Alteridade
Alteridade, muito mais que um conceito, é uma prática. Ela consiste, basicamente, em colocar-se no lugar do outro, entender as angústias do outro e tentar pensar no sofrimento do outro. Alteridade também é reconhecer que existem culturas diferentes e que elas merecem respeito em sua integridade. Nesse sentido, o reconhecimento da alteridade é o primeiro passo para construir-se uma sociedade democrática e mais justa.
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Significado de alteridade
Em latim, a origem da palavra alteridade está na palavra alteritas. O radical alter significa “outro”, enquanto itas remete a “ser”, ou seja, em sua raiz, alteridade significa “ser o outro”. Segundo o dicionário Aurélio, alteridade significa “qualidade do outro ou do que é diferente” e, filosoficamente, “caráter diferente, metafisicamente”|1|.
Em suma, podemos dizer que a alteridade é o ato de perceber a diferença e que o “eu” deve conviver com outros.
Sinônimo de alteridade
Não há, na língua portuguesa, um correspondente direto da palavra alteridade, porém um correspondente possível de aplicar-se ao termo é a palavra empatia.
A palavra empatia advém do grego empatheia, que significa, literalmente, “na paixão”. Assim, caminhar em sentido à paixão, na aplicação da palavra, significa reconhecer no outro, de forma apaixonada (no sentido de reconhecer emocionalmente a existência do outro). Empatia é, então, exercer a alteridade.
Exemplos de alteridade
É inegável que o mundo está se tornando cada vez mais dividido. O neoliberalismo contemporâneo, que sustenta o capitalismo financeiro, incentiva o individualismo cada vez mais cruel e isolador. Esse modo de vida leva o ser humano ao egoísmo puro e infundado.
Nesse mundo de cidadãos isolados, os exemplos de alteridade encontram-se nos atos de acolhimento. Esses atos de acolhimento podem estar em diferentes exemplos, como a acolhida a refugiados em seu próprio país ou o respeito a outras religiões que não a própria. Exemplo maior ainda é o ato cotidiano de não julgar o outro pelo seu modo de viver.
A alteridade é uma prática necessária para a manutenção de uma sociedade justa e igualitária.
Identidade e alteridade
Um problema antigo para a história do pensamento ocidental é o da identidade. A identidade foi enunciada em um princípio elucidado pelo filósofo grego clássico Aristóteles, chamado princípio da identidade. Aristóteles o propôs em uma fórmula que diz: “algo é algo”, ou seja, qualquer coisa possui uma identidade definida.
Os seres humanos prezam por suas identidades, que são o que de mais imediato e preciso temos em nossas particularidades. Essa identidade, que garante a nossa individualidade, pode ser o gatilho para um comportamento individualista. Nesse sentido, a princípio, a identidade parece ser o início do não reconhecimento da alteridade. É por isso que a psicologia e a filosofia podem ajudar-nos a compreender a importância da alteridade em nosso mundo.
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Filosofia e alteridade
O filósofo judeu lituano Emmanuel Lévinas sofreu com os horrores do nazismo e utilizou-se de suas próprias ideias, embasadas principalmente na fenomenologia do filósofo alemão Edmund Husserl, para construir uma teoria que, indiretamente, embasa a importância da alteridade. A contramão da alteridade está, para Lévinas, no preconceito (tendo esse conceito como prejulgamento). Nós tendemos a estabelecer prejulgamentos sobre as outras pessoas, e, quando as pessoas não correspondem as nossas expectativas, nós as isolamos.
Nesse sentido, a sensibilização é a porta para entrar na implementação da alteridade. Reconhecer a pessoalidade, a identidade e a individualidade do outro é o modo para construir-se uma sociedade mais justa.
Psicologia e alteridade
O que faz com que eu me perceba como alguém diferente do outro está assentado na própria filosofia, porém, o que faz com que eu me perceba como alguém superior aos outros é um fenômeno psicológico.
Se pegarmos a argumentação filosófica apresentada no tópico anterior, não podemos considerar uma base de identidade para vermo-nos como superiores. Veja, se admitirmos que cada um é um ser singular, é inegável que, além de mim, existem outros que querem ser tão singulares quanto. É necessário, pensando em um âmbito social, que a nossa sociedade, tão diversa, tenha um modo de coesão.
Se eu não tenho um modo de ver o mundo que enxergue a possibilidade de uma existência diferente da minha, estou negando a minha própria liberdade de ser quem eu sou. Se eu entendo que o mundo é heterogêneo, eu preciso entender que existem diferentes pessoas com diferentes demandas nesse mundo. Se eu entendo que essas pessoas são singulares como eu sou, preciso entender que, do mesmo modo que eu tenho o direito de exercer a minha individualidade, elas também o têm.
Notas
|1| HOLANDA, Aurélio B. Dicionário da língua portuguesa. 6 ed. Curitiba: Positivo, 2004.