O Brasil segundo Jean-Baptiste Debret

A interpretação do Brasil segundo Jean-Baptiste Debret pode ser de suma importância para a compreensão da história brasileira no século XIX.
Acima, autorretrato de Jean-Baptiste Debret (1768-1848)

O pintor francês Jean-Baptiste Debret foi um dos principais artistas que integraram a denominada Missão Artística Francesa, isto é, uma expedição de artistas que veio para o Brasil em 1817 amparada por D. João VI, que havia elevado o Brasil à condição de Reino Unido, em 1808, e aqui residia. Assim como os outros artistas que aportaram, Debret contribuiu para o desenvolvimento das belas-artes no Brasil e também soube construir uma interpretação bastante rica da vida nos trópicos, no século XIX. Nesse sentido, pode-se falar de um “Brasil segundo Debret”, ou seja, um Brasil interpretado por Debret em suas telas.

Debret e seus conterrâneos que vieram para o Brasil faziam parte do Neoclassicismo francês, um movimento artístico que entrou em franco declínio após a queda de Napoleão Bonaparte em 1815. Com a oportunidade de partir em direção ao Brasil, Debret viu também um horizonte de possibilidades para as suas habilidades artísticas e intelectuais. Sua estadia nos trópicos foi tão profícua que resultou, anos mais tarde, no livro “Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil”, publicado em Paris, no ano de 1831.

As telas de Debret tinham variados temas, indo desde o retrato de cenas do cotidiano até grandes eventos da alta sociedade brasileira e da corte portuguesa no Brasil. Além disso, Debret retratou também a vida dos escravos negros e dos índios, bem como reproduziu, em desenhos, variedades da fauna e da flora. As telas com temas do cotidiano geralmente estabelecem uma interpretação especial da estrutura da sociedade brasileira do século XIX. É o caso, por exemplo, do quadro em que aparece o cortejo de uma família em direção à missa, como pode ser observado na imagem a seguir:


Cortejo de uma família brasileira do século XIX, retratada por Debret

A pesquisadora Sandra Lauderdale Graham bem descreveu a cena expressa nesse quadro em seu livro “Proteção e Obediência”:

O chefe de família conduzia a procissão, organizada cuidadosamente, seguido pelas duas filhas pequenas – perto de sua proteção –, em seguida a esposa e, depois, os criados (todos escravos), de acordo com a posição social de cada um: a criada de quarto, a ama de leite carregando a criança por ela amamentada, a servidora doméstica, o criado principal e, finalmente, dois meninos.” [1]

O que pode ser depreendido da imagem dessa família, em suma, é a ambiência estrutural do lar na sociedade patriarcal do século XIX. Ainda segundo Graham:

Debret pintou não apenas uma família mas a unidade básica da vida social brasileira: o lar. Conjunto de relações que continha tanto os criados quanto a família – pessoas que ocupavam posições amplamente desiguais –, o lar se situava em um contexto histórico que investia o chefe de família de autoridade e responsabilidade sobre os outros membros, inclusive os cridos.” [2]

Outro exemplo da apreensão da ambiência social brasileira novecentista está na imagem a seguir, em que é retratado o segundo casamento de D. Pedro I. Percebe-se que todo o quadro possui uma disposição das figuras segundo a importância social. Vê-se, no centro, os noivos; à esquerda os membros da corte e, à direita, em posição superior, os membros do clero da Igreja Católica, que selou o matrimônio.


Tela de Debret retratando o segundo casamento de Dom Pedro I

Outros temas, como a vida dos escravos negros, são retratados também de forma a capturar o máximo do impacto das cenas. Na imagem a seguir, é possível ver o modo como Debret retratou um escravo sendo castigado por um feitor. Vê-se, em primeiro plano, o escravo, amarrado em um “pau de arara”, sendo acoitado com um pedaço de madeira. Ao fundo, vê-se outro escravo amarrado ao tronco de uma árvore, com a paisagem suntuosa contrastando com o cenário de violência.


Retrato de um escravo recebendo castigo, pintado por Debret

Na imagem a seguir pode ser observada uma tela de Debret que reproduz as formas das armas utilizadas pelos indígenas. É possível reparar que se trata, sobretudo, de flechas, que apresentam variados modelos dispostos de acordo com a necessidade do tiro: caça, guerra, curta ou longa distância, tipo de animal a ser abatido etc.


Tipos de armas indígenas desenhados por Debret

Debret conseguiu contribuir imensamente para a construção da imagem nacional do Brasil, haja vista que suas telas captaram a atmosfera de um período da formação da nação brasileira, estimulada pela criação de instituições como a Academia Brasileira de Belas Artes, o Jardim Botânico do Rio de Janeiro e o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB).

NOTAS

[1] GRAHAM, Sandra Laudernale. Proteção e Obediência – Criadas e os seus patrões no Rio de Janeiro – 1860-1910. São Paulo, Companhia das Letras, 1992. p. 23.
[2] Idem. p. 23-24.

Publicado por Cláudio Fernandes
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