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Crônica

A crônica é um gênero textual que se caracteriza por retratar questões vinculadas ao cotidiano, de modo, ao mesmo tempo, leve e crítico.
A crônica volta-se para questões relativas ao cotidiano.
A crônica volta-se para questões relativas ao cotidiano.

Diariamente, assuntos relacionados ao cotidiano acabam virando temas de conversas entre amigos ou familiares: uma festa que aconteceu na noite passada, um acidente de trânsito, um encontro inusitado em um restaurante etc. Esses textos que narram e refletem o dia a dia são chamados de crônica. Tradicionalmente, jornais mantêm uma seção de crônicas na parte reservada aos textos opinativos. Além disso, alguns vestibulares solicitam de seus candidatos a produção do gênero em questão.

Características

A principal característica da crônica localiza-se na sua temática: o cotidiano é o grande assunto desse gênero. Nesse sentido, quase tudo que, de alguma forma, é significativamente importante para alguém transmitir a seus companheiros ou conhecidos pode ser um motivo para escrever uma crônica. Nos jornais, é normal que os cronistas abordem os assuntos mais importantes ou inusitados dos dias anteriores.

Além da temática, é importante lembrar que, em geral, a variante coloquial da língua é usada na crônica. Uma linguagem leve, com marcas de pessoalidade, portanto, é muito bem-vinda nesse tipo de texto.

Por fim, é possível dizer que existem alguns tipos de crônica, conforme se explica a seguir.

Tipos

O gênero crônica pode ser subdividido de diversas formas, a depender dos critérios utilizados. Não obstante, os tipos mais comuns dessas produções textuais são a crônica narrativa e a jornalística.

Leia também: Diferenças entre gêneros e tipos textuais

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  • Narrativa

A tipologia predominante nesse tipo de crônica é a narrativa, conforme o nome já sugeria. Isso significa que um enredo com personagens, tempo e espaço será contado. Tradicionalmente, não há espaço para longas reflexões ou argumentação nesse tipo de crônica. Para saber mais, acesse o texto: Crônica Narrativa.

  • Jornalística

Como se supõe, essas crônicas são publicadas nos jornais. Nesse tipo de texto, além da tipologia narrativa, é comum também perceber trechos reflexivos e, em alguns casos, até argumentativos.

  • Humorística

Para além das divisões anteriormente citadas, é possível perceber que, na grande maioria das vezes, a crônica é um gênero humorístico. Seja com um humor mais sutil ou com uma acidez declarada, os cronistas, não raro, recorrem à comédia e buscam o riso. Vale dizer, não obstante, que isso não significa, naturalmente, que tais textos não sejam permeados por críticas duras e implacáveis.

Leia também: Como começar uma redação?

Como fazer

Para produzir uma boa crônica, é necessário estar atento ao cotidiano. Buscar os assuntos que, potencialmente, podem tornar-se motivo de escrita é o primeiro passo para escrever. Além disso, lembrar-se de usar uma linguagem leve, com tons de coloquialidade e, se for o caso, construir discursos humorísticos para ampliar a leveza da crônica.

Veja, a seguir, um texto de Carlos Drummond de Andrade que, por tematizar o cotidiano, pode ser encarado como uma espécie de crônica poética e narrativa:

Morte do leiteiro

A Cyro Novaes

Há pouco leite no país,
é preciso entregá-lo cedo.
Há muita sede no país,
é preciso entregá-lo cedo.
Há no país uma legenda,
que ladrão se mata com tiro.
Então o moço que é leiteiro
de madrugada com sua lata
sai correndo e distribuindo
leite bom para gente ruim.
Sua lata, suas garrafas
e seus sapatos de borracha
vão dizendo aos homens no sono
que alguém acordou cedinho
e veio do último subúrbio
trazer o leite mais frio
e mais alvo da melhor vaca
para todos criarem força
na luta brava da cidade.

Na mão a garrafa branca
não tem tempo de dizer
as coisas que lhe atribuo
nem o moço leiteiro ignaro,
morador na Rua Namur,
empregado no entreposto,
com 21 anos de idade,
sabe lá o que seja impulso
de humana compreensão.
E já que tem pressa, o corpo
vai deixando à beira das casas
uma apenas mercadoria.

E como a porta dos fundos
também escondesse gente
que aspira ao pouco de leite
disponível em nosso tempo,
avancemos por esse beco,
peguemos o corredor,
depositemos o litro...
Sem fazer barulho, é claro,
que barulho nada resolve.

Meu leiteiro tão sutil
de passo maneiro e leve,
antes desliza que marcha.
É certo que algum rumor
sempre se faz: passo errado,
vaso de flor no caminho,
cão latindo por princípio,
ou um gato quizilento.
E há sempre um senhor que acorda,
resmunga e torna a dormir.

Mas este acordou em pânico
(ladrões infestam o bairro),
não quis saber de mais nada.
O revólver da gaveta
saltou para sua mão.
Ladrão? Se pega com tiro.
Os tiros na madrugada
liquidaram meu leiteiro.
Se era noivo, se era virgem,
se era alegre, se era bom,
não sei,
é tarde para saber.

Mas o homem perdeu o sono
de todo, e foge pra rua.
Meu Deus, matei um inocente.
Bala que mata gatuno
também serve pra furtar
a vida de nosso irmão.
Quem quiser que chame médico,
polícia não bota a mão
neste filho de meu pai.
Está salva a propriedade.
A noite geral prossegue,
a manhã custa a chegar,
mas o leiteiro
estatelado, ao relento,
perdeu a pressa que tinha.

Da garrafa estilhaçada,
no ladrilho já sereno
escorre uma coisa espessa
que é leite, sangue... não sei.
Por entre objetos confusos,
mal redimidos da noite,
duas cores se procuram,
suavemente se tocam,
amorosamente se enlaçam,
formando um terceiro tom
a que chamamos aurora.

Carlos Drummond de Andrade

Publicado por Fernando Marinho
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