Drogas lícitas e ilícitas
Drogas lícitas e ilícitas são substâncias psicoativas que diferem no aspecto legal. As drogas lícitas são legalizadas e, dessa forma, possuem produção, comércio e consumo devidamente regulamentados. Já as drogas ilícitas são ilegais, e, por isso, sua venda e seu consumo são proibidos. Contudo, ambos os tipos de drogas causam efeitos nocivos em nosso corpo, podendo gerar grande dependência química.
Drogas lícitas e ilícitas acabam sendo percebidas de maneiras distintas na sociedade. As drogas lícitas costumam ter maior aceitação social, o que acaba permitindo que haja consumo exagerado e por menores de idade. Já as drogas ilícitas, acabam marginalizando os seus usuários, dificultando o acesso destes ao devido tratamento. Tais substâncias estão intimamente ligadas a óbitos e outras doenças graves.
Leia também: Afinal, o que são as drogas?
Resumo sobre drogas lícitas e ilícitas
- Drogas lícitas (legalizadas) e ilícitas (ilegais) são substâncias psicoativas que causam alterações no organismo. Elas diferem no aspecto legal.
- As drogas lícitas são legalizadas, e as drogas ilícitas são ilegais.
- Sendo legalizadas, as drogas lícitas possuem produção, consumo e comércio regulamentados por meio de leis.
- Ambos os tipos são nocivos à saúde, apresentando potencial de gerar dependência química e de contribuir para doenças graves, além de óbitos.
- As drogas lícitas costumam possuir maior aceitação social, o que pode ocasionar consumo exagerado ou por menores de idade.
- As drogas ilícitas tendem a marginalizar o usuário, tornando mais difícil o acesso a tratamento e assistência adequada.
O que são drogas lícitas e ilícitas?
Drogas lícitas e ilícitas são substâncias psicoativas que diferem no aspecto legal: as lícitas são legalizadas, e as ilícitas são ilegais.
Segundo o Glossário de termos sobre drogas, as drogas são “substâncias psicoativas que, quando ingeridas ou administradas no corpo, afetam processos mentais, como a percepção, consciência, cognição ou ânimo e emoções”.
Como as drogas podem, portanto, causar danos à saúde e à vida daqueles que as utilizam, muitas delas, a depender de cada país, são ilegais, sendo seu consumo proibido, ou seja, são ilícitas. Contudo, existem outras substâncias que são consideradas drogas e que estão presentes em nosso cotidiano e possuem produção, comércio e consumo regulamentados e permitidos pela lei, sendo classificadas como lícitas, mesmo possuindo efeito nocivo.
Quais são as drogas lícitas e ilícitas?
→ Quais são as drogas lícitas?
Entre as principais drogas lícitas, podemos citar:
- Álcool etílico, presente nas bebidas alcoólicas destiladas e fermentadas.

- Cigarro, que possui, como principal substância, a nicotina.
- Café, um estimulante que possui substâncias do grupo das xantinas, onde se destaca a cafeína.
- Medicamentos de maneira geral.

→ Quais são as drogas ilícitas?
Entre as principais drogas ilícitas, podemos citar:
- Cannabis, que é uma planta popularmente conhecida como maconha, cuja principal substância psicoativa é o THC, tetrahidrocanabinol. É consumida por meio do fumo.

- Cocaína, que é um pó branco, pertencente ao grupo dos alcaloides, sendo altamente estimulante. Sua principal forma de consumo é por meio da aspiração.
- Crack, que é um derivado da cocaína, comercializado na forma de pedras. Em geral, é consumido por meio do fumo através de cachimbos.
- Ecstasy, que é estimulante psicoativo, popularmente conhecido como “bala”, uma vez que, em geral, é comercializado na forma de pílulas.
- Heroína, que é uma droga analgésica processada a partir da morfina. Em geral, a heroína é injetada para consumo, mas também pode ser fumada ou inalada.
- LSD, é uma droga semissintética, derivada do ácido lisérgico. Popularmente, é comercializada na forma de pequenos quadradinhos de papel absorvente, os quais contém gotas da droga. É popularmente conhecida como “ácido”.
- Metanfetamina, é um estimulante do grupo das anfetaminas, sendo considerada uma droga sintética. Seu aspecto visual lembra cacos de vidro, mas também pode ser observada na forma de pó ou comprimidos. É popularmente conhecida como “MD”.
Características das drogas lícitas e ilícitas
De forma geral, as drogas líticas e ilícitas apresentam as mesmas características: são substâncias capazes de trazer alterações no comportamento humano, no humor, no nível de percepção, assim como no funcionamento do sistema nervoso central. Podem ser administradas de diversas formas, como por meio da ingestão de líquidos, como é o caso do álcool e do café, por meio do fumo, como é o caso do cigarro, da maconha, do crack e da heroína, ou por meio de comprimidos, como os medicamentos, o LSD e a metanfetamina, por exemplo.
Lícitas ou ilícitas, as drogas podem ser divididas em classes:
- Depressoras: são drogas que inibem ou que suprimem o funcionamento do sistema nervoso central (SNC). Dentro desse grupo, destacam-se os sedativos, ansiolíticos, opioides (morfina e heroína), benzodiazepínicos, barbitúricos e o álcool.
- Estimulantes: são drogas que ativam, que melhoram ou que aumentam a atividade neural por meio da estimulação do sistema nervoso central. Influenciam nos níveis e nas ações de neurotransmissores dopamina, norepinefrina e serotonina. Dentro desse grupo, temos os anfetamínicos, a cafeína, a cocaína, a nicotina, entre outros.
Drogas lícitas e ilícitas e os efeitos no organismo
A divisão das drogas em depressoras ou em estimulantes nos ajuda a entender, de forma global, o efeito esperado dessas substâncias em nosso organismo. Contudo, a tabela a seguir busca trazer informações mais específicas das drogas lícitas e ilícitas no nosso organismo:
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Classificação |
Droga |
Efeitos |
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Lícita |
Álcool |
Em pequenas doses, causa desinibição, mas, com aumento da dose, pode haver diminuição de resposta a estímulos, fala arrastada, dificuldade de movimentar-se, diminuição de reflexos, vômito, entre outros. Em doses muito elevadas, pode haver perda de consciência, estado de sedação, inconsciência, parada respiratória e morte. |
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Cigarro |
Em um primeiro momento, sensação de relaxamento e alteração de humor. Posteriormente, elevação da frequência cardíaca, da pressão arterial, da frequência respiratória e da atividade motora. Possibilidade de náuseas, tontura e dores de cabeça. Pode ocasionar dificuldade na digestão. |
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Café |
Aumento da energia e melhora da performance física. Porém, pode causar ansiedade, insônia, problemas digestivos, dependência. Após as refeições, pode dificultar a absorção de nutrientes, como ferro, cálcio, zinco, magnésio e fósforo. Em pessoas com refluxo gastroesofágico, pode fazer o ácido do estômago ascender pelo esôfago. Para os que sofrem de epilepsia, o consumo pode aumentar as crises. |
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Ilícitas |
Cannabis |
Sensação de bem-estar, relaxamento, euforia. Intensificação dos sentidos, como visão, olfato, paladar e audição. Aumento de apetite, aceleração do pulso. Problemas na execução de tarefas físicas e intelectuais. Em maiores quantidades, aguça a percepção do som e da cor, além de causar lentidão e confusão no pensamento. Em doses muito elevadas, apresenta efeitos semelhantes aos alucinógenos, causando ansiedade, pânico e até episódios psicóticos. |
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Cocaína |
Sensação de exaltação e de euforia. Aumento temporário do estado de alerta e dos níveis de energia. Perda de apetite e ausência da sensação de fadiga. Respiração acelerada, aumento da temperatura corporal e da frequência cardíaca. Pode haver desenvolvimento de comportamento errático ou violento. Doses excessivas podem ocasionar convulsões, acidentes vasculares cerebrais (AVCs), hemorragias cerebrais, além de insuficiência cardíaca. Se misturada com álcool, pode causar morte súbita. |
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Crack |
Sensação de intenso prazer e bem-estar. Perda de apetite, falta de sono e agitação motora. Surtos de paranoia, alucinações e sentimento de perseguição, o que pode ocasionar episódios de violência. Os efeitos são rápidos e intensos, entre 10 a 15 segundos após o primeiro trago, sendo que cada pedra provoca sensações por cerca de cinco minutos. O uso prolongado pode levar à morte, por meio de ataque cardíaco, de paradas respiratórias e de derrames. |
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Ecstasy |
Aumento nos níveis de empatia, sensação de proximidade às pessoas ao redor. Aumento da sociabilidade e dos níveis de energia. O corpo pode ignorar sinais de perigo, como desidratação, tontura e exaustão, além de dificuldade na regulação da temperatura corporal. Pode causar danos severos aos fígados e aos rins. Possibilidade de convulsões e ataques cardíacos. Em doses elevadas, pode haver inquietação, ansiedade e alucinações severas. |
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Heroína |
Alívio da tensão, da ansiedade e da depressão. O usuário não sente dores ou sofrimento físico e emocional. Doses elevadas podem gerar um estado de euforia. Ao utilizar-se, percebe-se contração das pupilas, náuseas, vômitos, sonolência, incapacidade de concentração e apatia. A overdose pode levar a um estado de coma ou até mesmo morte por depressão respiratória. |
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LSD |
Leva a mudanças repentinas de pensamento, de humor e de sentidos, além dos sentimentos de empatia e de sociabilidade. No curto prazo, produz ilusões e percepções distorcidas. Mudanças na percepção geométrica, da noção de tempo, além de intensificação da percepção de cores, de sons e de tato. Pode haver pensamentos e sensações ruins intensas, como desespero, medo de perder o controle, de enlouquecer ou de morrer. Percebe-se dilatação de pupilas, aumento da frequência cardíaca e da pressão arterial, perda de apetite, insônia, boca seca e tremores. |
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Metanfetamina |
Estimula a sensação de bem-estar físico e mental. Prova sensações de euforia e alegria. Aumento temporário da energia, percepção de melhoria de rendimento nas tarefas manuais e intelectuais. Pode haver perdas de apetite e sensação de fadiga. Aumento das frequências respiratória e cardíaca, aumento da pressão arterial e aumento da temperatura corporal, com transpiração abundante. Em doses elevadas, causa inquietação, irritabilidade e episódios de pânico. Doses excessivas podem levar a convulsões e à morte por insuficiência respiratória, por infarto ou por insuficiência cardíaca. |
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Diferenças entre drogas lícitas e ilícitas
Ao considerarmos os efeitos e os danos causados pelas drogas lícitas e ilícitas, temos que a única diferença está no aspecto social e legal: as lícitas, por serem legalizadas, possuem regulamentação, órgãos de controle, entre outros fatores que permitem a sua comercialização e o seu consumo dentro de regras específicas. Isso permitiu, sem dúvida alguma, uma melhor percepção social dessas substâncias, cujo uso possui maior aceitação e são vistas como indispensáveis para sociabilidade e lazer, por exemplo.
As drogas ilícitas, por sua vez, são produzidas e comercializadas por meio de um comércio clandestino, o qual não possui qualquer intenção com a qualidade do seu produto. Os usuários frequentes de drogas ilícitas enfrentam estigmas sociais e são, na maioria das vezes, marginalizados.
Perigos das drogas lícitas e ilícitas
Os perigos das drogas, sejam lícitas, sejam ilícitas, não estão relacionados apenas à saúde tanto física quanto psicológica do usuário, mas também a problemas mais complexos, que envolvem dependência química, marginalização, problemas sociais e violência, por exemplo.
Em 2015, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) fez um levantamento que concluiu que 46 milhões de brasileiros, entre 12 e 65 anos, haviam ingerido bebidas alcoólicas até 30 dias anteriores à pesquisa. Nessa mesma pesquisa, constatou-se que 2,3 milhões apresentaram comportamentos de dependência do álcool. Essa mesma pesquisa ainda revelou alguns dados interessantes:
- 5 milhões de brasileiros afirmaram ter usado uma droga ilícita nos 12 meses anteriores à pesquisa, com maior destaque para maconha, seguida do crack;
- 1,4 milhão de brasileiros, de 12 a 65 anos, disseram já ter utilizado crack alguma vez na vida;
- 3% dos entrevistados afirmaram que já tomaram medicamentos controlados sem receita ou de forma inadequada nos 12 meses anteriores à pesquisa.
Dados da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) demonstram que o uso nocivo de bebidas alcoólicas provoca cerca de 3 milhões de mortes por ano ao redor do mundo, representando 5,3% dos óbitos totais. O consumo exagerado e nocivo de álcool é mais predominante em homens. Dados de 2021 apontaram que a mistura entre álcool e direção causou a morte de 10887 pessoas, uma média de 1,2 óbito por hora. Cerca de 5,4% dos brasileiros admitiu dirigir após consumir bebida alcoólica.
Por sua vez, o tabagismo é classificado como uma doença crônica, estando no grupo dos transtornos mentais, comportamentais ou de desenvolvimento. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que mais de 8 milhões de pessoas morrem todos os anos em decorrência do uso do tabaco. Vale lembrar ainda que não só os fumantes vêm ao óbito, uma vez que, nesse total, existem cerca de 1,2 milhão de fumantes passivos. No Brasil, dados apontam mais de 400 mortes diárias por conta de cigarro, com quadros de doenças cardíacas, de cânceres e de doença pulmonar obstrutiva crônica.
As drogas lícitas, sendo de mais fácil aquisição e de maior aceitação por parte da população, acaba sendo vista como “menos danosa”, o que é, na verdade, uma mentira. Não só isso, o consumo pode ocorrer entre adolescentes e até mesmo crianças. Jovens são mais suscetíveis às pressões por parte de usuários conhecidos e próximos, o que faz despertar a curiosidade, iniciando, assim, o consumo. Muitos, entretanto, não parecem ter noção dos riscos associados ao consumo.
As drogas, de maneira geral, desenvolvem quadros de dependência, estimulando o usuário a fazer um uso contínuo e prolongado. Além dos problemas sociais envolvidos no vício, o uso prolongado de substâncias pode trazer danos severos à saúde tanto física quanto mental. No caso da metanfetamina, o uso prolongado pode desencadear em episódios de depressão, já a heroína pode causar subnutrição, constipação, menstruação irregular, apatia e sedação. O uso prolongado de ecstasy pode danificar o cérebro, o que pode ocasionar em depressão grave e em perda de memória.
Além disso, muitas drogas ilícitas, sendo produzidas de forma clandestina e sem qualquer controle de qualidade, acabam trazendo danos paralelos aos usuários. É o caso de comprimidos de ecstasy, que podem conter outras substâncias perigosas, ou como a maconha, cuja fumaça pode conter muito mais alcatrão que o cigarro, expondo os usuários a um maior risco de desenvolvimento de câncer de pulmão, dentre outras doenças respiratórias.
O crack, por sua vez, apresenta um fator de risco específico, que é o fato de o usuário não conseguir sair do local onde comprou sua droga, uma vez que o curto tempo de duração dos seus efeitos estimula o consumo compulsivo. Nessas regiões, podem acabar sendo desenvolvidas outras doenças, como infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), hepatites e tuberculose. Muitos usuários de crack buscam o isolamento, dificultando o tratamento e a aproximação humana.
Vale ainda dizer que drogas lícitas podem desencadear o uso de drogas ilícitas. Muitos são os que relatam terem iniciado o uso de drogas lícitas, até experimentarem drogas ilícitas.
Fontes
CALDEIRA, B. D. et. al. Glossário de termos sobre drogas. Brasília: Centro de Estudos sobre Drogas e Desenvolvimento Social Comunitário (Cdesc), Sistema Integrado de Monitoramento de Cultivos Ilícitos da Colômbia (Simci), Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), Ministério da Justiça e Segurança Pública, 2023.
CENTRO DE INFORMAÇÕES SOBRE SAÚDE E ÁLCOOL – CISA. Efeitos do álcool. CISA. 14 set. 2012. Disponível em: https://cisa.org.br/sua-saude/informativos/artigo/item/51-efeitos-do-alcool.
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