Concílio de Niceia

Concílio de Niceia é a forma como popularmente é chamado o Primeiro Concílio Ecumênico de Niceia, realizado em 325 d.C., convocado pelo imperador romano Constantino, o Grande, principalmente para discutir a natureza de Jesus Cristo. No concílio também foi estabelecido o método para a definição da data da Páscoa, foi criado o Credo Niceno, além de diversas outras decisões.
Já o Segundo Concílio Ecumênico de Niceia ocorreu em 787, desta vez convocado pelo papa Adriano I e pela imperatriz Irene de Constantinopla. Nele foi debatida a questão do culto às imagens, nascendo diretamente da proibição do culto estabelecida por um concilio convocado por Constantino V em 754. O Segundo Concílio de Niceia anulou o concílio anterior, permitiu novamente a veneração de imagens santas e condenou os iconoclastas.
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Resumo sobre o Concílio de Niceia
- O Concílio de Niceia ocorreu em 325 d.C. e foi convocado por Constantino I.
- Foi convocado principalmente para definir a natureza de Jesus Cristo.
- O arianismo, criado por Ário de Alexandria, defendia que Jesus Cristo foi gerado por Deus, por isso não era o próprio Deus, mas uma criação dele, e não era eterno como Deus, uma vez que foi gerado.
- O Concílio de Niceia aprovou o Credo Niceno, que estabeleceu Deus e Jesus como consubstanciais.
- O concílio condenou o arianismo e exilou suas lideranças.
- O Segundo Concílio de Niceia foi convocado pelo papa Adriano I e pela imperatriz Irene de Constantinopla.
- A principal discussão do Segundo Concílio foi sobre a veneração de imagens, condenada pelos iconoclastas.
O que foi o Concílio de Niceia?
O Concílio de Niceia, também chamado de Primeiro Concílio de Niceia, foi um concílio ecumênico que reuniu diversas autoridades cristãs. Ocorreu entre maio de 325 d.C. e agosto do mesmo ano. Na época a cidade de Niceia, atual Iznik, na Turquia, era parte do Império Romano.
Ele foi convocado pelo imperador romano Constantino I, e teve por principal objetivo estabelecer consensos entre as diversas tradições católicas da Europa, África e Ásia, principalmente sobre a natureza divina de Jesus Cristo. Constantino foi o primeiro imperador romano a se converter ao cristianismo.
Contexto histórico dos Concílios de Niceia
→ Contexto do Primeiro Concílio de Niceia
O Primeiro Concílio de Niceia ocorreu em um momento no qual o cristianismo tinha diversas comunidades cristãs, e cada uma delas adotava datas, crenças e rituais diferentes. Na época, uma disputa doutrinária entre o bispo Alexandre e o padre Ário, sobre a natureza de Deus e da Santíssima Trindade, ameaçava dividir o cristianismo. Foi nesse contexto que o concílio ecumênico foi convocado por Constantino.
→ Contexto do Segundo Concílio de Niceia
O Segundo Concílio de Niceia, de 787, ocorreu durante uma disputa sobre a veneração de imagens nos governos do imperador bizantino Constantino V, e de seu filho, Leão IV. Em 754, Constantino V convocou o Concílio de Hieria, do qual a maioria dos bispos participantes era iconoclasta. O concílio aprovou o fim do culto às imagens sagradas e nomeou Constantino II, clérigo iconoclasta, como o patriarca de Constantinopla.

Durante o governo de Constantino V, diversas igrejas foram atacadas e suas imagens foram destruídas, o fenômeno iconoclasta continuou durante o governo de seu filho. A disputa sobre as imagens sagradas provocou uma divisão na Igreja oriental, e os dois imperadores foram acusados de promover reformas para centralizar poder e controlar o clero cristão.
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Quais as causas dos Concílios de Niceia?
→ Causas do Primeiro Concílio de Niceia
O Concílio de Niceia, do ano 325, foi convocado pelo imperador Constantino I, que tinha por principal objetivo estabelecer consenso entre as diferentes comunidades cristãs. Também foi objetivo do concílio combater o arianismo e definir a data da Páscoa.
Na década de 320, a disputa entre as ideias do padre Ário e do bispo Alexandre, sobre a natureza de Jesus Cristo, se popularizou por todo o Império Romano. Ário e seus seguidores, conhecidos como arianos, defendiam que Jesus Cristo foi, em algum momento, gerado por Deus; dessa forma, Cristo não seria Deus nem eterno.
O bispo Alexandre de Alexandria defendeu que Jesus Cristo, Deus e o Espírito Santo são três manifestações de Deus, e, dessa forma, a Santíssima Trindade é una. Essa tese foi apoiada pelo imperador Constantino. Após ser expulso de Alexandria por Alexandre, Ário foi para o Oriente, onde conquistou muitos seguidores.
→ Causas do Segundo Concílio de Niceia
O Segundo Concílio de Niceia, em 787, ocorreu para decidir sobre o culto de imagens sagradas pelos cristãos. O culto às imagens havia sido proibido três décadas antes, no governo de Constantino V, o que gerou uma divisão no catolicismo. Paulo IV, patriarca de Constantinopla, convocou o Segundo Concílio de Niceia em 784, para que este resolvesse a questão iconoclasta. No mesmo ano, ele renunciou e foi sucedido por Tarásio de Constantinopla, que iniciou os preparativos para o concílio.
O que ficou estabelecido nos Concílios de Niceia?
→ Decisões do Primeiro Concílio de Niceia
O Concílio de Niceia de 325 condenou ao exílio Ário e todos os bispos arianos que participaram do concílio. Ele estabeleceu ainda o Credo Niceno, definindo a Santíssima Trindade como una, em oposição ao arianismo.
O método para a definição da data da Páscoa também foi estabelecido durante o Concílio de Niceia. Este estabeleceu que a Páscoa ocorre sempre no primeiro domingo depois da primeira Lua cheia ocorrida após o equinócio de primavera no Hemisfério Norte. Esse sistema lunissolar é utilizado ainda hoje.
Também foi estabelecido, no Concílio de Niceia de 325, a organização eclesiástica em todo o império, estabelecendo a organização administrativa e as funções de patriarcas e bispos.
→ Decisões do Segundo Concílio de Niceia
O Segundo Concílio de Niceia, ocorrido em 787, estabeleceu o culto às imagens sagradas, definindo que as imagens eram representações legítimas de Jesus, Maria e dos santos anjos. O concílio tornou nulas as decisões do concílio de 754, que ocorreu sob influência de Constantino V e dos bispos arianos. Foi ainda estabelecido que os clérigos iconoclastas, desde que aceitassem as decisões do concílio, poderiam permanecer em seus cargos eclesiásticos.
Quem foram os participantes dos Concílios de Niceia?
→ Participantes do Primeiro Concílio de Niceia
O número de participantes do Primeiro Concílio de Niceia gera disputas entre os historiadores, mas varia de 250 a 350 clérigos cristãos, provenientes de todas as regiões do Império Romano. Cerca de duas dezenas desses bispos eram declaradamente arianos.
O imperador Constantino I convocou o concílio, mas não participou de nenhuma de suas sessões. Entre os principais participantes do Primeiro Concílio de Niceia, estiveram:
- Ósio de Córdoba, que presidiu as sessões do concílio;
- Atanásio de Alexandria, um dos principais autores do Credo Niceno; e
- Alexandre de Alexandria, o principal opositor do arianismo.

→ Participantes do Segundo Concílio de Niceia
Participaram do Segundo Concílio de Niceia cerca de 350 clérigos, dos quais 308 eram bispos, representando todos os patriarcados orientais e o papado de Roma. Tarásio, o patriarca de Constantinopla, presidiu todas as sessões do Segundo Concílio. O papa romano, Adriano I, não participou diretamente das sessões, mas enviou dois representantes papais.
Uma carta de Adriano I defendendo o culto às imagens sagradas foi lida na segunda sessão do concílio para todos os presentes. Irene, imperatriz regente do Império Bizantino, também enviou representantes ao concílio.
Concílio de Niceia e o arianismo
Ário foi um sacerdote cristão de Alexandria, no Egito. Ele defendia que Jesus Cristo foi gerado por Deus, não sendo assim o próprio Deus. Defendia ainda que, por ter sido gerado, Jesus não era eterno. Grande orador, Ário conquistou muitos adeptos, inclusive bispos do Oriente, o que provocou a divisão no cristianismo.

As ideias de Ário ficaram conhecidas como “arianismo” e seus seguidores, como “arianos”. Buscando combater o arianismo e evitar um racha definitivo na cristandade, Constantino I convocou o Concílio de Niceia. Durante sua realização, a maior parte das discussões se relacionou à natureza de Deus e Jesus Cristo.
Em menor número, os arianos foram derrotados e a aprovação do Credo de Niceia estabeleceu que Jesus era o próprio Deus, filho gerado da mesma substância do pai. Ário e todos aqueles que se recusaram a aceitar o Credo Niceno foram expulsos da Igreja e exilados na Ilíria.
Constantino e o Concílio de Niceia
Constantino chegou ao poder em um período de crise do Império Romano, marcado por crise econômica, derrotas militares nas regiões fronteiriças e divisão política, com quatro imperadores governando o território romano. Após anos de guerra, Constantino I conseguiu centralizar o poder e se tornar o único imperador romano. Influenciado pela mãe, Helena, ele se converteu ao cristianismo e encerrou as perseguições que os cristãos sofriam no império.
Durante o seu governo, Constantino incorporou o cristianismo na estrutura do Estado romano, passando a financiar a Igreja e a nomear os clérigos dos cargos mais importantes, controlando assim o cristianismo. O arianismo, que se iniciou em Alexandria e que logo chegou a toda parte oriental do império, tornou-se uma ameaça à unidade cristã e ao poder do imperador. Foi principalmente para extinguir o arianismo que Constantino convocou o concílio.
Efeitos dos Concílios de Niceia
O Primeiro Concílio de Niceia manteve a unidade do cristianismo e instituiu certo consenso entre as diversas comunidades cristãs do Velho Mundo. O arianismo foi condenado, seus livros foram queimados, e aquele que fosse pego com um desses escritos deveria ser executado. Os líderes arianos foram condenados ao exílio, inclusive o próprio Ário.
Outro efeito do Primeiro Concílio de Niceia foi o aprofundamento da integração entre Igreja cristã e Estado romano. As reformas promovidas por Constantino I criaram a base do que são hoje as atuais Igreja Católica Apostólica Romana e Igreja Católica Ortodoxa.
O que é um concílio ecumênico?
Um concílio ecumênico, antes do Grande Cisma de 1054, era formado por todos os bispos dos diferentes patriarcados do Oriente e de Roma. Os concílios eram convocados por um patriarca, papa ou imperador para resolver questões doutrinárias, administrativas e disciplinares do cristianismo.
O Segundo Concílio de Niceia é considerado o último concílio, de fato, ecumênico e aceito por católicos romanos e ortodoxos. Os católicos ortodoxos atualmente não reconhecem os concílios ecumênicos realizados pela Igreja Católica Apostólica Romana após 1054.
Saiba mais: Tudo sobre a história da Igreja na Idade Média
Exercícios resolvidos sobre Concílio de Niceia
1 – (Vunesp) Niceia, realizado em 325, foi o primeiro Concílio Ecumênico ocorrido na Igreja e que concretizou uma assembleia representativa de toda a cristandade da época, de modo a discutir as heresias que poderiam dividir a Igreja. Qual dessas heresias foi condenada pelo Concílio?
a) arianismo
b) sebastianismo
c) monofisismo
d) iconoclastia
Alternativa A
O arianismo, crença difundida pelo padre Ário, se tornou uma ameaça para a unidade cristã a partir do início do século IV. Preocupado em manter a unidade e condenar o arianismo, Constantino I convocou o Concílio de Niceia.
2 - “Ário afirmava a existência de um único Deus, o Pai, eterno, absoluto, imutável, incorruptível. Este Ser Supremo e Absoluto, não pode comunicar, segundo sua concepção seu Ser nem mesmo parcelas dele, nem por criação, nem por geração. Se Deus não é corpo, não pode ser composto, divisível. Assim, é impossível a Deus gerar um filho. Tudo o que está fora dele, portanto, foi criado do nada. Tudo o que existe fora de Deus Absoluto, eterno, incriado, incomunicável, são meras criaturas.”
FRANGIOTTI, Roque. História das heresias – séculos I-VII: conflitos ideológicos dentro do cristianismo. São Paulo: Paulus, 1995, p.86-87.
O trecho faz menção ao arianismo, doutrina criada por Ário, no século IV, que negava a existência:
a) de Cristo
b) do pecado original
c) da Trindade
d) do diabo
Alternativa C
Para Ário de Alexandria, Jesus Cristo foi criado por Deus, sendo assim uma criação de Deus e mortal. Para Ário, Jesus não era uma manifestação de Deus, nem mesmo feito da mesma matéria que Ele. O arianismo passou a ser condenado durante o Concílio de Niceia, com a aprovação do Credo Niceno.
Créditos da imagem
Fontes
GOFF, Jaques Le. O Deus da Idade Média. Editora Record, São Paulo, 2006.
JOHNSON, Paul. História do cristianismo. Editora Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 2023.
MANGO, Cyril. Bizâncio: o império da nova Roma. Editora Edições 70, São Paulo, 2018.
Ferramentas Brasil Escola




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