Ditadura Chilena

Pinochet e Allende: o antagonismo político em um país de instituições instáveis.

Na segunda metade do século XX, o Chile vivenciou um novo contexto político onde as forças democráticas abriram portas para a ascensão dos setores de esquerda. O novo presidente Gabriel González Videla obteve o apoio de setores liberais e de esquerda, prometendo mobilizar uma frente ampla favorável ao desenvolvimento das formas produtivas e a recuperação do setor social. No entanto, sob o contexto da Guerra Fria, o novo presidente resolveu se opor aos grupos políticos comunistas e socialistas chilenos.

Dessa maneira, os anseios por transformação foram completamente frustrados ao manter os privilégios das classes economicamente privilegiadas. Nesse meio tempo, a economia do Chile viveu uma rápida ascensão sustentada pela entrada de empresas estrangeiras que viriam a diminuir as taxas de importação e a grande demanda por matérias-primas disponíveis no país.


Entre os anos de 1964 e 1970, o presidente Eduardo Frei iniciou um conjunto de pequenas reformas que incluíam a distribuição de terras e a nacionalização da indústria de exploração do cobre. Durante o processo eleitoral de 1970, socialistas cristãos e demais setores de esquerda se uniram em uma única chapa nomeada Unidade Popular. Salvador Allende, candidato por esta chapa, acabou vencendo as eleições e abriu portas para uma nova postura política.

Ao assumir o cargo presidencial, Allende tratou de nacionalizar todas as empresas norte-americanas encontradas no país. Essa medida teve impacto negativo aos olhos do “Tio Sam”, que logo se preocupou em averiguar melhor as intenções deste novo governo no Chile. Os grupos chilenos, contrários ao governo Allende, organizaram movimentos grevistas que mobilizaram segmentos essenciais da economia chilena.

Ao longo de três anos o desgaste causado sobre a figura de Allende impulsionou um movimento para derrubar o presidente. Em setembro de 1973, um grupo de militares realizou um golpe que culminou no assassinato do presidente Salvador Allende. Sob a liderança do general Augusto Pinochet, o Chile passou a viver uma terrível ditadura preocupada em perseguir a oposição das esquerdas nacionais e atender os interesses norte-americanos.

Em 1980, o governo Pinochet promulgou uma nova constituição que legitimava o regime ditatorial. Ao longo daquela década, os grupos oposicionistas iniciaram uma nova articulação política para dar fim ao regime totalitário. Um novo plebiscito, realizado em 1987, vetou o direito de Augusto Pinochet a permanecer no governo em oito anos. Dois anos depois, Patricio Aylwin foi eleito como novo presidente prometendo restaurar as liberdades democráticas e punir os militares envolvidos com o regime.

No ano de 1993, o governo de Frei Ruiz Tagle pautou seu governo em políticas de caráter neoliberal favoráveis às privatizações, a abertura ao capital externo e a ampliação do setor industrial. No campo governamental, Ruiz teve que enfrentar a permanência de um dispositivo constitucional que deixava as Forças Armadas chilenas sob o controle de Augusto Pinochet.

A resistência imposta pelos senadores biônicos, eleitos na época da ditadura, causou um episódio conflituoso que inflamou o cenário político daquele país. Ao longo dos anos, diversos grupos perseguidos pela ditadura exigiam o indiciamento criminal de Pinochet e a cassação de seu mandato de senador. Entre 1998 e 2000, órgãos de justiça de outros países e do Chile tentaram incriminar o ex-ditador. Alegando problemas de saúde, Pinochet conseguiu protelar sua condenação.

O falecimento de Augusto Pinochet, em 2006, encerrou todo esse episódio da vida política chilena. O desfecho deste processo marcou a vida política não só do Chile, mas de toda América latina que ainda tenta reafirmar os princípios democráticos em países historicamente marcados pela instabilidade de suas instituições políticas.

Por Rainer Sousa
Mestre em História

Publicado por Rainer Gonçalves Sousa
Matemática do Zero
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