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Pierre Bourdieu

Pierre Bourdieu foi um sociólogo francês que se impôs como um dos grandes pensadores do século XX.
Fotografia de Pierre Bourdieu.
Pierre Bourdieu foi um dos sociólogos mais influentes do século XX.[1]

Pierre Bourdieu foi um dos sociólogos mais influentes do século XX. Formado em Filosofia pela École Normale Supérieure, Bourdieu desenvolveu conceitos centrais como habitus, campo, capital cultural e violência simbólica. Ele também teve uma carreira acadêmica notável, lecionando em instituições prestigiadas e publicando cerca de 30 livros e dezenas de artigos.

Foi um defensor ativo dos direitos dos trabalhadores, destacando-se na greve de 1995 contra as reformas neoliberais na França. Suas ideias sobre a reprodução das desigualdades sociais por meio do sistema educacional, a violência simbólica e a dominação masculina continuam a influenciar a sociologia contemporânea. Bourdieu faleceu em 2002, deixando um legado intelectual que desafia as estruturas de poder e promove uma compreensão crítica das relações sociais.

Leia também: Zygmunt Bauman — um dos principais sociólogos da contemporaneidade

Resumo sobre Pierre Bourdieu

  • Pierre Bourdieu foi um dos sociólogos mais influentes do século XX.
  • Ele nasceu em 1930, no sul da França, e faleceu em 2002.
  • Formado em Filosofia pela École Normale Supérieure, Pierre Bordieu desenvolveu conceitos centrais, como habitus, campo, capital cultural e violência simbólica.
  • O habitus é um sistema de disposições duráveis que orienta práticas e percepções dos indivíduos.
  • O campo é um espaço de lutas simbólicas, onde agentes disputam poder e reconhecimento.
  • O capital cultural é dividido em incorporado, objetivado e institucionalizado, e é crucial na análise das desigualdades sociais.
  • A violência simbólica é a imposição de uma cultura dominante sobre outros grupos sociais, de forma que essa imposição seja percebida como legítima e natural.
  • Bourdieu lecionou em instituições prestigiadas e publicou cerca de 30 livros e dezenas de artigos.
  • Ele foi um defensor dos direitos dos trabalhadores, e destacou-se na greve de 1995 contra as reformas neoliberais na França.
  • Suas ideias sobre a reprodução das desigualdades sociais, violência simbólica e dominação masculina continuam influentes.
  • Entre seus livros mais importantes, estão: Os herdeiros (1970), A reprodução (1975), A distinção: crítica social do julgamento (1983), A miséria do mundo (1997), e A dominação masculina (1999).

Videoaula sobre Pierre Bourdieu

Biografia de Pierre Bourdieu

Pierre Bourdieu se impôs como um dos sociólogos mais influentes do século XX. Originário de uma família de classe média do Béarn (sul da França), ele nasceu em 1º de agosto de 1930, em Denguin. Bourdieu estudou na prestigiosa École Normale Supérieure, onde se formou em Filosofia em 1954. Ali, imerso num mundo de jovens burgueses brilhantes, eloquentes e cultos, o jovem interiorano Bourdieu precisou encontrar o próprio jeito de expressar suas ideias e pensamentos, o que conseguiu com muito esforço de autocontrole.

A experiência universitária, tão marcante na biografia de Bourdieu, suscitou-lhe uma ideia que atravessaria toda a sua futura obra. Aqueles estudantes privilegiados, que passavam com tanta desenvoltura e prestígio pela universidade francesa, receberam como herança um bem precioso, embora invisível a olho nu: a cultura.

No seio da elite intelectual francesa, os valores fundamentais não são transmitidos pelo dinheiro (capital econômico), e sim principalmente pela escola (capital cultural). Os melhores quadros dessa elite intelectual são destinados a seguir o percurso ideal das grandes escolas para, no futuro, integrar os altos órgãos do Estado.

Por não pertencer a tal mundo, o jovem Pierre Bourdieu sentiu na carne a distância entre o seu mundo de origem e aquele encontrado na prestigiosa Escola Normal Superior de Paris. Foi justamente essa distância que lhe permitiu ver o que os outros não enxergavam: os códigos implícitos, as rotinas e as bases sociais que governam o mundo das ideias. Com base nisso, todo seu pensamento consistiria em desnaturalizar essas bases sociais que empoderam as elites, revelando quais são as regras do jogo do mundo dos intelectuais, dos doutos e dos pensadores.

Fachada da Escola Normal Superior de Paris, na qual Pierre Bourdieu se formou em filosofia.
A Escola Normal Superior de Paris é uma das escolas frequentadas pela casta social da qual sai os governantes franceses.[2]

Após se formar na universidade, Bourdieu iniciou sua carreira como professor de Filosofia, antes de ser convocado para o serviço militar na Argélia, onde começou a desenvolver seu interesse pela sociologia e etnologia. De volta à França, tornou-se assistente de Raymond Aron na Faculdade de Letras de Paris, e, em 1960, ingressou no Centro de Sociologia Europeia, onde se destacou por suas pesquisas inovadoras sobre a vida cultural e social.

Durante sua carreira, Bourdieu lecionou em instituições prestigiadas, como a École des Hautes Études en Sciences Sociales e o Collège de France, onde consolidou sua reputação como um pensador crítico e original. A produção intelectual de Bourdieu, desde a década de 1960, alcançou cerca de 30 livros e dezenas de artigos. As suas contribuições são especialmente importantes para a sociologia da cultura.

Pierre Bourdieu teve uma participação significativa na greve que ocorreu em dezembro de 1995 na França. Essa greve foi uma resposta às reformas, propostas pelo então primeiro-ministro Alain Juppé, que visavam a mudanças na aposentadoria e na previdência social. Diversos setores, incluindo ferroviários, correios, fornecimento de gás e energia elétrica, educação e saúde, participaram das greves em massa.

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Bourdieu, que, na época, ocupava posições de destaque no sistema acadêmico francês, foi um dos poucos intelectuais de grande visibilidade que apoiaram publicamente o movimento grevista. Ele se posicionou contra o avanço do neoliberalismo e o enfraquecimento do que chamou de “a mão esquerda do Estado” — uma referência às funções sociais e de bem-estar do governo. Sua defesa dos direitos dos trabalhadores, especialmente dos ferroviários, foi amplamente divulgada e contribuiu para dar visibilidade às reivindicações dos grevistas.

Além de seu apoio público, Bourdieu também se envolveu diretamente nas manifestações e nos debates, tornando-se um importante defensor das reivindicações dos trabalhadores. Ele utilizou sua influência e prestígio acadêmico para animar o movimento social recém-criado, destacando a importância de resistir às políticas neoliberais que, segundo ele, ameaçavam os direitos sociais conquistados. Pierre Bourdieu estava internado no Hospital Saint-Antoine, em Paris, quando faleceu de câncer em 23 de janeiro de 2002, aos 71 anos.

Veja também: Augusto Comte — o autor positivista considerado o fundador da sociologia

Principais ideias de Pierre Bourdieu

As principais ideias de Pierre Bourdieu podem ser representadas pelos conceitos de habitus, campo, capital cultural e violência simbólica. Articulando-as, Bourdieu defende que os condicionamentos materiais e simbólicos influenciam tanto a sociedade quanto os indivíduos, em uma relação complexa de interdependência.

Em outras palavras, a nossa posição social ou o poder que temos não se baseiam apenas na quantidade de dinheiro que acumulamos ou no prestígio que desfrutamos devido à escolaridade ou a outras características de destaque, como também na articulação dos significados que esses elementos podem assumir em cada contexto histórico e social.

→ Habitus

O habitus é um programa de comportamentos que permite agir e pensar num dado meio social. Nas palavras de Pierre Bourdieu, o habitus é definido como um sistema de disposições duráveis que funciona como princípio gerador e organizador de práticas e representações. O habitus integra experiências passadas às decisões dos agentes sociais, portanto, ele é pensado como uma espécie de herança, sendo durável, transponível e transferível ao longo do tempo.

O habitus funciona como uma matriz de percepções, apreciações e ações que orienta as escolhas individuais. O habitus é, ao mesmo tempo, produto de um aprendizado inconsciente, baseado em valores e estereótipos disponíveis no meio social de cada indivíduo. Por isso o conceito de habitus está no cerne de toda obra de Bourdieu.

Esse conceito tenta dar conta dos determinismos sociais que pesam, às vezes inconscientemente, sobre nossas ações e ideias e, ao mesmo tempo, da capacidade estratégica, consciente e criativa das nossas ações. Dessa forma, o habitus explora a interdependência entre as condições sociais, que nos são dadas, e como as nossas escolhas individuais podem reestruturar essas mesmas condições.

O habitus, então, é estruturante das ações individuais e, ao mesmo tempo, pode ser estruturado por elas. Ele é gerado socialmente e socialmente gerador. O habitus faz a mediação entre o que é da sociedade, e está no indivíduo, e o que é do indivíduo, mas pode ser criado ou gerado na sociedade. O habitus é a marca social no indivíduo e o que o impulsiona a deixar sua marca no social.

Ao mesmo tempo, o habitus é um bom senso prático. Ele fornece esquemas de percepção, avaliação e ação que os agentes aplicam nas suas situações particulares de ação. Esses esquemas servem como instrumentos cognitivos socialmente construídos, pelos quais conferimos sentido e inteligibilidade ao que encontramos no mundo social.

Os esquemas de avaliação, que podem ser de cunho ético ou estético, situam as entidades percebidas no mundo em escalas simbólicas de valor diferencial. O habitus nos ajuda a organizar certas situações, pessoas ou lugares particulares em categorias gerais. Por exemplo: reconhecer médicos por causa do jaleco branco, identificar o policial por causa da farda, ou interpretar itens do vestuário como signos de riqueza ou pobreza.

O habitus inclui também a própria capacidade de operar com novas linguagens e se adaptar a novas realidades, o que vale tanto para o estudante pobre ou de classe média que entra na universidade, quanto para uma pessoa que vai aprender a dirigir e respeitar as leis do trânsito.

Enfim, com o conceito de habitus, Bourdieu pretendeu nos defender do que ele chama de falácia escolástica. Essa falácia é um erro de raciocínio comum que compreende a ação comum como o efeito de um cálculo racional explícito ou uma obediência consciente às normas. Como se o indivíduo, na hora de agir, cogitasse entre todas as possibilidades de ação antes de fazer a sua escolha. Na maior parte das vezes, na verdade, a ação humana é orientada por esses esquemas práticos de ação que Bourdieu denominou habitus.

→ Campo

O campo é outra noção central da teoria de Pierre Bourdieu, definido como espaço estruturado de posições onde ocorre o jogo ou a disputa pelo poder. Por causa dessas disputas e competições, o campo é dinâmico e pode ser reestruturado por meio das interações dos indivíduos que agem no campo.

O termo campo é utilizado em referência ao mundo literário, artístico, político, religioso, médico e científico. Nesse sentido, o campo é um microcosmo autônomo no interior do macrocosmo social. Cada campo encerra uma esfera de atividade, que tem suas próprias leis e códigos internos, o que não impede que diferentes campos estabeleçam relações.  

Esquema explicativo sobre o campo, uma das ideias de Pierre Bourdieu.
Esquema explicativo sobre o campo, uma das ideias de Pierre Bourdieu.

Vamos considerar os campos político, artístico, universitário, intelectual. Aquele que ingressa nesses meios deve dominar os códigos e as regras internas. Sem isso, logo estará fora do jogo. A noção de campo social guarda semelhanças com o campo magnético da Física, uma vez que Bourdieu também concebe o campo social como um campo de forças em movimento.

Assim, o campo é o lugar da luta entre os indivíduos, onde cada um busca manter seu lugar, distinguir-se e conquistar novas posições. Essas lutas e essas tensões são travadas no plano institucional (conquistar postos, lugares etc.).  Toda essa luta de posições e de classificação supõe uma guerra social que é travada também no plano simbólico.

→ Capital cultural

O capital cultural é um conceito central na obra de Pierre Bourdieu, sendo utilizado para analisar as diferenças de classe e a perpetuação das desigualdades sociais. Ele se refere aos conhecimentos, habilidades, educação e outras formas de cultura que um indivíduo possui e que podem ser transmitidos de geração a geração. Esse capital pode existir em três formas.

Um tipo de capital é o incorporado. Refere-se às disposições e habilidades adquiridas ao longo do tempo, como a linguagem, os gostos e as maneiras de pensar. Esse tipo de capital é internalizado e se torna parte da pessoa, sendo difícil de transferir rapidamente para outros. Outro tipo de capital cultural é o objetivado, que inclui bens culturais materiais, como livros, obras de arte e instrumentos musicais. Esses objetos podem ser possuídos e transmitidos fisicamente. Um terceiro tipo de capital é o institucionalizado, que se relaciona a qualificações acadêmicas e credenciais, como diplomas e títulos, que conferem legitimidade e reconhecimento social ao portador.

Bourdieu argumenta que o capital cultural é uma forma eficiente de exercício de poder em todos os campos da sociedade. Ele pode ser utilizado para manter ou melhorar a posição social de um indivíduo ou grupo.

Bourdieu destaca que a escola desempenha um papel crucial na legitimação e transmissão desse capital, muitas vezes favorecendo aqueles que já têm familiaridade com a cultura legítima. Pierre Bourdieu deixa isso claro nas duas passagens que destacamos a seguir, ambas extraídas do artigo “O que faz as classes sociais?”. O capital é um recurso de poder muito eficiente para se “jogar” nos campos da sociedade:

O mundo social pode ser concebido como um espaço multidimensional construído empiricamente pela identificação dos principais fatores de diferenciação que são responsáveis por diferenças observadas num dado universo social ou, em outras palavras, pela descoberta dos poderes ou formas de capital que podem vir a atuar, como ases num jogo de cartas neste universo específico que é a luta (ou competição) pela apropriação de bens escassos.|1|

Os poderes sociais fundamentais são: em primeiro lugar, o capital econômico, em suas diversas formas; em segundo lugar, o capital cultural, ou melhor, o capital informacional, também em suas diversas formas; em terceiro lugar, duas formas de capital que estão altamente correlacionadas: o capital social, que consiste de recursos baseados em contatos e participação em grupos, e o capital simbólico, que é a forma que os diferentes tipos de capital toma, uma vez percebidos e reconhecidos como legítimos.|2|

→ Violência simbólica

A violência simbólica é um conceito que Bourdieu utiliza para descrever a imposição de uma cultura dominante sobre outros grupos sociais, de forma que essa imposição seja percebida como legítima e natural. Pode ser percebida no estudo da dominação masculina sobre a mulher e no contexto educacional, onde essa violência se manifesta quando a escola impõe um arbitrário cultural que favorece os grupos dominantes, desvalorizando e marginalizando as culturas dos grupos menos privilegiados.

No mundo da educação, a violência simbólica assume a forma de discurso de autoridade ou da palavra do mestre. Bourdieu explica que a ação pedagógica é uma forma de violência simbólica porque impõe um arbitrário cultural de um grupo de classe a outro, legitimando as desigualdades sociais e culturais.

A escola, ao valorizar a cultura dominante e exigir familiaridade com ela, acaba por reforçar as hierarquias sociais existentes, fazendo com que as desigualdades pareçam naturais e meritocráticas. Violência simbólica refere-se, portanto, a uma violência branda e mascarada. Ela é exercida, em parte, com a cumplicidade daqueles sobre quem ela se exerce. Não se destina a marcar o corpo, mas as mentes, por isso, precisa de algum nível de adesão de quem a sofre.

◦ Videoaula sobre violência simbólica

Pierre Bourdieu e a educação

Uma das principais contribuições da teoria sociológica de Pierre Bourdieu é o elo entre educação e cultura, especialmente no que interessa à distribuição desigual do capital cultural e à manutenção da ordem social.

Para Bourdieu, as escolas e o sistema educacional como um todo, ao invés de promover um acesso democrático a uma competência cultural específica para todos, tende a reforçar as distinções de capital cultural entre seus alunos. Existe uma distribuição desigual do capital cultural, que não ocorre de acordo com um projeto deliberado da sociedade, mas acaba condicionando a escolarização de diferentes indivíduos.

Em uma sociedade hierarquizada e injusta como a nossa, nem todas as famílias têm a bagagem cultural e letrada necessária para se identificar e aproveitar plenamente os ensinamentos escolares. As famílias de origem social mais alta, por exemplo, têm mais facilidade, pois já adquiriram parte desse conhecimento em casa. Existe uma semelhança entre a cultura escolar e a cultura dos grupos sociais dominantes, que acumulam conhecimento há gerações.

Sendo assim, quando o sistema de ensino trata todos de forma igual, exigindo uma familiaridade com a cultura erudita que só alguns têm, ele ignora as diferenças de base causadas pelas desigualdades sociais.

Bourdieu aponta, então, um descompasso entre a competência cultural exigida pela escola e a competência cultural que as famílias mais populares conseguem oferecer. Essas famílias estão muito distantes da cultura legítima, que já está na escola, enquanto a casta social da elite produz indivíduos que estão inseridos, desde a infância, no universo da erudição, no qual aquela cultura legítima é o modo natural de compreender o mundo.

Ao agir dessa maneira, o sistema escolar restringe o acesso e o pleno desenvolvimento dos indivíduos de famílias com menor escolaridade, pois exige deles um conhecimento cultural prévio que não possuem, necessário para a assimilação adequada de uma cultura erudita. Bourdieu chamou essa exigência de violência simbólica, pois impõe a aceitação e a legitimidade de uma única forma de cultura, desconsiderando e desvalorizando a cultura das classes populares.

No livro A reprodução, Pierre Bourdieu descreve o mecanismo invisível da seleção social pela escola. Na sociedade burguesa, os filhos da classe dominante recebem uma herança, que é transmitida pelos diplomas que acumula e pode ser convertida em capital cultural. Essa herança cultural é mais preciosa exatamente porque é invisível. Por isso mesmo, ela pode ser vivida como se fosse um dom, uma inteligência inata e ideias puras e originais.

Portanto, a educação, para Bourdieu, é usada para transmitir ideias culturais e reproduzir habitus que servem de base e dão respaldo à posição privilegiada das classes dominantes ou governantes. Ele denominou esse processo de reprodução cultural — pelo qual culturas são reproduzidas por meio das gerações, sobretudo pela influência socializante da educação.

A reprodução cultural faz parte de um processo mais amplo de reprodução social. Por meio dela, sociedades inteiras e suas características culturais, estruturais e ecológicas são reproduzidas por um processo que, invariavelmente, reproduz desigualdades.

A concepção relacional da sociedade, defendida por Bourdieu, apresenta uma visão multidimensional de classe social. Bourdieu não subordina a dimensão cultural à dimensão socioeconômica, ao contrário, a cultura é apresentada como uma forma distinta de poder, embora possa estar relacionada às outras formas.

Por isso, a importância da educação e da cultura na obra de Bourdieu é evidente pela ênfase que ele dá a esses temas em seus trabalhos teóricos e empíricos. Assim, destacar o papel da educação e da cultura na formação e na luta de classes sociais pode ser considerada a principal característica de sua obra.

Acesse também: Sérgio Buarque de Holanda — um dos principais nomes da sociologia brasileira

Obras de Pierre Bourdieu

A obra de Bourdieu é vasta e multifacetada, abordando temas como educação, cultura, poder simbólico e desigualdade social. Entre seus livros mais importantes, estão: Os herdeiros (1970) e A reprodução (1975), que examinam como o sistema educacional perpetua as desigualdades sociais. Bourdieu descreve o mecanismo invisível da seleção social pela escola.

Em A distinção: crítica social do julgamento (1983), Bourdieu explora como o gosto cultural está ligado à posição social, introduzindo conceitos fundamentais, como habitus, campo e capital cultural. Outros trabalhos notáveis incluem A dominação masculina (1999), que analisa as estruturas de poder de gênero, e A miséria do mundo (1997), uma coletânea de estudos sobre as condições de vida das classes populares.

Sua contribuição para a sociologia foi reconhecida com a Medalha de Ouro do CNRS em 1993, e seu legado continua a influenciar estudiosos em todo o mundo.

Frases de Pierre Bourdieu

  • “Toda ordem estabelecida tende a produzir a naturalização de sua própria arbitrariedade.”
  • “A dominação masculina está tão enraizada em nosso inconsciente coletivo que nem sequer a percebemos mais.”
  • “Fazendo as hierarquias sociais parecerem estar baseadas em hierarquia de ‘dons’, mérito ou habilidade, o sistema educacional preenche a função de legitimação da ordem social.”
  • “O que a comunicação pedagógica consegue produzir é função da competência cultural que o receptor deve à sua educação familiar.”
  • “Na realidade, cada família transmite a seus filhos, mais por vias indiretas que diretas, um certo capital cultural e um certo ethos, sistema de valores implícitos e profundamente interiorizados, que contribui para definir, entre outras coisas, as atitudes face ao capital cultural e à instituição escolar. A herança cultural, que difere, sob os dois aspectos, segundo as classes sociais, é a responsável pela diferença inicial das crianças diante da experiência escolar e, consequentemente, pelas taxas de êxito.”
  • “O gosto é o princípio de tudo o que temos (pessoas e coisas), de tudo o que somos para os outros, e é através dele que classificamos e somos classificados.”
  • “Não há nada tão poderoso quanto o gosto musical para classificar os indivíduos e por onde somos infalivelmente classificados.”

Notas

|1| Bourdieu, Pierre. What makes a social class? On the theoretical and practical existence of groups. Berkeley Journal 01 Sociology, n. 32, p. 1-49, 1987.

|2| Bourdieu, Pierre. What makes a social class? On the theoretical and practical existence of groups. Berkeley Journal 01 Sociology, n. 32, p. 1-49, 1987.

Créditos de imagem

[1] Bernard Lambert / Wikimedia Commons (reprodução)

[2] HJBC / Shutterstock

[3] Lgjunior / Wikimedia Commons (reprodução)

Fontes

Bonnewitz, Patrice. Primeiras Lições sobre a Sociologia de P. Bourdieu. Petrópolis: Vozes, 2003.

Bourdieu, Pierre. Os herdeiros: os estudantes e a cultura. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1970.

Bourdieu, Pierre e Passeron, Jean-Claude. A reprodução: elementos para uma teoria do sistema de ensino. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1975.

Bourdieu, Pierre. A distinção: crítica social do julgamento. São Paulo: Edusp, 1983.

Bourdieu, Pierre. O senso prático. Petrópolis: Vozes, 2009.

Bourdieu, Pierre. What makes a social class? On the theoretical and practical existence of groups. Berkeley Journal 01 Sociology, n. 32, p. 1-49, 1987.

Bourdieu, Pierre. A dominação masculina. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1999.

Bourdieu, Pierre. A miséria do mundo. Petrópolis: Vozes, 1997.

Bourdieu, Pierre. Sobre a televisão. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997.

Bourdieu, Pierre. Pierre Bourdieu Entrevistado por Maria Andréa Loyola. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2002.

Olinto, Gilda. Capital cultural, classe e gênero em Bourdieu. Cadernos do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, v.1, n.2, 1995. p.24-36.

Ortiz, Renato. Pierre Bourdieu: Sociologia. São Paulo: Ática, 1983.

Publicado por Rafael Pereira da Silva Mendes

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