Presidente ou presidenta?

Com a eleição de uma mulher para o mais alto posto da política nacional, uma dúvida linguística veio à tona: presidente ou presidenta?
A palavra presidente é considerada um substantivo comum de dois gêneros, podendo ser utilizada tanto para homens quanto para mulheres

A ascensão da mulher na vida social e política do país já é algo assimilado e até mesmo comum, não é verdade? A mulher ocupou espaços que até então eram dominados pelos homens e, nessa nova condição de equiparação de direitos, nada mais normal que uma mulher ser eleita para o mais alto cargo do Poder Executivo. Foi o que aconteceu em nosso país no ano de 2010.

A novidade não ficaria por aí. Se uma mulher preside o país, como devemos então nos referir a ela? Presidente ou presidenta? Estávamos tão acostumados com presidentes homens que de repente a novidade fez surgir essa dúvida linguística. Pois bem, saiba que você não está sozinho, e atentos a essa dúvida, alguns estudiosos já pensaram sobre a questão.

Existe uma lei federal, de 1956, do senador Mozart Lago, que determina o uso da forma feminina para designar cargos públicos ocupados por mulheres, portanto, se tivéssemos uma presidente, o que era pouco provável àquela época, deveríamos chamá-la por presidenta. A lei ficou arquivada durante longos cinquenta e quatro anos até que escolhemos a primeira mulher na história para chefiar a nação. Contudo, a antiga lei fez uma observação importante: para que fossem utilizados termos femininos na designação dos cargos, estes deveriam estar, primeiramente, subordinados às questões gramaticais. A gramática prescreve que palavras terminadas em -ente, como presidente, não apresentam flexão de gênero terminado em -a, já que são palavras comuns de dois gêneros, por isso não falamos “gerenta” ou “clienta”. Sendo assim, não haveria motivos embasados na teoria que nos fizessem utilizar a forma presidenta. Mas alguns linguistas ponderam sobre a questão, já que a palavra presidenta está consignada nos melhores dicionários, o que admitiria seu uso, que efetivamente já acontece na fala e até mesmo na escrita, basta ler os jornais ou assistir aos noticiários.

A questão nos faz refletir sobre a evolução da língua: se uma comunidade admite o uso de determinada palavra e se esse uso é disseminado nas modalidades oral e escrita, por que não rever antigas regras? Muitos atribuem à palavra presidenta uma conotação pejorativa, e o mesmo acontece com a palavra chefa, que, apesar de dicionarizada, nunca pegou entre os falantes! Quando usamos as palavras presidenta ou chefa, parece que, inconscientemente, tecemos uma crítica nas entrelinhas, tachando a mulher que ocupa esses cargos como durona e inflexível, o que é uma bobagem. Entretanto, não devemos pensar que usar o termo presidente seja uma forma de diminuir o espaço conquistado pela mulher, mas apenas o respeito à norma gramatical que classifica o substantivo como comum de dois gêneros. Como o tempo é o senhor de todas as coisas, cabe a nós aguardar se o uso da palavra presidenta será cristalizado entre os falantes. Caso isso ocorra, assim como aconteceu com outros vocábulos da língua portuguesa, deixará de ser motivo de discussão e polêmica.

Publicado por Luana Castro Alves Perez
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