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Tancredo Neves

Tancredo Neves foi um político brasileiro que ficou muito conhecido por ter sido o primeiro civil eleito à presidência depois de 21 anos de Ditadura Militar. A trajetória política de Tancredo iniciou-se na década de 1930, foi interrompida pelo Estado Novo e retomada no final da década de 1940. Ele participou ativamente dos governos de Getúlio Vargas e João Goulart.

Durante a ditadura, Tancredo fez parte da oposição aos militares, filiando-se ao Movimento Democrático Brasileiro (MDB). Na década de 1980, foi um dos grandes nomes que lutaram pela redemocratização do Brasil. Apoiou as Diretas Já e foi eleito presidente no Colégio Eleitoral de 1985, mas acabou morrendo antes de assumir a presidência da República.

Leia também: Getúlio Vargas – outro grande nome da história política brasileira

Juventude

Tancredo de Almeida Neves nasceu em São João del-Rei, cidade do interior de Minas Gerais, no dia 4 de março de 1910. Era filho de Francisco de Paula Neves e Antonina de Almeida Neves. Tancredo fazia parte de uma família que desfrutava uma vida confortável, pois seu pai era dono de um comércio e algumas propriedades em sua cidade. Os pais de Tancredo tiveram, ao todo, doze filhos.

A carreira política de Tancredo Neves deslanchou a partir da década de 1950.[1]
A carreira política de Tancredo Neves deslanchou a partir da década de 1950.[1]

Tancredo fez sua educação básica em dois colégios locais e, quando finalizou essa etapa dos seus estudos, em 1927, procurou entrar na graduação. Ele buscava uma carreira que lhe garantisse uma condição melhor porque sua família havia empobrecido drasticamente quando seu pai faleceu e o negócio da família quebrou.

Antes de ingressar na carreira que lhe deu o ofício de parte de sua vida, tentou três profissões. Primeiro, Tancredo tentou cursar engenharia; depois, tentou ingressar na Escola Naval e na Faculdade de Medicina, mas não passou em ambas as seletivas; por fim, para não ficar desocupado, escolheu Direito.

Mudou-se para Belo Horizonte para fazer seu curso e precisou de trabalhar para sobreviver. Trabalhou como escriturário, depois conseguiu um emprego na Secretária de Educação da capital mineira, além de ter sido jornalista da seção policial no Estado de Minas. Obteve seu bacharelado, em Direito, em 1932.

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Tancredo Neves na política

Os biógrafos de Tancredo Neves contam que, desde sua juventude, ele possuía interesse pela política. Inclusive, ele esteve envolvido em dois acontecimentos importantes de sua época: a Revolução de 1930 e a Revolução Constitucionalista de 1932. Na primeira, envolveu-se diretamente; no segundo caso, apenas participou de manifestações de apoio aos rebelados em São Paulo.

Apesar do interesse pela política, só ingressou nesse meio por influência de Augusto Viegas, um político mineiro. Em 1933, filiou-se ao Partido Progressista e, por esse partido, lançou-se à eleição para disputar o cargo de vereador de sua cidade natal, São João del-Rei.

Acabou sendo o candidato mais votado e, portanto, elegeu-se como um dos dezesseis vereadores de sua cidade. Sua carreira política na década de 1930 durou muito pouco por causa do autoritarismo político de Getúlio Vargas. Com o início do Estado Novo e a transformação do Brasil em uma ditadura, Tancredo e todos os políticos do Legislativo do Brasil perderam seus mandatos. Com isso, ele seguiu sua carreira na advocacia.

Acesse também: Populismo, o conceito que é utilizado para explicar a política brasileira

Trajetória até o golpe

De 1946 até 1964, o Brasil viveu sua primeira experiência democrática com a deposição de Getúlio Vargas em outubro de 1945. Esse período contou com a formação de partidos políticos e a elaboração de uma nova Constituição, em 1946. Tancredo acabou retornando à política, aderindo ao Partido Social Democrático (PSD), o maior partido da época.

Foi nessa fase que a carreira política de Tancredo Neves deslanchou. Ele foi eleito para cargos de deputado estadual e federal, em diferentes momentos, e foi indicado para assumir postos importantes, como o Ministério da Justiça, durante o segundo governo de Getúlio Vargas, e o posto de primeiro-ministro, durante a fase presidencialista do governo de João Goulart.

Foi um dos grandes nomes de apoio ao governo democrático de Vargas na década de 1950 e atuou diretamente contra o golpismo do partido de oposição da época, a União Democrática Nacional (UDN). Além disso, atuou para resolver a crise política causada pelo atentado da Rua Tonelero (tentativa de assassinato contra o principal opositor e crítico de Vargas, Carlos Lacerda), que aconteceu em agosto de 1954.

Tancredo Neves foi ministro da Justiça durante o segundo governo de Vargas, na década de 1950.[1]
Tancredo Neves foi ministro da Justiça durante o segundo governo de Vargas, na década de 1950.[1]

Durante a crise de sucessão à presidência após a renúncia de Jânio Quadros, Tancredo Neves defendeu que a Constituição brasileira fosse respeitada e a posse de João Goulart (Jango) fosse assegurada. Como os militares não aceitavam a posse do vice (Jango), Tancredo e muitos outros políticos atuaram para garantir a sucessão. Foi ele, inclusive, que propôs que o parlamentarismo fosse adotado como forma de conciliação.

Com a adoção do parlamentarismo, ele foi nomeado primeiro-ministro do Brasil pelo presidente Jango e permaneceu no cargo por dez meses. Ele abandonou o cargo para disputar a eleição de deputado federal em meados de 1962.

Luta contra a ditadura

Tancredo Neves foi contra o golpe de 1964. Quando Jango foi derrubado, os militares impuseram uma eleição indireta para escolher o novo presidente, e Tancredo foi um dos poucos que não concordaram com a escolha de Humberto Castello Branco. Ele se absteve de votar, mas, apesar disso, não foi cassado.

Tancredo recebeu o convite dos militares de aderir ao Arena, partido político que apoiava a ditadura. No entanto, ele não aceitou e filiou-se ao partido da oposição, o MDB. Manteve-se nesse partido durante grande parte do período da ditadura, mas fez parte de uma oposição mais moderada, que procurava conciliar-se politicamente com os militares.

Na fase final da ditadura, ele foi eleito senador, em 1978, e depois conseguiu se eleger governador de Minas Gerais, obtendo mais de 2,5 milhões de votos. A partir de 1983, ele começou a ser cogitado como o nome da oposição a ser lançado na eleição do Colégio Eleitoral de 1985, a última eleição para a presidência que ocorreria de maneira indireta.

Redemocratização do Brasil

Apesar de ser uma eleição indireta, a candidatura de Tancredo Neves foi extremamente popular em todo o país.[1]
Apesar de ser uma eleição indireta, a candidatura de Tancredo Neves foi extremamente popular em todo o país.[1]

Tancredo Neves foi um dos grandes nomes da redemocratização do Brasil. Ele apoiou as Diretas Já, a demanda popular pela eleição direta, mas sabia que suas chances de se eleger presidente do Brasil eram maiores se fosse realizada eleição indireta. Isso porque ele tinha boa articulação política com os militares.

Uma vez consolidada a derrota das Diretas Já, a oposição agrupou-se para formar a chapa que disputaria a eleição com os militares. Tancredo Neves articulou-se com políticos do partido dos militares (PDS) para que eles apoiassem sua candidatura. Assim, formou-se a chapa de Tancredo Neves e José Sarney. Seu adversário foi Paulo Maluf.

A candidatura foi um sucesso e Tancredo venceu com 480 votos contra 180 votos de Paulo Maluf. Assim, foi eleito o primeiro civil para a assumir a presidência desde que Jânio Quadro tinha sido eleito presidente em 1960. Era o fim da Ditadura Militar. As coisas, no entanto, não acabaram do jeito que Tancredo e o Brasil esperavam.

Leia também: Constituição de 1988 – a história de um dos símbolos da redemocratização brasileira

Morte

A vitória de Tancredo deixou a população brasileira em êxtase. Era um prelúdio de novos tempos, marcados pela democracia e pela liberdade. Mas a situação do Brasil tomou uma direção improvável em razão dos problemas de saúde que o atingiam, pois, durante semanas, Tancredo escondeu dores fortes que sentia na região do abdômen, por medo de os militares não permitirem sua posse.

Essa situação acabou sendo desastrosa para ele e para o Brasil. Tancredo consultou-se secretamente com médicos, que receitaram antibióticos para ele. As dores em seu abdômen resultavam de uma forte infecção que havia se instalado em seu corpo por causa de um tumor benigno.

Ele foi orientado a ser operado o mais rápido possível, mas preferiu esperar sua posse – 15 de março – para fazer a cirurgia. O inesperado aconteceu e, no dia 14 de março, horas antes da posse, Tancredo foi levado às pressas para o Hospital de Base do Distrito Federal por dores fortes. O tratamento recebido por Tancredo Neves foi desastroso, e as condições sanitárias do hospital não eram das melhores.

Tancredo passou por cirurgia e a posse foi realizada por José Sarney, o vice da chapa, após muita negociação política conduzida por Ulysses Guimarães. Tancredo assumiria a presidência quando ele tivesse alta, mas sua condição de saúde não melhorou. O político mineiro faleceu no dia 21 de abril de 1985, após passar por sete cirurgias e ficar internado por semanas, primeiro em Brasília e, depois, em São Paulo.

Um momento de celebração para o país acabou terminando em tragédia. O corpo de Tancredo foi velado por milhões em São Paulo e foi enterrado em sua cidade natal.

Crédito das imagens:

[1] FGV/CPDOC

Publicado por Daniel Neves Silva
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