História do trabalho

A história do trabalho é longa e passou por muitas transformações, mas o trabalho continua a ser o elemento estrutural da vida social e política. Ela pode ser dividida em antes e depois da Revolução Industrial, fato histórico que consolidou a sociedade capitalista.

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O trabalho na atualidade é marcado pelo uso da tecnologia, sendo organizado pelo modelo de produção conhecido como toyotismo, que abriu caminho para um processo de flexibilização do trabalho, inclusive nos contratos trabalhistas, e foi responsável pelo crescimento da terceirização do trabalho.

Leia também: Trabalho infantil é crime?

Resumo sobre história do trabalho

  • A origem da palavra trabalho vem do latim tripalium, que era um instrumento de tortura formado por três paus ou estacas.
  • No sentido moderno, trabalho é um meio para o sustento pessoal e familiar, assim como algo que dá sentido à existência de uma pessoa.
  • A linha do tempo da história do trabalho pode ser dividida em antes e depois da Revolução Industrial, evento que consolidou a sociedade capitalista.
  • A evolução do trabalho na história levou ao estabelecimento do trabalho assalariado, atualmente marcado pela precarização e informalidade.

Qual a origem do trabalho?

A origem do trabalho é toda atividade na qual o ser humano utiliza sua energia física e psíquica para satisfazer suas necessidades. Apesar de o trabalho não ser exclusividade da nossa espécie, o trabalho humano tem características muito distintas do trabalho de outros animais.

O filósofo alemão Hegel (1770-1831) compreende que o trabalho tem origem numa relação dialética entre o ser humano e a natureza, entre o saber e o fazer, entre a teoria e a prática. O ser humano não consome imediatamente o produto que elabora por meio do trabalho, mas elabora a matéria inicial fornecida pela natureza, atribuindo-lhe um outro valor.

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Nesse sentido, o trabalho é uma atividade exclusivamente humana, porque implica a existência de um projeto mental que determina a conduta a ser desenvolvida para se alcançar um objetivo determinado. 

Sendo assim, Hegel afirma que o trabalho é um aspecto fundamental para a plena realização humana. Ao mesmo tempo em que age por esse movimento de trabalho sobre a natureza e a modifica, o ser humano transforma a sua própria natureza. Essa interpretação da origem do trabalho, contudo, entra em conflito com o significado e a experiência contemporânea do trabalho nas atuais sociedades.

Para bilhões de pessoas, o trabalho é sinônimo de emprego remunerado, e muitas atividades que têm origem no trabalho humano como definido anteriormente são descritas e vivenciadas como ocupações em hora de lazer, como algo que não significa verdadeiramente trabalho.

→ Qual a origem da palavra “trabalho”?

A origem da palavra trabalho, muito antes de sua concepção moderna, é sinônimo de sofrimento, tortura e imobilização forçada. A palavra trabalho vem do latim tripalium, que era um instrumento de tortura formado por três paus ou estacas.

Desenho de um homem preso em um “tripalium”, instrumento de tortura que deu origem à palavra trabalho.
Possível aparência de um “tripalium”, instrumento de tortura romano.[1]

A etimologia da palavra trabalho indica que, historicamente, o trabalho foi associado a um esforço penoso e cheio de sofrimento, sendo as formas de trabalho manual e doméstico deixadas para classes subalternas, dominadas ou escravizadas. Apesar desse sentido negativo, a economia política do século XVIII conseguiu, de alguma forma, mudar o sentido da palavra trabalho para parecer uma atividade nobre e positiva.

Essa mudança foi feita com a ajuda do trabalho de muitos pensadores e intelectuais ligados ao liberalismo e ao utilitarismo, que conferiram ao trabalho a virtude de estar na origem da produção material da vida humana, a nobreza de ser atividade fundamental para a sobrevivência dos indivíduos e o progresso das sociedades. Nesse sentido positivo, trabalho é um meio para o sustento pessoal e familiar, assim como algo que dá sentido à existência de uma pessoa.

→ Videoaula sobre trabalho

Principais tipos de trabalho

→ Trabalho manual e trabalho intelectual

O trabalho manual e o trabalho intelectual são os principais tipos de trabalho que são conhecidos desde a Idade Antiga. Para os antigos, em geral, o trabalho manual era tido como algo degradante e inferior ao trabalho contemplativo, que envolvia a atividade intelectual, artística, política e religiosa.

O trabalho manual costumava ser realizado por escravizados e era associado ao trabalho agrícola, pastoril e doméstico. A aristocracia e demais classes dirigentes da Antiguidade menosprezavam o trabalho manual para, ao mesmo tempo, produzir a diferença social que os distinguia das classes subordinadas.

Desenho de um homem preso em um “tripalium”, instrumento de tortura que deu origem à palavra trabalho. Mãos de um artesão riscando objeto de madeira para exemplificar o trabalho manual.
O trabalho manual envolve o trabalho intelectual, mas antigamente era visto como inferior.

O trabalho manual, na verdade, está incorporado ao trabalho intelectual, como o ato de planejar e cortar uma pedra para fazer uma estante.

→ Trabalho assalariado

No sentido moderno da palavra trabalho, o trabalho assalariado é a forma mais comum de se realizar trabalho na sociedade. O trabalho assalariado está na origem da produção de algum bem ou serviço que pode ser vendido no mercado.

No trabalho assalariado, o trabalhador é livre, porque não está preso à terra ou propriedade de alguém, mas deve cumprir os termos de um contrato de trabalho, que visa garantir que o trabalhador venderá a sua força de trabalho em troca de salário, pago em moeda, e que o produto do trabalho pertence ao empregador, que paga o salário, e não ao trabalhador.

Além de contratos jurídicos, o trabalho assalariado é regulamentado por leis trabalhistas, que buscam proteger o trabalhador e evitar abusos contra os seus direitos.  O trabalho assalariado é o trabalho de produção, sendo percebido como merecedor de salário, e está inserido no mercado da economia capitalista, organizada com base em empresas privadas, escritórios, fábricas, fazendas etc.

→ Trabalho de reprodução social ou trabalho doméstico

O mesmo não ocorre com o trabalho de reprodução social, que é socialmente desvalorizado, mesmo quando se realiza por meio de uma relação de emprego. Especialmente se for realizado por mulheres, o trabalho de reprodução social costuma ser mal pago e não ter prestígio. O trabalho da reprodução social pode ser desempenhado como trabalho pago em hotéis e escolas, por exemplo, mas mesmo assim desfruta de baixo status social e remuneração.

O trabalho da reprodução social é aquele que cria e reproduz a sociedade em que vivemos. O trabalho reprodutivo cuida de uma condição necessária para que haja a produção de bens e serviços: a existência de pessoas que trabalham. Para que a produção econômica capitalista continue existindo, é fundamental que as pessoas que produzem sejam criadas, educadas.

A maior parte do trabalho de reprodução social acontece no ambiente familiar, no qual as mulheres costumam cuidar dos filhos, dos doentes e dos idosos, da preparação de alimentos, da limpeza e da organização da casa. Por isso, também é chamado de trabalho doméstico. O trabalho doméstico é definido por oposição à noção de trabalho produtivo.

Desenho de um homem preso em um “tripalium”, instrumento de tortura que deu origem à palavra trabalho. Mãos de um artesão riscando objeto de madeira para exemplificar o trabalho manual. Mulher carregando bebê e dobrando roupas em referência ao trabalho doméstico.
O trabalho de reprodução social é atribuído quase exclusivamente às mulheres.

A ideia de trabalho doméstico está ligada às relações afetivas da família, enquanto o trabalho produtivo depende das relações sociais com os outros. Tradicionalmente, o trabalho doméstico está baseado na disponibilidade das mulheres para realizá-lo. Em alguns casos, esse trabalho de reprodução social, que envolve desde a manutenção do lar até a educação dos filhos, é atribuído quase exclusivamente às mulheres, o que possibilita aos homens legitimamente pretender escapar de cumprir alguns papéis sociais. 

Esse trabalho de reprodução social corresponde à chamada “economia do cuidado”, um conjunto de atividades não remuneradas, geralmente exercidas por mulheres, como a limpeza da casa, a preparação de alimentos, o cuidado com crianças, idosos e doentes na família.

Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) do IBGE, as horas dedicadas ao trabalho reprodutivo varia muito de acordo com o gênero. Todas as mulheres dedicam, em média, mais de 20 horas semanais a afazeres domésticos e cuidados, enquanto os homens dedicam apenas 11 horas ao trabalho de reprodução social. Se esse tipo de trabalho fosse remunerado, estima-se que o PIB do Brasil poderia crescer mais de R$ 600 bilhões de reais.  

Veja também: Existe trabalho escravo no Brasil hoje?

Linha do tempo da história do trabalho

Desenho de um homem preso em um “tripalium”, instrumento de tortura que deu origem à palavra trabalho. Mãos de um artesão riscando objeto de madeira para exemplificar o trabalho manual. Mulher carregando bebê e dobrando roupas em referência ao trabalho doméstico. Linha do tempo da história do trabalho. [imagem_principal]
Linha do tempo da história do trabalho. (Créditos: Gabriel Franco | Mundo Educação)

A linha do tempo da história do trabalho pode ser dividida em antes e depois da Idade Moderna, que começa por volta do século XV, especialmente os séculos XVIII e XIX, quando a sociedade capitalista foi consolidada pela Revolução Industrial. Alguns séculos antes, as sociedades eram baseadas no trabalho comunitário, na agricultura, e se organizavam a partir dos costumes e de um pensamento mágico-religioso.

Caçar, cultivar alimentos, construir, criar animais eram trabalhos ligados à vida dessas sociedades e também aos afazeres religiosos e festividades para os deuses. O sentido do trabalho, antes do capitalismo, era mais amplo e dotado de significados do que simplesmente obter o sustento pessoal e familiar.

Mas em meados do século XVIII a sociedade capitalista encontrou plenas condições para a sua expansão. O intenso desenvolvimento das máquinas, que substituiu a produção artesanal e manufatureira, transformou o capitalismo numa realidade sem retorno. Nesse momento, a divisão social do trabalho foi marcada por duas classes fundamentais e antagônicas, sem as quais o capitalismo não existiria.

De um lado, os capitalistas, que são os proprietários dos meios de produção, e, do outro lado, os proletários, que se encontram privados de toda propriedade dos meios de produção e só podem vender a sua força de trabalho, isto é, a sua capacidade para produzir, em troca de um salário.

Evolução do trabalho na história

A evolução do trabalho na história tem uma mudança significativa na Idade Moderna, especialmente a partir do século XVIII e XIX, no contexto marcado pelas revoluções industriais e pela consolidação do capitalismo.

→ O trabalho nas sociedades tradicionais

Nas sociedades pré-capitalistas, o trabalho era realizado na vida comunitária, na agricultura e no pastoreio, sendo organizado por costumes e valores totalmente diferentes da lógica científica e racional que organiza o trabalho no capitalismo. Caçar animais, cultivar os alimentos, construir e criar animais eram trabalhos que estavam no centro da vida das sociedades tradicionais, mas também estavam articulados a mecanismos simbólicos como as festividades, a religião e os mitos.

Nas sociedades pré-capitalistas, o sentido do trabalho era mais amplo e dotado de um significado que extrapolava a dimensão da necessidade de sustentar uma família.

→ O trabalho escravo na Idade Antiga

A evolução do trabalho na história passa ainda pelo trabalho escravo. Na Antiguidade, entre gregos e romanos, mas também os egípcios e outros povos, o trabalho escravo transformou os indivíduos em mercadoria. A mão de obra escrava foi fundamental para a formação das sociedades antigas, justamente porque, além do seu trabalho exaustivo, o comércio de escravos tornou-se um negócio muito rentável, uma fonte imediata de recursos e de acumulação de riqueza.

→ O trabalho servil na Idade Média

O trabalho servil foi predominante na Europa, entre os séculos X e XVIII, sendo uma relação de trabalho diferente da escravidão. O trabalho servil acontecia onde havia uma classe de proprietário de terras e outra de dependentes sem terra. Os dependentes eram os servos, que trabalhavam nas terras dos grandes proprietários em troca de alimentos e condições mínimas de subsistência, como segurança para a família do servo e um pedaço de terra para ele cultivar em benefício próprio.

Desenho de um homem preso em um “tripalium”, instrumento de tortura que deu origem à palavra trabalho. Mãos de um artesão riscando objeto de madeira para exemplificar o trabalho manual. Mulher carregando bebê e dobrando roupas em referência ao trabalho doméstico. Linha do tempo da história do trabalho. [imagem_principal] Servos trabalhando na terra de seus senhores em referência ao trabalho servil.
A servidão foi a base do feudalismo na Europa.

Ao contrário da escravidão, no trabalho servil o trabalhador era livre, mas estava atrelado ao trabalho na terra, sem possibilidade de mobilidade social ou de se libertar desse vínculo com o trabalho com o arado para cultivar a terra, o trabalho doméstico, a produção artesanal e as trocas comerciais mais simples.

O trabalho servil foi a base do feudalismo na Europa, sustentando uma sociedade bastante hierarquizada, com opressão aos servos e, ao mesmo tempo, lealdade aos senhores proprietários da nobreza.

→ O trabalho assalariado na Idade Moderna

A transição para o trabalho assalariado aconteceu no contexto da Revolução Industrial, no decorrer dos séculos XVIII e XIX, inicialmente na Inglaterra e depois se espalhou por toda Europa e o mundo colonizado pelos seus impérios. No trabalho assalariado, o trabalhador não está preso à terra ou propriedade de um senhor, representando o fim dos contratos servis, que, desde a Idade Média, regulavam o trabalho dos camponeses e artesãos para a nobreza.

Fotografia antiga de homens operando máquinas em uma fábrica, em texto sobre história do trabalho.
O trabalho assalariado surgiu no contexto da Revolução Industrial.[2]

→ O trabalho na atualidade: precarização e informalidade

O trabalho na atualidade é marcado pelo uso da tecnologia para organizar o trabalho e a produção ao redor do mundo. O atual modelo de produção é marcado também pelo toyotismo, um modelo produtivo criado no Japão pelo engenheiro Taiichi Ohno (1912-1990) e experimentado na fábrica da montadora Toyota.

O toyotismo busca articular duas coisas: maior produtividade e menor quadro de funcionários. No toyotismo, o fluxo de produção é estabelecido pela demanda do mercado consumidor, sem gerar um acúmulo no estoque de produtos.

O toyotismo abriu caminho para um processo de flexibilização do trabalho, inclusive nos contratos trabalhistas, sendo responsável pelo crescimento da terceirização do trabalho. Se a produção é por demanda, por que a empresa vai manter um trabalhador por um contrato fixo?

Trabalhadores de uma indústria operando máquinas em referência às formas de trabalho atuais.
O modelo toyotista busca constante aperfeiçoamento tecnológico e exige mão de obra cada vez mais qualificada.

Nesse processo, o trabalho na atualidade exige que o trabalhador seja polivalente, ou seja, um trabalhador multitarefas, que deixa de ser especializado em uma única função e passa a ser requisitado para executar as mais variadas ações. Nesse sentido, existe uma tendência inevitável para o aumento do desemprego, da precarização do trabalho e da informalidade.

História do trabalho no Brasil

A história do trabalho no Brasil mudou completamente no século XVI, com a expansão marítima europeia, quando o trabalho escravo de indígenas e africanos foi introduzido no Brasil. Os portugueses, que sempre menosprezaram o trabalho manual, foram os escravizadores que se beneficiaram no início. Mas o trabalho escravo continuou no Brasil mesmo depois da independência, durante o período do império, sendo encerrado apenas em 1888, quando o modelo produtivo baseado na escravidão foi oficialmente encerrado.

A história do trabalho no Brasil, na transição para o trabalho livre e industrial, no fim do século XIX e início do século XX, foi marcada pela introdução de europeus como mão de obra nas lavouras de café e nas fábricas.

Com a consolidação do trabalho livre e assalariado, ainda no fim do século XIX, surgiram as primeiras leis trabalhistas, que se intensificaram junto com a industrialização do país, especialmente a partir da década de 1930, quando o trabalho urbano e industrial ganhou destaque.

Ilustração de mãos segurando uma carteira de trabalho e a CLT em texto sobre história do trabalho.
A Consolidação das Leis Trabalhistas, em 1943, foi um marco nas relações de trabalho no Brasil.[3]

Durante a chamada Era Vargas (1930-1945), período marcado pelo governo de Getúlio Vargas, foi criado o Ministério do Trabalho (1930) e houve a Consolidação das Leis Trabalhistas - CLT (1943), o que foi um marco importante na proteção dos trabalhadores e na organização das relações de trabalho na história do Brasil. A CLT garante direitos como a jornada de trabalho limitada, salário mínimo, férias remuneradas, FGTS e décimo terceiro salário.

Na última década, a história do trabalho no Brasil passou por transformações muito profundas. A legislação trabalhista foi modificada, especialmente com a reforma trabalhista de 2017, que flexibilizou as relações de trabalho e adaptou o mercado às novas formas de organizar o trabalho, como o trabalho uberizado na economia digital.

Relação entre trabalho e sociedade

A relação do trabalho e sociedade pode ser observada em dois aspectos. O primeiro aspecto é que, na sociedade capitalista, o trabalho rende um meio de sustento pessoal e familiar, sendo transformado numa necessidade para todos que desejam participar da vida social com algum status e prestígio.

O segundo aspecto é que o trabalho, em geral, tem um valor social e político, sendo um elemento estrutural da vida em sociedade. É o que observamos no fenômeno da divisão social do trabalho, uma característica indiscutível de todas as sociedades humanas. É o trabalho dos membros de uma sociedade, cada um exercendo a sua profissão, que vai construir o futuro e o presente daquela sociedade.

→ Relações contemporâneas entre trabalho e sociedade

  • Uberização do trabalho

Nas relações contemporâneas de trabalho e sociedade, algumas tendências podem ser observadas. Uma delas é a uberização do trabalho, um novo processo de trabalho que expressa o surgimento de novos métodos e procedimentos para organizar o trabalho humano, utilizando ferramentas ou instrumentos de produção para a gestão e controle da força de trabalho.

A uberização representa uma tendência a se espalhar por todas as relações de trabalho na sociedade. A uberização é o resultado de novos arranjos produtivos possibilitados pelo avanço das tecnologias da informação e comunicação. Na prática, a uberização do trabalho é uma forma de eliminar direitos, transferir riscos e custos para os trabalhadores.

A uberização do trabalho está na enorme quantidade de trabalhadores controlados por empresas que operam por meio de plataformas digitais. Nos próximos anos, o trabalho será definido cada vez mais por esse tipo de relação trabalhista, que representa a persistência dos mecanismos de exploração do trabalho no capitalismo tardio.

  • Empreendedorismo e precarização do trabalho

Nos últimos anos, tanto no Brasil quanto no mundo, há uma forte exaltação do empreendedorismo. No entanto, o conceito de empreendedor vem sendo utilizado para caracterizar relações de trabalho marcadas pela ausência de direitos, retirando do conceito de empreendedor uma característica fundamental, na sua formulação por Joseph Schumpeter: a inovação.

Ainda que o discurso da flexibilidade na escolha do horário de trabalho, da promessa de ganhos de acordo com a dedicação investida e da tão propalada ausência de patrão atraia diversos trabalhadores, a realidade de dificuldades pode ainda se impor, com jornadas exaustivas e extenuantes, baixos rendimentos.

O desenvolvimento tecnológico, com o uso de aplicativos, ampliou ainda a impessoalidade das formas de exploração e colocam os trabalhadores em novas formas de sujeição. Além da própria força de trabalho, os trabalhadores precarizados ainda fornecem os instrumentos laborais, em modelos predeterminados e sem margem para qualquer inovação, nos termos destacados por Schumpeter.

Saiba mais: Qual é a origem do Dia do Trabalho?

Exercícios resolvidos sobre história do trabalho

QUESTÃO 1

(Enem 2020)

É certo que também o animal produz. Constrói para si um ninho, casas, como as abelhas, os castores, as formigas etc. Mas produz unicamente o que necessita imediatamente para si ou sua prole; produz unicamente por força de uma necessidade física imediata, enquanto o homem produz inclusive livre da necessidade física e só produz realmente liberado dela; o animal produz somente a si mesmo, enquanto o homem reproduz para natureza inteira.

QUINTANEIRO, T.; BARBOSA, M. L. O.; OLIVEIRA, M. G. Um toque de clássicos: Durkheim, Marx e Weber. Belo Horizonte: UFMG,  (adaptado).

Na perspectiva do texto, o trabalho humano se diferencia da produção de outros animais em razão da

a) presença de atividade criativa.

b) realização de práticas imitativas.

c) busca de sobrevivência individual.

d) modificação de paisagens naturais.

e) existência de organização coletiva.

Resposta: A. Segundo o texto, a diferença entre o ser humano e os animais surge por conta da presença da criatividade na realização de suas criações, podendo produzir sem ser somente para nutrir suas necessidades básicas e imediatas, diferentemente dos demais animais.

QUESTÃO 2

(UERJ)

Ilustração irônica de trabalhadores remando em um barco, em texto sobre história do trabalho.

(Laerte, blogdosakamoto.blogosfera.uol.com.br, 22/10/2017)

A charge de Laerte ironiza mudanças recentes no campo dos direitos trabalhistas, em sociedades capitalistas contemporâneas. Essas mudanças provocam o seguinte efeito para o mundo do trabalho:

a) erradicação de condições laborais análogas à escravidão.

b) restrição de práticas econômicas associadas à uberização.

c) ratificação de ações empresariais relacionadas à exploração.

d) substituição de recursos humanos complementares à mecanização.

Resposta: C. Nos últimos anos houve uma onda de flexibilização das leis trabalhistas em diversos países, como o Brasil, no intuito de desonerar o empregador de impostos e obrigações trabalhistas. Contudo, o que se mostrou na realidade foi a precarização das relações trabalhistas, com o aumento na exploração do trabalhador, com jornadas mais longas de trabalho e menor remuneração, além do fim do amparo ao trabalhador em casos de doenças, ou acidentes relacionados ao trabalho.

Créditos das imagens

[1] Wikimedia Commons

[2] Wikimedia Commons

[3] Wikimedia Commons

Fontes

ANTUNES, Ricardo. Os sentidos do trabalho. Rio de Janeiro: Boitempo, 2009.

HOBSBAWN, Eric J. Mundos do trabalho: novos estudos sobre história operária. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2000.

PINTO, Geraldo Augusto. A organização do trabalho no século XX: taylorismo, fordismo e toyotismo. São Paulo: Expressão Popular, 2007.

Escritor do artigo
Escrito por: Rafael Pereira da Silva Mendes Licenciado e bacharel em História pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Atuo como professor de Sociologia, Filosofia e História e redator de textos.

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