Fernando Henrique Cardoso
Fernando Henrique Cardoso, também conhecido como FHC é um dos nomes mais importantes da história recente do Brasil. Ele foi um sociólogo e cientista político de notoriedade nas décadas de 1960 e 1970 e ficou mais famoso ainda após ingressar na carreira política, tendo se tornado presidente do Brasil após ter sido eleito em 1994.
FHC foi um dos grandes nomes que se envolveu com a redemocratização do Brasil, sendo um dos membros da Constituinte que elaborou uma nova Constituição para o Brasil. Foi o autor do Plano Real e conseguiu estabilizar nossa economia após anos de instabilidade. Eleito presidente por duas vezes, FHC terminou seu mandato de maneira melancólica. Aposentado da política, seguiu carreira como conferencista.
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Origens
Fernando Henrique Cardoso, nasceu no Rio de Janeiro, no dia 18 de junho de 1931. FHC era de uma família muito tradicional que tinha ocupado cargos importantes na história do Brasil. O bisavô paterno dele, por exemplo, tinha sido governante de Goiás, durante o Segundo Reinado. Além disso, a família de FHC era tradicional dentro do Exército brasileiro.
O próprio pai de FHC, Leônidas Fernandes Cardoso, era um militar. A profissão do pai acabou fazendo com que Fernando Henrique precisasse se mudar do Rio de Janeiro para São Paulo. A mãe de FHC, por sua vez, se chamava Naíde Silva Cardoso, era amazonense de nascimento e tinha sido educada em colégio de freiras.
Por conta da mudança do pai para São Paulo, FHC foi alfabetizado no Rio de Janeiro e fez o restante de sua educação em São Paulo, estudando em colégios particulares. Depois ingressou na Universidade de São Paulo (USP), quando tinha 17 anos. Na USP, FHC matriculou-se no curso de Ciências Sociais.
Lá teve contato com importantes intelectuais do Brasil, tornou-se assistente de sala de Florestan Fernandes e depois de se formar, em 1952, seguiu a carreira universitária. Além disso, FHC fez uma especialização, concluiu seu doutorado, também na USP e realizou um curso de pós-graduação na Universidade de Paris, na França.
Nessa fase da sua juventude, FHC até teve uma relativa aproximação com movimentos estudantis e grupos marxistas, incluindo o Partido Comunista Brasileiro (PCB), mas discordâncias a respeito de ações realizadas pelo governo soviético, fizeram com que ele se afastasse desses movimentos.
Ditadura Militar
Após seu doutorado, FHC continuou trabalhando como professor universitário, mas o Golpe Civil-Militar, realizado entre 31 de março e 2 de abril de 1964, mudou radicalmente a sua vida. Nesse golpe, o então presidente João Goulart foi deposto pelos militares e então Humberto Castello Branco foi escolhido de maneira indireta como presidente do Brasil. Isso foi o início de 21 anos de ditadura militar.
Com o início da ditadura, houve uma intensa perseguição a todos aqueles que pensavam diferente e, FHC, foi um dos que sofreu com os militares no poder. Logo após o golpe, foram emitidas ordens de prisão a diversos nomes proeminentes do Brasil e FHC acabou escolhendo fugir para não ser preso.
FHC só descobriu na década de 1990, o porque os militares resolveram ordenar a sua prisão. Os motivos foram que ele foi acusado de ser comunista por conta dos temas ministrados em suas aulas; ele esteve envolvido com a campanha pela nacionalização do petróleo na década de 1950 e até os livros que ele possuía foi motivo para ordenar sua prisão.
Fernando Henrique se exilou no Chile, local onde continuou com seus estudos na área das Ciências Humanas e lá lançou um livro chamado “Dependência e desenvolvimento na América Latina”, com um sociólogo chileno chamado Enzo Faletto. Esse livro é considerado uma das grandes obras escritas por FHC e lhe garantiu reconhecimento internacional.
Depois do Chile, FHC passou um ano na França e resolveu retornar ao Brasil em 1968. Ele foi aprovado em um concurso para ser professor na USP, mas rapidamente perdeu seu emprego. O AI-5 deixou o clima político do país mais sombrio, afetando mais ainda as liberdades individuais. O resultado disso foi que, por decisão da ditadura, FHC e muitos outros professores universitários foram compulsoriamente aposentados.
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Entrada na política
Na década de 1970, FHC aproximou-se de nomes importantes da política brasileira e acabou recebendo um convite: entrar no meio e tornar-se político. Apesar da objeção de sua esposa, Ruth Cardoso, FHC entrou no Movimento Democrático Brasileiro (MDB) e candidatou-se a senador na eleição de 1978.
Recebeu mais de um milhão de votos, sendo eleito suplente de Franco Montoro. Quando este abandonou o Senado para disputar o cargo de governador de São Paulo, FHC herdou a vaga no Senado, sendo empossado em 15 de março de 1983. Começava aqui uma carreira política que se estendeu por duas décadas.
Como senador, FHC engajou-se profundamente pelo processo de redemocratização do Brasil e apoio abertamente a Campanha das Diretas Já. Com a derrota da Emenda Dante de Oliveira, FHC apoiou a candidatura de Tancredo Neves. Ainda em 1985, ele candidatou-se a prefeitura de São Paulo, mas foi derrotado por Jânio Quadros.
Em 1986, FHC, assim como a maioria dos candidatos peemedebistas, surfou na onda de sucesso do PMDB. Essa popularidade do PMDB estava relacionado com o sucesso temporário do Plano Cruzado, plano que estabilizou a economia de maneira artificial naquele ano. FHC acabou sendo reeleito para senador recebendo mais de 6 milhões de votos.
Enquanto senador, FHC tornou-se líder do PMDB no Senado e foi membro da Constituinte, responsável por ter elaborado a Constituição de 1988. No decorrer da Constituinte, FHC e outras dezenas de políticos do PMDB, romperam com o partido e fundaram o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) sob a liderança de Mário Covas.
Na eleição presidencial de 1989, o partido de FHC apoiou a candidatura de Lula, mas com a vitória de Collor, FHC aproximou-se do governo por concordar com a agenda neoliberal que estava sendo imposta. Com a crise do governo Collor, FHC acabou afastando-se do governo, passou a apoiar o impeachment e aproximou-se do vice, Itamar Franco.
No governo de Itamar Franco, FHC foi convidado para o Ministério das Relações Exteriores e tomou posse do cargo em outubro de 1992. Ficou nesse cargo por poucos meses porque acabou recebendo um convite para assumir outra pasta governamental.
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Plano Real e presidência
Em 19 de maio, FHC acabou sendo nomeado para assumir o Ministério da Fazenda em 19 de maio de 1993. O convite de Itamar Franco partiu da indicação de Roberto Freire, deputado federal na época. Uma vez empossado no cargo, Fernando Henrique tratou de montar a sua equipe com economistas que já tinham elaborado outros planos econômicos.
A frente do ministério, FHC propôs o Plano Real, uma reforma econômica profunda no país. O plano foi aplicado em três diferentes etapas e todas elas foram implantadas de maneira aberta a população. A ideia era passar segurança a população do que estava sendo feito. Na primeira fase foram realizadas medidas para estabilizar as contas públicas; na segunda fase foi lançada a Unidade Real de Valor (URV), moeda paralela que fez a transição para o real; a terceira fase foi da implantação efetiva do real.
O sucesso do plano real fez com que a economia brasileira se estabilizasse após uma década de crise contínua. Assim, se em 1993, antes do Plano Real, a inflação tinha sido de 2000%, em 1995, depois do Plano Real, a inflação já tinha caído para 22%. No final de 1994, os efeitos já foram sentidos e isso gabaritou FHC para a eleição presidencial.
Antes do Plano Real, Fernando Henrique já tinha sido escolhido como o nome do PSDB para a presidencial. O sucesso dele a frente do Ministério da Fazenda fez com que ele se tornasse o favorito para a disputa. No pleito, FHC recebeu mais de 34 milhões de votos, conquistando 54% dos votos válidos e sendo eleito no primeiro turno.
Fernando Henrique tomou posse em 1º de janeiro de 1995 e seu governo ficou marcado pela imposição de uma agenda neoliberal. Um dos grandes destaques do governo de FHC foram as privatizações de empresas estatais. Áreas como a telefonia foram inteiramente passadas para o setor privado e empresas com a Vale do Rio Doce também foram vendidas. O governo FHC arrecadou por volta de 80 bilhões de dólares com as privatizações.
FHC investiu na integração regional, ressaltando a importância de reforçar os laços com as nações vizinhas pelo Mercosul; promoveu alguns programas de distribuição de renda e bem-estar social com programas como o Bolsa-Alimentação, Bolsa-escola, entre outros. Na economia, o governo FHC ficou marcado pelo crescimento médio do PIB de 2,4% ao ano.
O governo ainda teve de enfrentar impactos na economia decorrente de crises econômicas que estouraram no México, Ásia e Rússia, respectivamente. As crises estouraram tanto no primeiro, quanto no segundo mandato. Esse segundo mandato, por sua vez, foi resultado da vitória na eleição de 1998 quando FHC obteve 53% dos votos e foi novamente eleito no primeiro turno.
Em meados de seu segundo mandato, FHC tentou realizar uma desvalorização controlada do real em relação ao dólar. Isso porque, com o real valorizado, as importações aumentaram consideravelmente, fazendo com que a balança comercial ficasse negativa e prejudicando diretamente a indústria nacional. O governo de FHC não teve muito sucesso em realizar a desvalorização sem grandes impactos.
No fim de seu governo, FHC e seu partido acabaram enfrentando uma progressiva impopularidade fruto do aumento do custo de vida nos últimos anos de seu governo. A crise do apagão, entre 2001 e 2002, acabou sendo decisivo na eleição presidencial disputa em 2002. Na crise do apagão, a falta de planejamento levou a uma crise hídrica que resultou em uma crise energética. Um estudo conduzido em 2009, mostrou que a crise do apagão representou um prejuízo de mais de 45 bilhões de reais para o Brasil.
Aposentadoria
Em 1º de janeiro de 2003, Fernando Henrique passou a faixa presidencial para Luís Inácio Lula da Silva, eleito presidente ao derrotar José Serra – o candidato apoiado por FHC. Depois disso, FHC tornou-se conferencista e passou a dar palestras em eventos nacionais e internacionais. Ele também passou a se dedicar ao Instituto Fernando Henrique Cardoso, fundado para garantir a preservação de sua obra acadêmica.
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