Hipertexto
Você sabe o que é o hipertexto?
Na década de 60, portanto, cinquenta anos atrás, as ciências da computação vislumbravam aquilo que é realidade nos dias de hoje. Contudo, até mesmo a vanguarda do pensamento da época ficaria surpresa com tantos avanços tecnológicos que possibilitaram a livre circulação de informações. Ainda não existia o conceito de internet, mas houve quem ousou imaginar em uma forma diferente de disseminar a cultura e a informação através de meios eletrônicos (quando eles ainda nem existiam!).
Talvez você nunca tenha ouvido falar em Theodor H. Nelson, mas certamente deve muito a ele. Ted Nelson, como ficou popularmente conhecido, foi a mente brilhante que primeiro pensou sobre a Tecnologia da Informação. Filósofo, sociólogo e pioneiro da TI, Nelson foi também o criador do termo hipertexto, conceito que estaria presente em um tipo de texto eletrônico criado através de uma tecnologia radicalmente nova. Visionário, não? Mas você deve estar se perguntando: “O que a Tecnologia da Informação e a Linguística têm em comum?”. Pode parecer improvável, mas as duas ciências estabelecem relações dialógicas interessantíssimas!
Filósofo e sociólogo estadunidense, Ted Nelson foi o pioneiro da Tecnologia da Informação e inventor dos termos hipertexto e hipermídia
Nelson definiu o hipertexto como “escritas associadas não sequenciais, conexões possíveis de se seguir, oportunidades de leitura em diferentes direções”. A partir de sua invenção, concretizada muitos anos depois, ele mudaria drasticamente nossos hábitos de leitura e consulta à informação. Se hoje você tem acesso rápido a diversos tipos de texto, certamente deve essa comodidade ao pioneiro da Tecnologia da Informação. Antes do advento da internet e antes mesmo de ela ser acessível para a maioria dos habitantes do planeta, qualquer tipo de consulta dava-se através de livros. Um simples trabalho escolar demandava certa logística: era preciso deslocar-se até uma biblioteca e consultar livros e enciclopédias que disponibilizassem a informação necessária. Nada de meios eletrônicos: entre nós e a informação, apenas o papel.
Hoje, entre nós e a informação, papéis e nuvens de elétrons, nada mais prático do que uma busca rápida na internet. Foi nessa imaterialidade que o hipertexto encontrou o meio de vida ideal. Se antes ele existia nas notas de rodapé, nos dicionários e nos verbetes de enciclopédia, com o advento da internet ele ganhou dinamismo e força através dos links e hiperlinks, que alteram a direção de nossas leituras ao construir uma rede de informações que nos leva a diferentes caminhos. Quando você lê um conteúdo na internet, tem a opção de alterar, a qualquer momento, o direcionamento de sua busca, e isso só é possível por causa do hipertexto, um tipo muito moderno e popular de intertextualidade.
Criar meu web site
Fazer minha home-page
Com quantos gigabytes
Se faz uma jangada
Um barco que veleje
Que veleje nesse infomar
Que aproveite a vazante da infomaré
Que leve um oriki do meu velho orixá
Ao porto de um disquete de um micro em Taipé
Um barco que veleje nesse infomar
Que aproveite a vazante da infomaré
Que leve meu e-mail até Calcutá
Depois de um hot-link
Num site de Helsinque
Para abastecer
Eu quero entrar na rede
Promover um debate
Juntar via Internet
Um grupo de tietes de Connecticut
De Connecticut acessar
O chefe da milícia de Milão
Um hacker mafioso acaba de soltar
Um vírus pra atacar programas no Japão
Eu quero entrar na rede pra contactar
Os lares do Nepal, os bares do Gabão
Que o chefe da polícia carioca avisa pelo celular
Que lá na praça Onze tem um videopôquer para se jogar.
(Pela internet – Gilberto Gil)
A música de Gilberto Gil define com maestria e metáforas o conceito de hipertexto desenvolvido por Ted Nelson. Contudo, apesar da associação direta entre hipertexto e os ambientes virtuais, vale ressaltar que o hipertexto já podia ser encontrado nos livros, isso porque ele nada mais é do que um tipo de intertextualidade que está intrinsecamente ligado à evolução dos modos de leitura e organização da escrita, área que compete à linguística textual. O hipertexto, como conhecemos hoje, comprova a evolução dos modos de escrita/leitura não linear e não hierarquizada, que permite ao leitor alterar rotas e selecionar de maneira quase instantânea aquilo que quer ler. Mas é preciso cautela para não substituir leituras profundas por informações superficiais que nos dão a falsa sensação do conhecimento. Pense nisso!