Analisando as distintas posições ocupadas pela palavra “só”
Em se tratando do estudo das classes gramaticais, constatamos que essas são dotadas de distintas particularidades, entre elas, o fato de algumas serem variáveis, outras não. Sendo assim, seguiremos esse raciocínio para compreendermos acerca de mais um fato linguístico – desta vez nosso foco de estudo está voltado para a palavra “só”.
Tal palavra, ora pode ser um adjetivo, ora um advérbio, e como tais, são passíveis ou não de flexão. Retratando o sentido de “sozinho”, o “só” se caracteriza como adjetivo, concordando, portanto, com o termo a que se refere. Constatamos que essa afirmativa efetivamente se evidencia por meio dos seguintes exemplos:
Os fatos se explicam por si sós. (constatamos que o adjetivo “sós” concorda com o substantivo “fatos”)
Os alunos estão sós na sala. (Idem à análise anterior)
Não gosto de me sentir só. (Idem)
Quando assume a acepção semântica retratada por “apenas” ou “somente”, classifica-se como um advérbio, logo, invariável. De tal modo, constatemos:
As propostas serão reveladas só amanhã. (somente)
Queria só desejar-lhe sucesso no processo avaliativo. (apenas)
Elencados todos esses pressupostos, há outra particularidade à qual devemos nos atentar – o fato de o advérbio “só” possuir valor restritivo, razão pela qual a posição em que ele se encontra disposto na oração representa um aspecto relevante. Em função disso, analisemos alguns casos representativos:
Os alunos, amanhã, só entregarão os trabalhos. (mas não os apresentarão)
Os alunos entregarão os trabalhos só amanhã. (e não hoje)
Os alunos, amanhã, entregarão só os trabalhos. (e não os exercícios)
Constata-se que as diferentes posições assumidas pelo termo em referência, uma vez considerado como um advérbio impróprio ou uma palavra denotativa de exclusão, evidenciam o termo que por ele é modificado. Assim, concluímos que, no primeiro exemplo, ele modifica o verbo (só apresentarão, mas não farão qualquer outro procedimento); no segundo enunciado modifica o advérbio (só amanhã, não outro dia); por fim, no terceiro exemplo, modifica o substantivo (só os trabalhos, e não outra atividade).
Mediante tais ocorrências, percebemos que saber analisar o contexto em que uma determinada palavra foi empregada, capacita-nos a não fazer uso de construções tidas como ambíguas, as quais obscurecem a qualidade do discurso proferido.
Por Vânia Duarte
Graduada em Letras