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Igreja Ortodoxa

A Igreja Ortodoxa é fruto do Grande Cisma do Oriente de 1054, que dividiu a Igreja Católica. Os cristãos ortodoxos preservam a fé e as práticas da Igreja Cristã Primitiva.
Jesus e Maria representados em pintura, no interior de uma Igreja Ortodoxa.
Os ícones (figuras de Jesus, Maria e dos santos) representam para a Igreja Ortodoxa a janela do céu.[1]

A Igreja Ortodoxa é uma tradição cristã antiga que preserva a fé e as práticas da Igreja Primitiva, destacando-se por sua liturgia sacramental, teologia mística, estrutura organizacional descentralizada e rica iconografia. Originária da Igreja Cristã Primitiva, com raízes no Patriarcado de Constantinopla, a Igreja Ortodoxa se separou da Igreja Católica Romana durante o Grande Cisma do Oriente em 1054.

Leia também: O que a doutrina calvinista defende?

Resumo sobre Igreja Ortodoxa

  • A Igreja Ortodoxa é uma igreja cristã que tem origem histórica na fé apostólica primitiva e no Patriarcado de Constantinopla.
  • É caracterizada pela ênfase na liturgia sacramental, na teologia mística e na veneração de ícones sagrados.
  • A Igreja Ortodoxa se separou da Igreja Católica Romana durante o Grande Cisma do Oriente em 1054.
  • Possui uma estrutura descentralizada baseada em uma comunhão de igrejas autocéfalas, lideradas por bispos e sacerdotes.
  • A Igreja Ortodoxa chegou ao Brasil no século XIX.
  • A chegada de imigrantes de diferentes tradições ortodoxas resultou em uma variedade de jurisdições e paróquias ortodoxas em todo o Brasil.

O que é a Igreja Ortodoxa?

A Igreja Ortodoxa é uma comunidade de cristãos que seguem a fé, liturgia e tradições que remontam aos primeiros séculos do cristianismo. Ela se considera a guardiã da verdadeira fé apostólica, mantendo uma continuidade histórica e doutrinária com a Igreja Primitiva.

Seu nome "ortodoxa" deriva das palavras gregas "orthos" (correto) e "doxa" (crença), significando, portanto, "crença correta" ou "crença reta". A Igreja Ortodoxa afirma ser a única igreja verdadeira, preservando a autêntica tradição cristã e mantendo a sucessão apostólica.

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Principais características da Igreja Ortodoxa

Existem várias características distintivas da Igreja Ortodoxa que a diferenciam de outras tradições cristãs:

→ Liturgia sacramental

A liturgia ortodoxa desempenha um papel central na vida da Igreja, com uma ênfase particular nos sacramentos, especialmente na Eucaristia (ou Divina Liturgia). A liturgia ortodoxa é conhecida por sua beleza, ritualismo e profundidade espiritual.

Bispo da Igreja Ortodoxa aspergindo água sobre fiéis.
A liturgia tem papel central na vida da Igreja Ortodoxa.[2]

→ Iconografia

A arte sacra na forma de ícones é uma parte integral da devoção ortodoxa. Os ícones são considerados janelas para o céu, facilitando a conexão espiritual com Deus, os santos e os mistérios da fé.

→ Teologia mística

A teologia ortodoxa enfatiza a experiência direta e pessoal de Deus, buscando uma união íntima com Ele. Essa abordagem é frequentemente expressa através da tradição da teologia mística ou hesicasta, que busca a oração interior e a contemplação divina.

→ Modelo sinodal

A governança da Igreja Ortodoxa é baseada em um modelo sinodal, em que os bispos se reúnem periodicamente em conselhos (concílios) para discutir questões teológicas e administrativas. Não há uma autoridade centralizada, mas sim uma comunhão de igrejas locais autônomas, cada uma com sua própria hierarquia.

→ Cultura ortodoxa

A Igreja Ortodoxa preserva uma rica herança cultural e histórica, influenciando profundamente a arte, a música, a arquitetura e a vida cotidiana das comunidades onde está presente.

Veja também: Influência da Igreja Católica durante a Idade Média

Qual é a origem da Igreja Ortodoxa

A Igreja Ortodoxa tem suas raízes na Igreja Cristã Primitiva, com suas origens remontando aos apóstolos de Jesus Cristo. Historicamente, a Igreja Ortodoxa considera o Patriarcado de Constantinopla como seu ponto de origem, uma vez que Constantinopla (atual Istambul) foi o centro do Império Romano do Oriente e um dos principais centros do cristianismo nos primeiros séculos da era cristã.

A separação entre a Igreja Ortodoxa e a Igreja Católica Romana, conhecida como o Grande Cisma do Oriente, ocorreu oficialmente em 1054. Esse evento marcou a divisão entre a Igreja Latina e as igrejas orientais, incluindo a Igreja Ortodoxa. As principais razões para a separação incluíram questões teológicas, litúrgicas, políticas e culturais.

Organização da Igreja Ortodoxa

A estrutura organizacional da Igreja Ortodoxa é baseada no modelo conciliar, em que a autoridade é compartilhada entre os bispos, sacerdotes e fiéis. A unidade da Igreja Ortodoxa é mantida através de uma rede de igrejas autocéfalas (ou seja, autogovernantes) que reconhecem uma comunhão doutrinária e sacramental umas com as outras.

No topo da hierarquia eclesiástica está o Patriarca Ecumênico de Constantinopla, que é considerado o "primus inter pares" (primeiro entre iguais) entre os bispos ortodoxos. Além disso, existem outros patriarcas, arcebispos, metropolitas, bispos, sacerdotes e diáconos, cada um com suas responsabilidades específicas dentro da estrutura da igreja.

Bartolomeu I, um dos patriarcas da Igreja Ortodoxa.
O patriarca ecumênico de Constantinopla, Bartolomeu I, está no topo da hierarquia da Igreja Ortodoxa.[3]

A autoridade é exercida de forma colegiada, com os bispos se reunindo em concílios ecumênicos (como o Primeiro e o Segundo Concílios Ecumênicos de Niceia) ou em conselhos regionais para discutir e deliberar questões teológicas e pastorais.

Quais são os símbolos da Igreja Ortodoxa?

Os símbolos desempenham um papel significativo na espiritualidade ortodoxa, comunicando verdades teológicas e inspirando devoção. Alguns dos símbolos mais proeminentes da Igreja Ortodoxa incluem:

→ Ícones

Os ícones são representações sagradas de Cristo, da Virgem Maria, dos santos e dos eventos bíblicos. Eles são considerados veículos de graça e objetos de veneração, e são comuns em igrejas ortodoxas e lares devotos.

O Cristo Pantokrator, ícone da Igreja Ortodoxa.
O “Cristo Pantokrator”, famoso ícone ortodoxo.

→ Crucifixo

O crucifixo é um símbolo central da fé cristã, representando a crucificação de Jesus Cristo e seu sacrifício redentor pela humanidade. Na tradição ortodoxa, o crucifixo muitas vezes é acompanhado por uma inscrição em grego que significa "Jesus Cristo, o Rei dos Judeus".

→ Cruz ortodoxa

A cruz ortodoxa tem uma forma distintiva, com três braços horizontais e inclinados, simbolizando a inscrição na cruz de Jesus Cristo, que era "Jesus, o Nazareno, Rei dos Judeus" em hebraico, grego e latim. A cruz ortodoxa também incorpora uma linha inclinada para representar o suporte no qual Cristo foi crucificado.

Cruz de pedra no modelo usado pela Igreja Ortodoxa.
Cruz ortodoxa.

→ Lâmpadas votivas

As lâmpadas votivas são lamparinas a óleo ou velas queimadas em frente aos ícones ou em locais sagrados. Elas simbolizam a luz da fé e a presença contínua de Deus nas vidas dos fiéis.

→ Incenso

O incenso é usado em rituais litúrgicos ortodoxos como um símbolo de purificação espiritual e oração ascendente. Ele também é associado à presença do Espírito Santo e à aceitação das orações dos crentes pelo altar divino.

Semelhanças e diferenças entre Igreja Católica Romana e Igreja Ortodoxa

Aspecto

Igreja Católica Romana

Igreja Ortodoxa

Líder supremo

Papa, considerado o chefe supremo e infalível da igreja

Patriarca Ecumênico de Constantinopla, considerado "primus inter pares" entre os bispos

Autoridade

Centralizada no papa e no Vaticano

Estrutura sinodal com autoridade colegiada compartilhada entre os bispos

Liturgia

Utiliza o rito latino ou romano

Utiliza diversos ritos, como o rito bizantino, o rito oriental, entre outros

Sacramentos

Reconhece sete sacramentos

Reconhece sete sacramentos (embora possa haver diferenças litúrgicas menores)

Cisma

Diversos cismas protestantes a partir do século XVI

Experimentou o Grande Cisma do Oriente e do Ocidente em 1054

Teologia

Influência da escolástica medieval e tradição ocidental

Influência da teologia patrística e tradição oriental

Papel dos ícones

Devoção aos ícones e culto aos santos

Uso extensivo de ícones na liturgia e devoção

Idioma litúrgico

Uso predominante do latim nas liturgias

Uso predominante do grego nas liturgias (e outros idiomas locais em várias regiões)

Tradição

mariana

A devoção mariana é proeminente, com dogmas como a Imaculada Conceição e a Assunção de Maria

Também possui uma forte devoção mariana, embora com menos dogmas definidos

Hierarquia episcopal

A autoridade é fortemente centralizada no papa e na Cúria Romana

Estrutura mais descentralizada com autoridade compartilhada entre os bispos e os conselhos sinodais

Abordagem ecumênica

Tende a buscar a unidade entre as diferentes tradições cristãs através do diálogo e do ecumenismo

Tende a enfatizar a distinção e a pureza doutrinária da própria fé ortodoxa

Igreja Ortodoxa no Brasil

A presença da Igreja Ortodoxa no Brasil remonta ao final do século XIX e início do século XX, quando imigrantes de origem grega, sérvia, libanesa, russa e outras nacionalidades ortodoxas começaram a se estabelecer no país. Esses imigrantes trouxeram consigo não apenas sua cultura e tradições, mas também sua fé ortodoxa.

Inicialmente, as comunidades ortodoxas no Brasil eram pequenas e dispersas, sem uma estrutura organizacional consolidada. No entanto, ao longo do tempo, essas comunidades cresceram e se fortaleceram, estabelecendo paróquias e igrejas em várias cidades brasileiras.

Hoje, a Igreja Ortodoxa no Brasil é composta por várias jurisdições e tradições, incluindo a Igreja Ortodoxa Grega, a Igreja Ortodoxa Antioquina, a Igreja Ortodoxa Russa, a Igreja Ortodoxa Sérvia, entre outras. Cada uma dessas jurisdições tem suas próprias paróquias, sacerdotes e comunidades de fiéis, embora todas compartilhem a mesma fé ortodoxa.

A Catedral Ortodoxa de São Paulo, localizada na capital paulista, é um dos principais centros da vida ortodoxa no Brasil. Construída em 1942, a catedral é um marco histórico e arquitetônico da presença ortodoxa no país.

Além disso, há também mosteiros ortodoxos no Brasil, onde monges e monjas vivem uma vida de oração, contemplação e serviço. O Mosteiro Ortodoxo de São Silvestre, localizado em Sergipe, é um exemplo de mosteiro ortodoxo ativo no país.

A Igreja Ortodoxa no Brasil continua a crescer e a se desenvolver, atraindo tanto imigrantes quanto convertidos locais para a sua fé e prática religiosa. A presença ortodoxa no país contribui para a diversidade religiosa e cultural do Brasil, enriquecendo o panorama religioso nacional.

Saiba mais: O que foi a Contrarreforma?

Curiosidades sobre a Igreja Ortodoxa

  • A liturgia ortodoxa é conhecida por seu ritualismo e beleza estética. Os serviços litúrgicos são elaborados e repletos de símbolos, ícones, cânticos e incenso, criando uma atmosfera de reverência e sacralidade.
  • Os ícones desempenham um papel central na espiritualidade ortodoxa. Eles facilitam a conexão espiritual entre os fiéis e Deus, os santos e os mistérios da fé.
  • O jejum é uma prática importante na vida ortodoxa, com períodos de jejum rigoroso ao longo do ano litúrgico. Durante esses períodos, os fiéis abstêm-se de certos alimentos e práticas como um meio de purificação espiritual e preparação para os grandes festivais da Igreja.
  • A teologia ortodoxa enfatiza a experiência direta e pessoal de Deus, buscando uma união íntima com Ele através da oração, da contemplação e dos sacramentos. A tradição da teologia mística, ou hesicasta, é particularmente proeminente na espiritualidade ortodoxa.
  • A maioria das igrejas ortodoxas segue o calendário juliano para determinar as datas dos festivais religiosos, o que resulta em algumas diferenças em relação ao calendário gregoriano utilizado pela maioria das denominações cristãs ocidentais. Por exemplo, a Páscoa ortodoxa geralmente ocorre em uma data diferente da Páscoa ocidental.

Créditos das imagens

[1] Watch The World/ Shutterstock

[2] Alexey Borodin/ Shutterstock

[3] Lumiereist/ Shutterstock

Fontes

ALEXANDER, Bruno. O Livro das Religiões. Rio de Janeiro: Globo Livros, 2016

DOROTEUS, Fr. Em que Creem os Ortodoxos. Clube de Autores: 2022

Publicado por Tiago Soares Campos

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