Islamofobia

A islamofobia é um problema que afeta boa parte das pessoas que pertencem à religião islâmica ou mesmo pessoas que são árabes e não seguem o islamismo, sobretudo se essas pessoas vivem no Ocidente. A partir do fim do século XX e do início dos anos 2000, impulsionada por eventos que levaram aos noticiários internacionais ataques terroristas praticados por adeptos do islamismo, a islamofobia se intensificou, tornando-se um problema social que se alastra, sobretudo no território norte-americano e europeu.
A cobertura midiática, muitas vezes tendenciosa, bem como a imigração de pessoas de origem árabe nos últimos anos — em especial da Síria (por conta da Guerra na Síria) e da Palestina, por conta do genocídio praticado contra os povos que vivem lá — tem intensificado a islamofobia, que cresce, sobretudo, entre pessoas de visão política mais conservadora dos Estados Unidos e de países europeus, reforçando a xenofobia e os movimentos anti-imigração, supostamente amparados por uma falsa ideia de patriotismo e nacionalismo.
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Resumo sobre islamofobia
- A islamofobia é o preconceito e a discriminação contra muçulmanos.
- A islamofobia pode manifestar-se diretamente (discriminação e violência individualizada e personificada) ou indiretamente (de forma estrutural).
- A islamofobia manifesta-se por políticas públicas, discursos midiáticos, discriminação, violência e até mesmo piadas.
- Leis e até ataques violentos contra muçulmanos são exemplos de islamofobia.
- A islamofobia deve ser combatida com educação e com as leis.
- No Brasil e no mundo, têm crescido casos de islamofobia motivados por diversos fatores, dentre eles a xenofobia.
O que é islamofobia?
A islamofobia é uma forma de preconceito, geralmente sistêmico e estrutural, manifestada por meio da aversão, discriminação e intolerância contra pessoas que professam a fé islâmica. Fato curioso é que a islamofobia também pode se relacionar com a xenofobia, pois povos de origem árabe que não professam a fé islâmica podem sofrer de islamofobia em culturas ocidentais entre pessoas que não sabem diferenciar um muçulmano de um árabe.
Causas da islamofobia
A islamofobia se intensificou nos últimos anos, sobretudo após o governo estadunidense comandado por George W. Bush iniciar o que chamaram de Guerra contra o Terror, uma resposta aos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001. Nessa ocasião, o governo e parte da imprensa estadunidense capitanearam um movimento para coibir as práticas de terrorismo, implantando um verdadeiro estado de exceção nos Estados Unidos. O problema é que, entre setores mais conservadores, isso ecoou como uma autorização para expressarem seu ódio, partindo do pressuposto de que todo árabe ou praticante do islã é terrorista.
Outro fator que intensificou a islamofobia no mundo ocidental foi a intensificação dos fluxos migratórios de árabes para países ocidentais. Munidos de um sentimento xenofóbico e anti-imigração, movimentos com viés político nacionalista começaram a intensificar suas ações, baseando-se no fato de que o aumento da imigração, supostamente e na visão daquelas pessoas, trouxe consigo o aumento da criminalidade, do desemprego e a consequente piora das condições gerais de vida da população.
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Como a islamofobia se manifesta?
Não há uma fórmula para dizer como a islamofobia é praticada, mas, assim como o racismo, existe uma prática direta de islamofobia e uma islamofobia estrutural, instaurada de maneira mais sorrateira e menos perceptível.
A islamofobia praticada diretamente pode se manifestar por meio da discriminação, de xingamentos, de violência verbal e física e até de piadas envolvendo pessoas islâmicas por conta de sua religião. Geralmente, esses ataques relacionam os muçulmanos a terroristas e criminosos.
A islamofobia de forma estrutural já é mais silenciosa, menos perceptível a um olhar desatento e acontece de forma contínua. Ela não está nas ações diretas de uma pessoa ou grupo, mas se relaciona a essas ações. Ela pode aparecer nas seguintes formas:
- leis e políticas restritivas implementadas contra grupos islâmicos (como proibição do uso do véu para as mulheres, o que é praticado em países como França, Bélgica, Áustria, Suíça, Chade, Gabão, Camarões, Níger, República do Congo, Argélia e Sri Lanka);
- políticas de imigração e de segurança que tratam muçulmanos como suspeitos em potencial;
- narrativas midiático-políticas que associam muçulmanos a terroristas, ao pensamento fundamentalista, a ameaças à cultura ocidental e a uma visão de mundo incompatível com a democracia;
- segregação socioeconômica, pois os imigrantes, como um todo, são submetidos a subempregos, o que é acentuado no caso dos imigrantes muçulmanos. Essas pessoas moram em bairros marginalizados, têm menos acesso a uma educação de qualidade, à saúde e a uma perspectiva de oportunidades, o que mantém a sistemática de exclusão.
Exemplos de islamofobia
De forma estrutural, podemos levantar alguns exemplos emblemáticos de islamofobia, como estes:
- Em 2004, o uso do véu foi proibido na França.
- Em 2011, a Bélgica seguiu com lei parecida, proibindo o uso de vestimentas que cobrem a identidade da pessoa, entre elas os véus islâmicos.
- Em 2021, foi aprovada, na Suíça, por conta de manifestações, uma lei proibindo o uso de capuzes ou outros acessórios que cobrem o rosto, como o véu.
- Nos Estados Unidos, após os ataques de 11 de setembro, muçulmanos e pessoas de origem árabe foram proibidas de voar em voos comerciais sem justificativa.
- Na prática, passageiros muçulmanos são revistados e interrogados com maior frequência em aeroportos nos Estados Unidos e países europeus.
- Ataques no Oriente Médio intensificados após os atentados de 11 de setembro foram intensificados, provocando a morte em massa de civis, sobretudo muçulmanos.
De forma individual, podemos levantar alguns exemplos emblemáticos de islamofobia, como estes:
- Ataque a uma Mesquita na Nova Zelândia, em 2019, por um supremacista branco armado, que matou 51 muçulmanos.
- Protestos islamofóbicos na Suécia e Dinamarca em 2023 promoveram a queima pública do alcorão.
- Em 2015, no município de Niterói, região metropolitana do Rio de Janeiro, foram espalhados na cidade cartazes de grupo inspirado no grupo supremacista estadunidense Ku Klux Klan disseminando ódio contra homossexuais e muçulmanos.|1|
Como combater a islamofobia?
Essa pergunta carrega uma divisão entre duas possibilidades: uma a longo prazo, pensando num futuro com uma sociedade melhor, e outra que resolveria os problemas de imediato para quem sofre a islamofobia.
A longo prazo, o melhor a se fazer é promover a educação contra a islamofobia. Inserir, no currículo da educação formal, conteúdos que ajudem a desmistificar a cultura árabe e o islamismo, ensinando também a tolerância e o respeito. Palestras, rodas de conversa e atividades extracurriculares guiadas por pessoas que pertencem ao islamismo podem ajudar bastante. Ações de uma educação informal, envolvendo, por exemplo, a mídia e as outras religiões, também podem ser benéficas. Basta pensarmos que boa parte da islamofobia no mundo hoje advém de uma visão negativa difundida pela mídia tradicional, que lucra explorando a imagem estereotipada dos muçulmanos.
Porém, as ações a longo prazo não são capazes de resolver o problema de quem sofre hoje os efeitos da islamofobia. Portanto, não há outra via possível senão por meio das políticas públicas e de uma legislação capaz de promover a valorização de povos árabes e muçulmanos e de punir diretamente a islamofobia. Isso somente seria possível com a criminalização de discursos de ódio contra muçulmanos (assim como temos a criminalização do racismo no sistema legal brasileiro), a promoção de ações legais para integrar povos muçulmanos no mercado de trabalho, como, por exemplo, isenções fiscais para empregadores que contratarem muçulmanos pagando a mesma faixa salarial para o mesmo cargo de pessoas não árabes e não muçulmanos, e ações que coloquem fim ao sistema de identificação racial como padrão de identificação de possíveis criminosos nas forças policiais e em aeroportos.
Importância de combater a islamofobia
Vivemos em um mundo plural, cada vez mais cosmopolita e conectado. Cada vez mais, temos de lidar com a diferença, com a alteridade, cada vez mais temos que ser mais tolerantes, isto é, temos que agir assim se quisermos uma sociedade melhor, sem guerras, sem discriminação e que preze pela paz. O combate a todas as formas de preconceito é a chave para essa sociedade mais justa e plural.
Pensar na democracia em um mundo plural, como o nosso, significa pensar em todas as formas de existência, não importando a origem étnica, a cor da pele, a religião ou a orientação sexual. Por isso, combater a islamofobia é tão importante quanto combater qualquer forma de preconceito, pois, sem o respeito à pluralidade, não há democracia efetiva.
Crescimento da islamofobia nos últimos anos
Os dados são alarmantes. Entre o início de 2023 e o fim de 2024, os registros de incidentes de ódio contra muçulmanos (físicos e online) dobraram. No Reino Unido, no ano de 2024, houve um crescimento de 74% nos mesmos registros. Espanha e França também têm ganhado destaque no crescimento da islamofobia graças a retóricas islamofóbicas e anti-imigração e, por fim, a Alemanha tem visto ascender um partido político chamado AFD (Alternative für Deutschland – Alternativa para a Alemanha), um partido de extrema-direita que tem como principal lemas a retórica nacionalista e anti-imigração.
Como foi mencionado anteriormente, há todo um conjunto de fatores que fazem impulsionar esse movimento islamofóbico no mundo, passando por discursos políticos e midiáticos, a forma como ataques terroristas são noticiados e até mesmo políticas anti-imigração têm impactado o crescimento da islamofobia no mundo. Questões pontuais, como o ataque terrorista do grupo Hamas sobre Israel — embora não haja consenso se, de fato, o Hamas representa atualmente a autoridade palestina constituída ou não —, também colaboram para o crescimento de um sentimento xenofóbico e islamofóbico, o que tem afetado, sobretudo, setores cristãos que acreditam que a representação de Israel atual é a mesma de Israel descrita na Bíblia.
É importante ressaltar que grupos fundamentalistas e terroristas que se utilizam do islamismo como meio de divulgação de ideais não representam o islamismo. Quando a Al-Qaeda assumiu os ataques de 11 de setembro de 2001, quando também assumiu o ataque terrorista contra a sede do jornal satírico francês Charlie Hebdo, quando houve a intensificação da Guerra na Síria por conta das ações do grupo Estado Islâmico (Isis) e quando o grupo Hamas contra-atacou com uma ofensiva terrorista os ataques que vinha sofrendo do Estado de Israel, houve um crescimento do sentimento islamofóbico.
Islamofobia no Brasil
Como reflexo do que acontece no mundo (e ao contrário do que o senso comum pensa por aqui), há um crescimento da islamofobia no Brasil. Embora não sejam ações tão extremas quanto em alguns países estrangeiros (que resulta do alto fluxo migratório de povos árabes para esses países), há sim casos registrados de discriminação de muçulmanos aqui.
Estudo da Universidade de São Paulo (USP) divulgado pela Agência Brasil constatou que, a partir de outubro de outubro de 2023, ocasião dos ataques terroristas do grupo Hamas sobre civis israelenses, houve uma intensificação da islamofobia no Brasil. Segundo informa texto publicado no portal Agência Brasil:
“Mais de um terço dos homens que participaram da pesquisa (36,8%) afirmou que já havia muita intolerância antes da arremetida do Hamas. Outros 47,2% disseram que havia pouca. Com isso, observou-se que 84% dos muçulmanos do gênero masculino já identificavam atitudes de intolerância em relação à sua comunidade, enquanto apenas 16% negaram a existência dessas manifestações. Quando indagados sobre o que viam após o ataque, 56% deles disseram ter aumentado muito a intolerância, contra 28% que identificaram um pequeno crescimento e 16% que acreditam que o evento não alterou nada.” |2|
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Islamofobia no mundo
Conflitos no Oriente Médio, como a Guerra na Síria e o genocídio na Palestina, a Guerra na Iraque e a Guerra no Golfo ocasionaram a imigração em massa de povos árabes. Os árabes, em sua maioria, professam a fé muçulmana. Com a alta imigração de povos árabes muçulmanos para territórios ocidentais, tivemos como consequência o aumento da islamofobia.
A Guerra contra o Terror, iniciada por George W. Bush, intensificou essa forma de preconceito, encorajando os cidadãos estadunidenses a demostrarem seu preconceito, pois a partir dali o próprio governo estava agindo de maneira a incentivar esta forma de preconceito. Infelizmente, há uma curva ascendente no número de casos de islamofobia no mundo e a tendência é a continuidade por conta do aumento da adesão a movimentos nacionalistas, extremistas e supremacistas.
Notas
CARIELLO, Gabriel. Cartazes de grupo inspirado na Ku Klux Klan ameaçam homossexuais e muçulmanos em Niterói. Disponível em: https://oglobo.globo.com/rio/bairros/cartazes-de-grupo-inspirado-na-ku-klux-klan-ameacam-homossexuais-muculmanos-em-niteroi-17559279.
BOND, Letycia. Relatório mostra aumento de casos de islamofobia após ataque do Hamas. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/internacional/noticia/2023-12/relatorio-mostra-aumento-de-casos-de-islamofobia-apos-ataque-do-hamas.
Fontes
BOND, Letycia. Relatório mostra aumento de casos de islamofobia após ataque do Hamas. Agência Brasil. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/internacional/noticia/2023-12/relatorio-mostra-aumento-de-casos-de-islamofobia-apos-ataque-do-hamas.
CARIELLO, Gabriel. Cartazes de grupo inspirado na Ku Klux Klan ameaçam homossexuais e muçulmanos em Niterói. O Glovo. Disponível em: https://oglobo.globo.com/rio/bairros/cartazes-de-grupo-inspirado-na-ku-klux-klan-ameacam-homossexuais-muculmanos-em-niteroi-17559279.
PORFÍRIO, Francisco. O que é islamofobia?. Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/o-que-e-sociologia/o-que-e-islamofobia.htm.
Ferramentas Brasil Escola




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