Três grandes abolicionistas negros brasileiros
Sabemos que as principais tentativas de dar fim à escravidão no Brasil começaram, de fato, quando o país tornou-se independente, em 1822, e o sistema político imperial foi instalado. Havia pressão (econômica, sobretudo) do principal apoiador da Independência do Brasil, a Inglaterra, para que a escravidão fosse extinta entre nós. Todavia, as pressões internas vindas das elites agrárias brasileiras fizeram com que os projetos possíveis de abolição fossem engavetados.
Desse modo, nas décadas que seguiram, a luta pela abolição da escravatura passou a ser travada por grupos organizados em prol da causa (para mais informações, clique aqui). Nesses grupos, havia políticos, nobres (como a própria Princesa Isabel, que assinaria a Lei Áurea), jornalistas, advogados e toda sorte de profissionais liberais. Entre os grandes defensores da causa abolicionista, três eram negros. São eles: Luís Gama, José do Patrocínio e André Rebouças.
Luiz Gama (1830-1882)
Luiz Gonzaga Pinto da Gama, baiano de nascimento, era filho de uma negra livre e pai branco, lusitano. No entanto, mesmo tendo nascido livre, foi feito escravo aos 10 anos de idade e assim permaneceu até os 17, quando conseguiu provar que nascera de ventre livre. Só depois de ter passado pela experiência da escravidão, Gama conseguiu alfabetizar-se. Como autodidata, tornou-se jornalista, advogado e escritor literário.
Luiz Gama não chegou a ver a abolição dos escravos, pois morreu em 1882
Em São Paulo, onde residiu a maior parte de sua vida, exerceu com destaque a profissão de jornalista e fundou, com o caricaturista Angelo Agostini, o jornal humorístico O Diabo Coxo, em 1864. Foi nessa mesma época que entrou em contato com os ideais abolicionistas e republicanos por meio da Loja Maçônica América, que era frequentada também por Ruy Barbosa e Joaquim Nabuco. Como advogado, Gama chegou a defender muitos negros de graça e ajudou a conseguir a alforria para centenas de outros. Ele faleceu em 24 de agosto de 1882 sem ver a abolição dos escravos, que só aconteceria em 1888.
José do Patrocínio (1853-1905)
José do Patrocínio, além de abolicionista, também era propagandista do ideal republicano
José Carlos do Patrocínio era filho de um clérigo, o vigário Monteiro, com uma escrava chamada de Mina, que servia ao vigário nos afazeres em sua paróquia, em Campos dos Goytacazes. Ao contrário de Luiz Gama, Patrocínio, tendo nascido escravo, cresceu como liberto e protegido pelo pai, que, mesmo não o reconhecendo formalmente como filho, preparou-o para a vida escolar e depois para trabalhos modestos.
De Campo de Goytacazes, Patrocínio seguiu, ainda adolescente, para a cidade do Rio de Janeiro a fim de trabalhar e estudar para se formar em Medicina. Conseguiu ingressar no curso de Farmácia, que concluiu em 1874. No tempo de estudante, entrou em contato com o republicanismo e o abolicionismo quando começou a frequentar o Clube Republicano carioca. Nesse grupo conheceu personalidades como Lopes Trovão, Quintino Bocaiuva e Pardal Mallet.
Em 1875, José do Patrocínio começou a atividade jornalística com o jornal satírico Os Ferrões, escrito em conjunto com Dermeval da Fonseca. O jornalismo lhe abriu portas para a luta contundente contra a escravidão, mas também para a propaganda pró-republicana, que incendiava o país na década de 1880. No ano de 1880, fundou, com Joaquim Nabuco, a Sociedade Brasileira Contra a Escravidão, um dos principais órgãos abolicionistas do período.
André Rebouças (1838-1898)
André Rebouças era filho de um mestiço notório à época do Império, Antônio Pereira Rebouças, que chegou a ser conselheiro de Dom Pedro II. Formou-se, como seus irmãos, em engenharia e tornou-se notável ao exercer essa profissão em ao menos três ocasiões: 1) ao resolver o problema do abastecimento de água na cidade do Rio de janeiro; 2) ao desenvolver um tipo de torpedo para ser usado na Guerra do Paraguai; e 3) ao projetar uma importante ferrovia do Paraná ao atual Mato Grosso do Sul.
André Rebouças era engenheiro e político
Além das atividades de engenharia, André Rebouças, assim como os dois outros nomes aqui destacados, notabilizou-se pela atividade jornalística – principalmente por seu estilo refinado de quem conhecia bem culturas alheias à sua, tanto da Europa quanto de outras regiões da América. Além disso, era amigo do músico Carlos Gomes, que ajudou financeiramente algumas vezes.
Rebouças também foi sócio-fundador da Sociedade Brasileira Contra a Escravidão, mas participou também de outras associações abolicionistas e amparadores de imigrantes, como a Sociedade Abolicionista e a Sociedade Central de Imigração. Sua visão política ia além do simples anseio pelo fim da escravidão.
Rebouças também pensava nas consequências desse fato, na necessidade de projetos para inserir os negros libertos em novas formas de relações sociais e no universo do trabalho livre, sem deixar de lado também a questão do imigrante europeu, que, se não tivesse plenos direitos como cidadão, sofreria um processo de “reescravização” por parte dos donos das terras a eles concedidas.