Cerco a Leningrado
O cerco a Leningrado, que aconteceu de setembro de 1941 a janeiro de 1944, foi uma das batalhas-símbolo do confronto entre a Alemanha nazista e a União Soviética durante a Segunda Guerra Mundial e foi caracterizada pela violência e pela alta mortalidade. Esse cerco feito pelo exército alemão durou quase 900 dias e privou o acesso da população à água, energia e, principalmente, comida, o que resultou em mais de 1,5 milhão de mortes, entre civis e militares.
Contexto
Durante os finais da década de 1930, a tensão era grande e a possibilidade de um confronto em nível mundial era evidente. Hitler e Stálin, líderes da Alemanha Nazista e da União Soviética, respectivamente, surpreenderam o mundo ao assinarem um pacto de não agressão em 23 de agosto de 1939, em que ambas as nações comprometiam-se a manter a paz caso um conflito fosse iniciado na Europa.
O pacto foi assinado poucos dias antes do início da guerra, no entanto, representou apenas uma jogada dos dois países, pois a rivalidade e a possibilidade de um confronto no futuro entre Alemanha e União Soviética eram praticamente inevitáveis.
Após uma série de triunfos na fase inicial do conflito (1939-1941), Hitler planejou e autorizou o ataque à União Soviética, que se iniciou a partir da Operação Barbarossa, em 22 de junho de 1941, quando aproximadamente 3,6 milhões de soldados alemães cruzaram as fronteiras e iniciaram o maior dos confrontos de toda a Segunda Guerra, responsável por milhões de mortos e por uma grande destruição.
Operação Barbarossa e o cerco a Leningrado
A Operação Barbarossa, que iniciou o ataque à União Soviética em junho de 1941, foi desastrosa para os soviéticos. Em questão de meses, o exército vermelho acumulava derrotas e mortes, e o avanço dos nazistas parecia inevitável, a ponto de o exército alemão ter conseguido ficar a 40 quilômetros de Moscou, capital da Rússia. Entretanto, a resistência soviética conseguiu afastar os alemães da capital russa, o que fez os alemães, então, voltarem-se a outras importantes cidades: Leningrado e Stalingrado.
Naquela época, Leningrado era um importante centro industrial soviético; além disso, sua captura seria um golpe muito grande para o moral do exército vermelho. O bloqueio alemão iniciou-se oficialmente em 8 de setembro, e a cidade ficou completamente cercada pelas tropas nazistas: ninguém entrava nem saía.
Soldados alemães durante a Operação Barbarossa, em 1941
A princípio, o exército soviético esperava um ataque alemão sobre a cidade, entretanto, os objetivos dos nazistas eram outros: deixariam Leningrado morrer de fome. Ao longo dos quase 900 dias, os relatos contam o sofrimento da população sitiada para obter comida e água e o desespero em meio ao frio, epidemias e mortes. No auge do cerco, estima-se que cerca de 20 mil pessoas morreram diariamente em Leningrado|1|. A comida tornou-se escassa, e a população dessa cidade chegou a receber menos de 100 gramas de alimento por dia. Para conseguirem alimentar-se, as pessoas fizeram de tudo:
passou-se a ferver papel de parede para extrair sua cola e a cozinhar e mastigar o couro. Conforme o escorbuto se tornava endêmico, produzia-se um extrato de pinho a partir de agulhas de pinheiro para se obter vitamina C. […] Pombos desapareceram das praças, caçados como alimento, assim como corvos e gaivotas; depois, ratazanas e animais de estimação.|2|
Além da fome, a população teve de suportar o frio – que chegava a trinta graus negativos no inverno–, pois não havia energia elétrica para ligar os aquecedores depois de os alemães terem destruído as redes de transmissão. A água, muitas vezes, também estava contaminada, e, em meio ao desespero por alimento, registravam-se casos de canibalismo.
O cerco só foi quebrado em janeiro de 1944, com o recuo das tropas alemãs, que, a partir de meados de 1943, entraram em colapso total e começaram a ser derrotadas pelo exército vermelho.
|1| HASTINGS, Max. O mundo em guerra 1939-1945. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2012, p.188.
|2| HASTINGS, Max. O mundo em guerra 1939-1945. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2012, p.185.
*Créditos da imagem: Konstantinks e Shutterstock