Seis tópicos fundamentais sobre a Filosofia da Ciência
Com as inovações científicas das últimas décadas, passamos a considerar a ciência como uma forma de conhecimento infalível. Você já reparou que nós temos a tendência de valorizar mais um produto quando ele se anuncia como “cientificamente comprovado”? Vejamos a seguir uma lista de tópicos fundamentais para saber sobre a ciência e sobre como a filosofia se relaciona com ela.
1) Classificação da Ciência
A palavra ciência deriva do latim “scientia” e significa “conhecimento”. A partir do momento em que as ciências tornam-se autônomas, passam a ser classificadas em ciências formais, ciências da natureza e ciências humanas. As ciências formais recebem esse nome porque seus objetos de estudo não têm existência concreta, como a matemática e a lógica. As ciências da natureza são aquelas que estudam objetos que têm existência concreta, como a biologia, a química, a física e a geografia. As ciências humanas são aquelas que estudam aspectos relacionados com o comportamento humano.
Essa classificação é didática, ou seja, ajuda-nos a compreender melhor os diferentes objetos de conhecimento e a diversidade de métodos à qual precisamos recorrer para investigá-los. No entanto, essa classificação é insuficiente, pois não se refere aos objetos de conhecimento que necessitam de métodos diversos. Também temos que considerar as novas ciências que surgem e que apresentam traços das ciências humanas, das ciências da natureza e das ciências formais simultaneamente.
2) Diferenças entre senso comum e conhecimento científico:
Nós entendemos que o senso comum é uma forma de conhecimento que não é bem fundamentada racionalmente. O senso comum, assim, basear-se-ia em afirmações feitas de forma acrítica e, mesmo assim, transmitidas como se fossem verdade, como é caso dos ditados populares. Mas também podemos ver isso, hoje em dia, nas análises políticas que fazemos sem considerar as outras faces da questão e a partir de generalizações.
O conhecimento científico seria uma forma de conhecimento mais rigorosa, construída por meio de uma fundamentação e que se distingue do senso comum por não considerar apenas as primeiras observações. Para o surgimento de teorias científicas, o fato (ou um problema) é observado, depois se levantam hipóteses que passam por experimentações para, finalmente, estabelecer conclusões que podem ser refutadas.
3) O método científico experimental:
O método científico experimental usado pelas ciências da natureza compreende as seguintes etapas:
a) Observação: O cientista, ao analisar um fato, pode deparar-se com um problema que não pode ser solucionado a partir de pesquisas já feitas. Por exemplo: O cientista observa que as alfaces que nascem no lado esquerdo do seu quintal apresentam coloração roxa.
b) Hipótese: Por ter feito leituras ou por acumular conhecimentos adquiridos em outras experiências, o cientista, ao analisar um problema que não tem uma resposta, levanta hipóteses. Por meio das hipóteses, ele tenta organizar os fatos observados e os recursos de que dispõe para explicá-los. Por exemplo: O cientista levanta a hipótese de que a coloração roxa foi causada por um mineral presente no solo.
c) Experimentação: Depois de levantadas as hipóteses, o cientista deve fazer uma observação dos fatos a partir de um controle, ou seja, a partir de condições determinadas por ele. Por exemplo: O cientista pode analisar o solo de seu quintal e examinar as diferenças entre a composição do lado esquerdo e do lado direito. Se ele identifica a presença de dois minerais diferentes no lado esquerdo, pode fazer duas amostras de solo, contendo em cada uma um dos minerais. A seguir, pode plantar alface para descobrir qual dos dois minerais é responsável pela coloração roxa.
d) Generalização: Depois de observar a variação do fenômeno que estuda, o cientista deve analisar se suas hipóteses foram mantidas ou se elas foram derrubadas pela experimentação. Se foram derrubadas, ele deve recomeçar seu método, levantar uma nova hipótese e proceder a experimentação. Se comprovada, ele deve observar uma constante que o permita generalizar, ou seja, criar uma “lei” que pode ser aplicada. Por exemplo: Se o cientista viu que, mesmo na presença dos minerais no solo, as alfaces mantêm coloração normal, ele precisa levantar outra hipótese que o permita analisar o surgimento da coloração roxa, como a temperatura do solo, e fazer um novo experimento. Se ele constata que, na presença de um mineral no solo, as alfaces adquirem coloração roxa, ele pode generalizar e dizer: “Toda alface plantada em um solo com a presença do mineral citado apresentará coloração roxa”. Depois disso, pode continuar a pesquisa e analisar se a alface roxa tem o mesmo sabor da alface com coloração normal e se a presença do mineral no solo traz riscos à saúde de quem a ingerir.
4) Leis empíricas e Leis Teóricas:
As generalizações podem ter duas formas. As Leis Empíricas, também chamadas de leis particulares, são aquelas que foram criadas a partir de casos particulares, como no nosso exemplo da alface no tópico anterior. O cientista, quando procede assim, corre o risco de não conseguir estabelecer uma universalização que se aplica, de fato, a tudo aquilo que pretende abarcar. As Leis Teóricas, que podem ser chamadas apenas de teorias, são mais abrangentes e possuem um caráter unificador, que corresponde à aplicabilidade da teoria a casos particulares, e um caráter heurístico, que se refere à possibilidade de novas descobertas a partir de determinada teoria.
5) O que é Filosofia da ciência?
A Filosofia da ciência é o campo de estudo acerca da ciência e de seus métodos, ou seja, a Filosofia da ciência responde a questões como “Qual é o método de investigação científica?”, “Como podemos classificar a ciência?”, “Qual a natureza das teorias científicas?”, “Uma determinada teoria explica de alguma forma a realidade?”. Além disso, a pergunta acerca da relação entre ética e ciência também pode ser feita por filósofos da ciência. Alguns pensadores importantes dessa área são Imre Lakatos, Karl Popper, Paul Feyerabend e Thomas Khun.
6) Relação entre ética e ciência
Com o avanço tecnológico e com a disposição de recursos para a implementação de pesquisas, a ciência pode ser questionada em relação aos seus valores éticos. Experimentações em animais são constantemente questionadas: até que ponto a ciência pode dispor dos animais, causar dor, desenvolver em animais saudáveis alguma doença para a descoberta de alguma droga? A obtenção de células-tronco a partir de embriões e a possibilidade de clonagem são outros tópicos científicos constantemente debatidos. A neutralidade e a autonomia da ciência, ou seja, o fato de o conhecimento científico não ter outro valor a não ser o cognitivo e a liberdade de proceder pesquisas, não a eximem de um debate ético.