Escola de Frankfurt
A Escola de Frankfurt foi uma escola de análise e pensamento filosófico e sociológico que surgiu na Universidade de Frankfurt, situada na Alemanha. Tinha como objetivo estabelecer um novo parâmetro de análise social com base em uma releitura do marxismo.
A teoria estabelecida pelos intelectuais da Escola de Frankfurt é chamada de teoria crítica por dois motivos: primeiro, porque faz uma crítica social do desenvolvimento intelectual da sociedade que incide sobre as teorias iluministas; e, em segundo lugar, porque propõe uma leitura crítica do marxismo, com novas propostas para além dele sem perder de vista os principais ideais da esquerda.
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Contexto histórico da Escola de Frankfurt
O século XX foi muito turbulento. No início da década de 1920, o mundo já havia presenciado a Primeira Guerra Mundial, e, no fim dessa mesma época, ele presenciou a grande crise econômica de 1929.
Em meio à grande mudança tecnológica, à nova configuração social e às experiências do século XX, os teóricos da Escola de Frankfurt perceberam que os ideais do iluminismo e do positivismo haviam falhado em sua teoria de que o avanço científico aliado à ampliação do conhecimento por meio da escolarização e da disseminação da informação levariam ao avanço moral da sociedade.
Os filósofos do iluminismo francês defenderam que o avanço moral da sociedade se daria com o avanço do conhecimento científico e filosófico e sua disseminação global, com vistas a esclarecer as pessoas sobre as questões relativas ao mundo e à sua organização.
Dentre os teóricos iluministas, podemos destacar Voltaire, defensor das liberdades individuais; Montesquieu, criador da teoria da tripartição do Estado; e Diderot e D’Allambert, fundadores da enciclopédia. Todos eles colocaram-se contra o absolutismo na França e defenderam a popularização do conhecimento para a melhoria da sociedade.
Os positivistas, liderados pelo filósofo francês Auguste Comte, já no século XIX, foram mais radicais. Para eles, o avanço social somente ocorreria pelo investimento na criação e disseminação da ciência e numa rígida reorganização da sociedade, com vistas a colocar o avanço novamente para o povo europeu, em especial o povo francês.
Em geral, os filósofos da Escola de Frankfurt defenderam que as teorias iluminista e positivista não se sustentaram, tendo-se em vista os fenômenos ocorridos no século XX. Em primeiro lugar, os pensadores vivenciaram a primeira grande guerra. Em seguida, eles, que eram judeus, vivenciaram a perseguição nazista contra seu povo. Entre eles, o filósofo e crítico literário Walter Benjamin morreu sob domínio dos nazistas, e os filósofos Theodor Adorno, Herbert Marcuse e Max Horkheimer tiveram que se refugiar nos Estados Unidos para escaparem da perseguição.
Na reflexão empreendida pelos teóricos da Escola de Frankfurt após a Segunda Guerra Mundial, a barbárie da perseguição nazista e da criação da câmara de gás (uma invenção feita para matar de maneira mais eficaz, com menos gasto) era a maior comprovação de que não havia um progresso, mas sim um regresso social.
No entanto, existem registros mais precisos sobre a história da criação da Escola de Frankfurt. O socialismo estava sendo fortemente debatido na Europa após a Revolução Russa, dividindo os intelectuais quanto à aplicação ou não dos ideais socialistas na política europeia. Uma visão que se sobressaía era a de que o marxismo já não satisfazia as necessidades do século XX, que eram outras e iam além da relação entre trabalhador e burguesia no mundo industrializado.
Nesse sentido, Felix Weil, intelectual judeu argentino radicado na Alemanha, organizou a Primeira Semana de Trabalho Marxista, um evento que reuniu intelectuais marxistas em Frankfurt no ano de 1922. Uma das propostas da semana foi colocada em prática no ano seguinte: a criação do Instituto de Pesquisa Social. O instituto foi patrocinado por Herman Weil, pai de Félix, e subsidiado pelo governo alemão.
No início, o instituto foi gerido pelo sociólogo Kurt Albert Gerlach, que faleceu ainda no primeiro ano de gestão. O instituto ficou vinculado à Universidade de Frankfurt, justificando o título dado ao conjunto de seus pensadores de Escola de Frankfurt, décadas mais tarde. Entre 1923 e 1930, a gestão do instituto ficou a cargo de Karl Grümberg.
Em 1930, foi criado um escritório do instituto em Genebra, que passou a abrigar a sede da instituição após a perseguição e o fechamento da escola pelos nazistas em 1933. Somente em 1950, com a efetiva retomada das atividades do instituto, é que ele passou a chamar-se Escola de Frankfurt.
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Características da Escola de Frankfurt
Apesar da gama de diferentes pensadores e diferentes gerações formada pela Escola de Frankfurt, o que une a produção intelectual de todos é a teoria crítica. Todos eles se dedicaram a construir teorias críticas contra o capitalismo e a atualizar as leituras sobre o marxismo, criando novas alternativas ao socialismo marxista que se encaixassem no século XX.
O aspecto cultural foi um dos mais debatidos pelos pensadores da instituição. Seria necessário, segundo uma visão geral da teoria crítica, olhar para a cultura a fim de perceber que as bases da sociedade capitalista somente eram tão sólidas por conta da disseminação de uma cultura que favorecia o capitalismo. Nesse sentido, todos os autores da Escola de Frankfurt partiram da leitura marxista, mas atualizaram-na, criando interpretações condizentes com a realidade vivida pelo século XX, que era diferente da enfrentada pelas pessoas no século XIX.
Pensadores da Escola de Frankfurt
Como a Escola de Frankfurt perdura desde a década de 1930, vários pensadores formaram-se lá e produziram suas teorias com bases parecidas. No entanto, a diferença entre gerações é um traço marcante das teorias produzidas por eles. Por isso, dividimos, a seguir, os pensadores de acordo com as suas gerações, sabendo que existem duas delas notáveis e uma terceira em curso.
- Primeira geração: composta pelos filósofos e sociólogos Theodor Adorno, Max Horkheimer, Herbert Marcuse, Erich Fromm, Otto Kirchheimer, Friedrich Pollock e Leo Löwenthal. Esses pensadores compuseram as primeiras bases do pensamento frankfurtiano e da teoria crítica, além de receberem importantes contribuições de teóricos associados ao Instituto de Pesquisa Social, como Walter Benjamin e Ernst Bloch.
- Segunda geração: formada pelos filósofos e sociólogos Axel Honneth, Albrecht Wellmer, Jürgen Habermas, Oskar Negt, Franz Neuman e Alfred Schmidt.
Escola de Frankfurt e a indústria cultural
Foi no bojo da Escola de Frankfurt que surgiu o conceito de indústria cultural, mais especificamente no livro Dialética do esclarecimento, escrito pelos filósofos da primeira geração Theodor Adorno e Max Horkheimer. Para eles, uma das maneiras de dominação capitalista se daria pela cultura. Adorno e Horkheimer entenderam que havia dois tipos de cultura autêntica: a cultura erudita e a cultura popular.
A cultura erudita é aquela produzida por uma elite intelectual, mais refinada e menos intuitiva. Essa cultura teria um valor estético maior, visto que é mais elaborada. A cultura erudita seria o escape para que a intelectualidade se desenvolvesse plenamente, e, na visão dos autores, ela deveria ser ampliada.
A cultura popular é uma forma autêntica de fazer-se arte e cultura vinculadas às culturas tradicionais dos povos. Ela é autêntica, mas composta por menor refinamento técnico e intelectual, sendo mais intuitiva.
Por último, tem-se a cultura de massa. Diferente dos outros dois tipos, esta é inautêntica. Fruto de uma fusão de elementos da cultura erudita e da popular e da possibilidade de alta reprodutibilidade técnica, a cultura de massa seria um recurso capitalista para vender uma forma inferior de arte que, ao mesmo tempo, manteria a população sob controle. A indústria cultural se limitaria a levar o entretenimento como se fosse arte ao consumidor, que se sentiria satisfeito ao deparar-se com elementos aparentemente agradáveis e de fácil consumo.
Em relação às formas de reprodutibilidade técnica, os teóricos citavam a gravação audiovisual (considerando-se, na época, a gravação de discos, de filmes, de fotografia e de radiodifusão). Nesse sentido, o autor da obra de arte não precisaria criar, a cada performance, uma obra, mas sim reproduzir em larga escala uma obra criada anteriormente.
O filósofo Walter Benjamin declarou ser essa forma de reprodução o fim da aura que conferiria à obra de arte a sua autenticidade. Para aprofundar-se mais nesse conceito tão importante para a Escola de Frankfurt, leia: Indústria cultural.