O poema “Sobre a Natureza” de Parmênides
Não podemos dizer ao certo quando nasceu e morreu Parmênides, apenas localizá-lo entre o final do século IV e começo do século V a.C.
Assim como vários autores da mesma época, escreveu suas ideias filosóficas em forma de poema. Pode-se dizer que ele representou o momento em que a cosmologia dos pré-socráticos tornou-se uma ontologia, isto é, uma teoria do ser. Por esse motivo, Parmênides foi considerado o pai da ontologia ocidental.
10 características do poema Sobre a Natureza
1) O poema é dividido em três partes – Proêmio, Primeira Parte e Segunda Parte;
2) Foram conservados dele cerca de 160 versos;
3) O proêmio é escrito no estilo das poesias épicas;
4) O tema principal do proêmio é o encontro com uma deusa. Veja:
E a deusa acolheu-me de bom grado, mão na mão
direita tomando, e com estas palavras se me dirigiu:
“Ó jovem, acompanhante de aurigas imortais,
tu, que chegas até nós transportado pelos corcéis,
Salve! Não foi um mau destino que te induziu a viajar
por este caminho – tão fora do trilho dos homens –,
mas o Direito e a Justiça. Terás, pois, de tudo aprender:
o coração inabalável da verdade fidedigna
e as crenças dos mortais, em que não há confiança genuína.*
5) Como pudemos ver, a revelação da deusa não se trata de uma revelação mística, e sim de um recurso estilístico pelo qual Parmênides apresentou a pesquisa que pretendia fazer;
6) Trata-se de uma pesquisa bastante ambiciosa: Parmênides esperava que a sua investigação conduzisse-o a conhecer todas as coisas e em todos os campos do saber humano.
7) Par alcançar esse saber completo, há uma via. É sobre essa via que ele dedicou boa parte dos seus versos. Poderíamos dizer que ele esboçou um método, ainda que em linguagem poética, com o qual a pessoa pode construir esse saber.
8) Em seguida, ele descreveu a relação da pessoa com o mundo das coisas que acontecem — e sobre as quais não podemos ter certeza alguma — e com o mundo das coisas abstratas, onde localizamos a verdade sem contradições.
9) Por fim, Parmênides descreveu o cenário grandioso onde homens e astros movimentam-se.
10) Se a pessoa seguir a primeira via, a da razão, entenderá que “o que é, é – e não pode deixar de ser”. Se a pessoa seguir a segunda via, a da opinião e da aparência enganosa, acreditará que o mundo é baseado em movimento, pluralidade e devir, ou seja, acreditará que o ser e o não ser são e não são a mesma coisa.
Monismo de Parmênides:
A doutrina de Parmênides estabelece a existência de uma realidade única. Essa sua posição pode ser chamada de “monismo”. Vamos entender os dois argumentos de Parmênides a esse respeito:
1) Há no pensamento parmenidiano a distinção entre realidade e aparência. Desse modo, o primeiro argumento que ele apresenta contra o mobilismo é o de que o movimento é apenas aparente, ou seja, se as coisas mudam de forma, como as rochas que, ao passar dos anos, tornam-se grãos de areia, esse movimento ocorre em um aspecto superficial. Pelo pensamento, conseguimos ir além do que nos diz a experiência sensível e percebemos que a verdadeira realidade é imutável.
2) Por meio do pensamento, buscamos a essência da realidade, aquilo que permanece imutável. Buscar a essência da realidade só é possível se há algo que permite identificar uma coisa como ela mesma, ou seja, se há algo que permanece em uma coisa apesar de qualquer mudança, esse algo nos permite perceber que o movimento não pode ser tomado como definidor do real.
Para Parmênides, o ser é: isso significa que o ser (“aquilo que é”) é imutável e imóvel. Apenas o “ser” é a substância permanente, ou seja, em vez de identificar a essência (a arché) com algum elemento, como os filósofos anteriores fizeram, Parmênides identificou-a com o “ser”. Aquilo que não “tem ser” não é nada, não existe.
Com isso, temos em Parmênides uma versão da lei da identidade: pela lei da identidade, a realidade é caracterizada como imutável. Quando uma coisa muda, ela deixou de ser o que era sem ainda se tornar algo de diferente. Portanto, não é nada.
Para Parmênides, se uma coisa pode ser pensada, ela tem um Ser, ou seja, existe. Mesmo coisas que não existem na realidade podem vir a existir, pois são formadas de conceitos que existem e, por isso, “são”. Isso significa também que a racionalidade humana e a racionalidade do real são da mesma natureza e, por esse motivo, o homem pode pensar o ser. Mas isso só acontece se ele seguir a primeira Via, a via da razão.
*A citação do poema “Sobre a Natureza” é conforme a tradução do Professor Dr. José Gabriel Trindade Santos. Modificada pelo tradutor. Primeira edição, Loyola, São Paulo, Brasil, 2002. Disponível em: http://charlezine.com.br/wp-content/uploads/Da-Natureza-Parm%C3%AAnides.pdf