Peculiaridades relativas ao emprego de alguns pronomes
Atentemo-nos aos dizeres do grande escritor modernista Oswald de Andrade:
Pronominais
Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro
Oswald de Andrade
Traços de cunho ideológico à parte, focaremos nossa atenção no primeiro verso da primeira estrofe e no último da segunda. Tais excertos, quando comparados mediante a linguagem coloquial e a padrão, nos conduzem à ideia de que somos compelidos a seguir um sistema convencional, pré-determinado pela norma culta que rege a linguagem. Nada implicaria na alteração de sentido se optássemos por utilizar o segundo exemplo, mas o fato é que este não se adéqua à modalidade culta.
O exemplo foi somente para ilustrar uma recorrente prática no que se refere ao emprego inadequado de alguns pronomes, assim como tantas outras ocorrências, todas concernentes à classe em questão. Assim, no intuito de familiarizarmo-nos com o assunto, sobretudo no sentido de constatarmos alguns “desvios” e, consequentemente, colocarmos em prática os conhecimentos adquiridos, analisemos:
Desejamos uma sociedade onde prevaleça mais igualdade e menos injustiça X Desejamos uma sociedade na qual prevaleça mais igualdade e menos injustiça.
O termo “onde” não se adéqua ao discurso, visto que sintaticamente falando ele exerce a função de adjunto adverbial de lugar. Portanto, o correto é optarmos pela segunda alternativa, pois o pronome relativo “na qual” cumpre suas reais funções, ou seja, a de substituir seu antecedente (o substantivo “sociedade”).
Márcia penteou seus cabelos X Márcia penteou os cabelos.
O emprego do pronome possessivo implica tão somente em uma redundância, haja vista que a ideia de posse já está explícita, pois os cabelos pertencem ao praticante da ação (no caso, Márcia). Assim sendo, o correto é utilizarmos a segunda opção.
Este é seu amigo X Esse é seu amigo.
Temos que o pronome demonstrativo “este” indica algo que está próximo à pessoa que fala, e o pronome “esse”, próximo à pessoa com quem se fala. Logo, o correto é dizermos : Esse é seu amigo.
O uso da expressão o (a) mesmo (a) em detrimento ao emprego de um pronome:
Não toque neste aparelho, pois o mesmo está com defeito X Não toque neste parelho, pois ele está com defeito.
O uso da expressão o (a) mesmo (a) em detrimento ao emprego de um pronome é considerada errônea, visto que nesse caso o ideal é optarmos por utilizá-lo, pois assim estabeleceríamos a correta atribuição, constatando-se como verdadeira a segunda alternativa.
Eu o amo X Eu lhe amo
Este caso é um típico exemplo relacionado à transitividade verbal, uma vez que o emprego do pronome está a ela associada. De tal modo, o verbo amar classifica-se como transitivo direto, pois quando amamos, amamos alguém, sem o uso da preposição. Certo é dizermos: Eu o amo.
Isto é para eu fazer X Isto é para mim fazer
Quando analisada, a oração nos revela que “eu” é o sujeito desta, e se encontra anteposto a um verbo no infinitivo. Logo, o pronome oblíquo não funciona como sujeito, e sim como complemento, como por exemplo: As encomendas foram entregues para mim. Portanto, tem-se como correta a expressão: Isto é para eu fazer.
Por Vânia Duarte
Graduada em Letras