade feminina, criando expectativas diferentes para cada gênero. Por exemplo, as meninas são frequentemente direcionadas para atividades que não geram renda, enquanto os meninos são incentivados a buscar profissionalização. Essa socialização inicial é um dos pilares que sustentam o machismo, pois estabelece normas de comportamento e papéis de gênero que são aceitos e reproduzidos ao longo da vida.
Além disso, o machismo está intrinsecamente ligado às estruturas de poder nas instituições sociais, políticas e econômicas. Instituições como a família, a escola e o mercado de trabalho operam como centros de poder que reforçam normas patriarcais e ideias machistas. Essas instituições não apenas mantêm normas explícitas, mas também normas implícitas que muitas vezes são mais influentes, pois ditam as "regras do jogo" do poder institucional. O discurso institucional muitas vezes oculta a realidade das relações de poder entre os sexos, perpetuando um sistema onde o masculino é dominante. Essa dominação é reforçada por mecanismos simbólicos que naturalizam a hierarquia de gênero, tornando o machismo uma parte invisível, mas poderosa, da estrutura social.
Do ponto de vista psicológico, o machismo pode ser causado por uma reação compensatória a um complexo de inferioridade. Esse complexo se origina em práticas de criação infantil que promovem sentimentos de inferioridade, especialmente em meninos que são socializados para se conformar com normas rígidas de masculinidade. A falta de afeto paterno e a ênfase no respeito e temor ao pai são identificadas como fatores que contribuem para o desenvolvimento desse complexo de inferioridade. Assim, o machismo seria uma forma de compensação para superar esses sentimentos de inferioridade, manifestando-se através da agressividade e da exaltação das características masculinas.
Por outro lado, o machismo é também visto como um fenômeno psicocultural, onde traços como a heterossexualidade e a agressão são exagerados para afirmar a superioridade masculina. Esse comportamento é reforçado por normas culturais que valorizam a masculinidade agressiva e desdenham características associadas ao feminino. A estrutura ideológica do machismo cria modelos de identidade que são aceitos e reproduzidos socialmente, perpetuando relações de dominação e sujeição entre os gêneros. Portanto, enquanto algumas teorias psicológicas sugerem que o machismo pode ter raízes em complexos individuais, ele também é amplamente reconhecido como um sistema culturalmente enraizado que vai além das causas psicológicas individuais.
Quais as formas de machismo?
As formas de machismo que se manifestam hoje em dia são diversas e abrangem desde comportamentos individuais até estruturas institucionais. Uma das formas mais visíveis é o machismo cultural, que reforça estereótipos de gênero e papéis tradicionais, como a ideia de que as mulheres devem ser responsáveis pelo cuidado do lar e dos filhos, enquanto os homens devem ser os provedores financeiros. Essa forma de machismo se manifesta em normas sociais, na mídia e em discursos que perpetuam a desigualdade de gênero.
Outra forma importante é o machismo estrutural, que opera dentro das instituições sociais, políticas e econômicas. Ele se manifesta, por exemplo, na disparidade salarial entre homens e mulheres, na sub-representação feminina em posições de liderança e no tratamento desigual no mercado de trabalho.
Além disso, há o machismo simbólico, que utiliza representações culturais para naturalizar a superioridade masculina, como a erotização da submissão feminina ou a glorificação da masculinidade agressiva.
Essas formas de machismo interagem entre si, criando um sistema que perpetua a desigualdade de gênero em diferentes níveis da sociedade.
Mulheres podem ser machistas?
Sim, as mulheres podem ser machistas. O machismo é um sistema de representações simbólicas que não apenas define identidades masculinas, mas também femininas, e é aceito por todos na sociedade, independentemente do gênero. Isso significa que as mulheres podem internalizar e reproduzir normas e valores machistas, muitas vezes sem perceber, ao mesmo tempo que são afetadas por esses mesmos valores. Elas podem, por exemplo, apoiar ou perpetuar ideias que reforçam a superioridade masculina e a submissão feminina, como acreditar que homens são naturalmente líderes ou que as mulheres devem priorizar o papel de cuidadoras no ambiente doméstico.
Além disso, o machismo pode se manifestar nas mulheres através do fenômeno conhecido como hembrismo, que é a aceitação exagerada da submissão feminina e a dependência dos homens. Essa forma de machismo feminino pode incluir a aceitação de papéis tradicionais de gênero e a resistência à mudança desses papéis. As mulheres podem também participar na manutenção das normas patriarcais ao educar seus filhos dentro desses mesmos padrões, perpetuando assim o ciclo de dominação masculina.
Como o machismo afeta os homens?
O machismo afeta os homens de várias maneiras. O machismo pode trazer benefícios aparentes para os homens, especialmente no contexto de sociedades patriarcais, ao reforçar sua posição de poder e privilégio em diversas esferas da vida. Primeiramente, o machismo confere aos homens maior liberdade sexual e social, enquanto as mulheres são submetidas a normas mais restritivas. Por exemplo, em algumas culturas, é socialmente aceito que homens tenham múltiplos relacionamentos extraconjugais sem grandes repercussões sociais ou morais, enquanto as mulheres são julgadas severamente por comportamentos semelhantes. Além disso, o machismo pode garantir aos homens maior prestígio social ao desempenharem papéis de provedores e líderes familiares, o que é frequentemente associado à ideia de masculinidade bem-sucedida.
Outro aspecto positivo aparente do machismo para os homens é o controle sobre as relações de poder dentro da família e da sociedade. O sistema machista permite que os homens exerçam autoridade sobre decisões importantes e mantenham uma posição de dominância nas esferas pública e privada. Esse controle pode gerar um senso de segurança e superioridade, reforçando a autoestima masculina dentro da sociedade patriarcal.
No entanto, é crucial notar que esses "benefícios" vêm às custas da perpetuação da desigualdade de gênero e podem também limitar os próprios homens ao aprisioná-los em papéis rígidos e expectativas sociais que restringem sua liberdade emocional e relacional, o que, muitas vezes, afeta os homens de forma negativa. Para corresponder às normas rígidas de comportamento e identidade que os homens criam, eles são frequentemente pressionados a seguir modelos de masculinidade que valorizam a agressividade, a dominância e a independência, enquanto desvalorizam características como a vulnerabilidade e a empatia. Isso pode levar a um ciclo de repressão emocional, onde os homens sentem que não podem expressar fraquezas ou pedir ajuda, resultando em problemas de saúde mental e dificuldades em estabelecer relacionamentos íntimos saudáveis.
Além disso, o machismo cria uma expectativa de que os homens devem ser os principais provedores financeiros e protetores da família, o que pode gerar estresse e ansiedade significativos. Essa pressão para cumprir papéis tradicionais de gênero também pode limitar as escolhas profissionais dos homens e desencorajar aqueles que desejam seguir carreiras ou interesses considerados "não masculinos". Em contextos sociais, o machismo pode resultar em comportamentos competitivos ou violentos entre homens, na tentativa de afirmar sua masculinidade.
Sociedade patriarcal
A sociedade patriarcal é fundada na autoridade do pai de famílias, que é institucionalizada dentro das famílias introduzidas em toda organização social. Historicamente, a origem da sociedade patriarcal é o modelo de família romana, adotado seja pela sociedade cristã, seja pela árabe-muçulmana, em que o pai todo-poderoso possui poder de vida e morte sobre a mulher e os filhos. Até meados do século passado, era o modelo tradicional vigente praticamente no mundo todo. No entanto, a imagem do pai, um homem severo mas justo, representante da lei e da autoridade, que impunha respeito perante a mulher e os filhos, se esvaeceu, reduzindo-se à existência de um chefe autoritário.
Em pleno século XXI, parece difícil negar a crise vivida pela sociedade patriarcal, pelo menos nas sociedades ocidentais. No mundo corporativo e, em menor grau, na política, o poder não é mais exclusividade dos homens. A desintegração do patriarcado se explica por diversos fatores. Primeiro, o aumento da escolarização feminina e a entrada massiva das mulheres no mercado de trabalho. Segundo, os métodos de contracepção que permitiram a liberação sexual feminina. Terceiro, a intensa onda de movimentos sociais culturais liderados pelo feminismo e pelas reivindicações LGBTQIAPN+. E todos esses fatores estão conectados por uma sociedade em rede, na qual as estruturas piramidais e hierárquicas, entre elas a sociedade patriarcal, tendem a desaparecer.
Diferenças entre machismo, sexismo e misoginia
Machismo, sexismo e misoginia são conceitos relacionados, mas apresentam diferenças importantes em suas definições e manifestações.
- Machismo: é um sistema de representações simbólicas que reforça a superioridade masculina e a submissão feminina, sendo culturalmente enraizado e aceito por homens e mulheres. Ele se manifesta como um ideal de masculinidade que valoriza características como agressividade, coragem e domínio, enquanto relega as mulheres a papéis subalternos ou domésticos. O machismo opera como uma estrutura ideológica que organiza as relações de poder entre os sexos, influenciando comportamentos, normas sociais e instituições.
- Sexismo: é um preconceito ou discriminação baseado no sexo ou gênero de uma pessoa. Ele pode ser direcionado tanto contra mulheres quanto contra homens, embora seja mais frequentemente usado para descrever atitudes que privilegiam os homens em detrimento das mulheres. O sexismo é mais amplo que o machismo, pois abrange qualquer forma de discriminação ou estereótipo relacionado ao gênero, sem necessariamente estar vinculado a uma cultura específica.
- Misoginia: é o ódio ou desprezo pelas mulheres, manifestando-se em comportamentos ou discursos que desumanizam ou inferiorizam o feminino de forma explícita. Enquanto o machismo e o sexismo podem ser mais sutis ou estruturais, a misoginia é geralmente mais direta e violenta, refletindo aversão às mulheres como grupo social.
Machismo x feminismo
Embora o machismo e o feminismo sejam frequentemente comparados, eles têm naturezas, objetivos e impactos na sociedade completamente distintos:
- Machismo: é um sistema de dominação e exploração que se baseia na crença de superioridade masculina, sendo sustentado por normas culturais, sociais e institucionais que perpetuam a desigualdade de gênero. Ele opera como uma estrutura ideológica que reforça a submissão feminina e privilegia os homens em diversas esferas, como no trabalho, na política e nas relações interpessoais. Em essência, o machismo é um mecanismo de opressão que mantém as mulheres em uma posição de desvantagem estrutural e simbólica.
- Feminismo: é um movimento social, político e intelectual que busca a igualdade de direitos entre os gêneros, combatendo as estruturas de opressão impostas pelo machismo. Diferentemente do machismo, o feminismo não propõe a dominação das mulheres sobre os homens, mas sim a desconstrução das hierarquias de gênero para promover equidade e justiça social. Enquanto o machismo sustenta privilégios masculinos às custas da opressão feminina, o feminismo trabalha para eliminar essas desigualdades, beneficiando tanto mulheres quanto homens ao questionar os papéis rígidos de gênero. Assim, enquanto o machismo reforça a desigualdade, o feminismo busca transformá-la em igualdade.
Para saber mais sobre o feminismo, clique aqui.
Consequências do machismo
O machismo gera consequências significativas e prejudiciais tanto para as mulheres quanto para os homens, além de impactar negativamente a sociedade como um todo. Para as mulheres, ele perpetua desigualdades de gênero, limitando suas oportunidades educacionais, profissionais e sociais. Elas enfrentam discriminação, violência de gênero e uma expectativa cultural de submissão, que reforça sua posição como polo dominado nas relações sociais. Além disso, o machismo sustenta práticas como a objetificação feminina, a desvalorização do trabalho doméstico e o controle sobre a sexualidade das mulheres, o que contribui para a perpetuação de ciclos de opressão e exclusão social.
Para os homens, o machismo também impõe restrições ao reforçar papéis rígidos de masculinidade que valorizam agressividade, força e desapego emocional. Isso pode levar a problemas psicológicos, como repressão emocional e dificuldade em lidar com vulnerabilidades. Socialmente, o machismo fomenta comportamentos violentos e competitivos entre os homens, além de criar pressões para que assumam exclusivamente o papel de provedores financeiros.
No âmbito coletivo, o machismo mantém estruturas sociais desiguais que prejudicam a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva, ao naturalizar relações hierárquicas baseadas no gênero.
Acesse também: Feminicídio — uma das consequências mais graves do machismo
Machismo na história
O machismo tem raízes profundas na história, sendo um sistema de dominação que se desenvolveu em diversas sociedades ao longo do tempo. Desde as primeiras civilizações, as relações de gênero foram marcadas por uma divisão de papéis que subordinava as mulheres às esferas domésticas e atribuía aos homens o controle das esferas públicas e políticas. Na Antiguidade, por exemplo, culturas como a grega e a romana estabeleceram sistemas patriarcais nos quais as mulheres eram vistas como propriedades dos homens, com direitos limitados e pouca ou nenhuma autonomia. Durante a Idade Média, essa desigualdade foi reforçada pelas instituições religiosas, que legitimaram a submissão feminina com base em interpretações teológicas, consolidando o papel das mulheres como esposas e mães subordinadas à autoridade masculina.
Com o advento da modernidade e a consolidação do capitalismo, o machismo se adaptou às novas estruturas sociais e econômicas, perpetuando a desigualdade de gênero em diferentes formas. No século XIX, por exemplo, o discurso científico foi utilizado para justificar a inferioridade feminina com base em argumentos biológicos, enquanto as mulheres eram excluídas das esferas educacionais e profissionais.
Apesar dos avanços conquistados pelos movimentos feministas no século XX, o machismo permanece presente nas sociedades contemporâneas como um sistema de representação simbólica que naturaliza a hierarquia entre os sexos. Ele se manifesta tanto em práticas culturais quanto em estruturas institucionais, como no mercado de trabalho e na política, perpetuando desigualdades históricas que continuam a ser combatidas.
Notas
|1| Unicamp. Proposta 2 - Redação | Língua Portuguesa e Literaturas de Língua Portuguesa | Interdisciplinares com Língua Inglesa. Comvest, 2020. Disponível em: https://www.comvest.unicamp.br/vest2020/F2/provas/2020F2redporting.pdf.
Créditos de imagem
[1] ThalesAntonio / Shutterstock
[2] ThalesAntonio / Shutterstock
Fontes
Bourdieu, Pierre. A dominação masculina. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002.
Butler, Judith. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.
Drumont, Mary Pimentel. Elementos para uma análise do machismo. São Paulo: Perspectivas, 1980.
Giraldo, Octavio. El machismo como fenómeno psicocultural. Cali: Universidad del Valle, 1972.
Saffioti, Heleieth Iara Bongiovani. Gênero, patriarcado e violência. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2004.
Unicamp. Proposta 2 - Redação | Língua Portuguesa e Literaturas de Língua Portuguesa | Interdisciplinares com Língua Inglesa. Comvest, 2020. Disponível em: https://www.comvest.unicamp.br/vest2020/F2/provas/2020F2redporting.pdf.