Trabalho
Para definirmos o que é trabalho, é preciso antes compreendermos por que trabalhamos e as razões pelas quais justificamos a dedicação de 8 horas, as vezes mais, de nossas vidas a uma determinada atividade, com o fim último de obtermos o salário ao fim do mês. A resposta pode parecer óbvia: para nos sustentar. Mas a história nos mostra que a associação entre trabalho e salário é relativamente recente, tendo se configurado no cenário da revolução industrial.
Karl Marx é um dos maiores teóricos que trabalhou com os problemas e as questões relacionadas às relações do trabalho, do capital e do trabalhador. Para Marx, existe uma diferença histórica nas relações de produção capitalistas e nas relações de produção pré-capitalistas, sendo que a primeira se caracteriza pela impessoalidade do trabalhador com o que produz, enquanto que na segunda o produto do trabalho estava intimamente associado ao trabalhador. Essa diferença, segundo Marx, é a que rege as relações de trabalho dentro de uma sociedade capitalista, na qual o trabalhador que não dispõem dos meios de produção para produzir o que necessita para sobreviver passa a vender a única “mercadoria” que tem: sua força de trabalho.
Como conceito, o trabalho é definido como atividade humana em que os indivíduos têm como objetivo, por meio de sua força de trabalho, produzir uma forma de manutenção de sua subsistência. Embora essa não seja a única definição de trabalho, e esse não se resuma apenas na obtenção do sustento do trabalhador, uma vez que o trabalho doméstico que realizamos diariamente, sem que ganhemos nenhuma remuneração, é ainda uma forma de trabalho, nosso objeto em questão é o trabalho assalariado.
Esse trabalho assalariado da sociedade pós-revolução industrial se diferencia do trabalho em sociedades pré-capitalistas na relação do trabalhador com o seu trabalho, ou do fruto do seu trabalho. Enquanto o servo de um senhor feudal trabalhava a terra de forma a produzir diretamente o seu sustento, cedendo parte da produção ao senhor como forma de tributo, o trabalhador assalariado trabalha em função de uma moeda, para só então poder ter contato com seu sustento. Marx afirma que essa “coisificação” da força de trabalho – a transformação do trabalho em um objeto que passa a ter valor monetário agregado – é o que possibilita a exploração, ou a alienação, do trabalhador e de sua força de trabalho pelo capitalista detentor dos meios de produção.
O trabalho e a modernização do mundo
Foi apenas com os adventos da revolução industrial europeia que a ideia do trabalho coisificado de Karl Marx passou a existir. Os processos de cercamento – a compra das terras férteis pelos que possuíam maior poder econômico – forçaram a saída dos trabalhadores rurais dos campos, que passaram a se amontoar nas áreas urbanas. Sem a terra para poder produzir seu sustento, ao trabalhador rural restaria apenas a venda de sua força de trabalho ao detentor dos “direitos da terra”. Este, pagaria o trabalhador uma quantia monetária que julgava ser equivalente ao que era produzido, sendo apenas o necessário para que o indivíduo permanecesse vivo. Estava então estabelecido o trabalho assalariado, o único meio de subsistência do novo trabalhador urbano.
A prestação de serviço é a atividade que mais emprega e movimenta capital atualmente
Temos que notar, no entanto, que as relações de trabalho em nossa modernidade se modificaram muito. De forma que são tão diferentes que não existiam na realidade social observada por Marx. Pelo menos não em escala suficientemente notável. As prestações de serviços que não envolvem nenhuma forma de compra ou de venda de bens materiais, são uma das novas formas de relação de trabalho. O prestador de serviço não necessariamente está ligado ou depende de meios de produção, de forma que uma faxineira vende a ação de limpar para a conveniência daquele que compra seu serviço. As prestações de serviço são hoje a maioria esmagadora de forma de trabalho e de movimento de capital, enquanto que o trabalho de produção industrial, que necessita de trabalhadores humanos em linhas de produção, está em constante declínio. Declínio esse que se relaciona aos avanços tecnológicos e à automação das linhas de produção, que diminuem a necessidade de força de trabalho humana, diminuindo o custo de produção de bens materiais e aumentando lucros.