Grande terror stalinista
O georgiano Josef Stalin (1878-1953) governou a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) de 1922 até 1953, ano de sua morte. Assumiu o comando após o falecimento de Vladimir Lenin, o ícone da Revolução de 1917 e o fundador da URSS. Durante o longo tempo que durou a estadia de Stalin no poder, a União Soviética foi alçada a um patamar de superpotências mundiais, desempenhando um papel fulcral durante a Segunda Guerra Mundial. Contudo, a construção do “império soviético” por Stalin foi permeada por um forte arroubo totalitário (semelhante ao que ocorreu na Alemanha nazista), que resultou em perseguições, massacres e restrições das liberdades individuais. Um dos períodos mais sombrios do stalinismo ocorreu entre os anos de 1936 e 1939 e ficou conhecido como “o Grande Terror”.
O Grande Terror stalinista foi o nome dado a uma sistemática campanha de prisões e execuções, levada a cabo no inverno de 1936 e 1937. Essa campanha tornou-se singular porque era direcionada sobretudo a membros da burocracia soviética e da alta cúpula do poder, incluindo funcionários de alto escalão. O historiador Robert Service, em sua obra Camaradas – uma história do comunismo mundial, fornece detalhes da morte de um oficial de alta patente do Exército Vermelho, Mikhail Tukhachevski, e de um alto funcionário do Comintern (organismo que cuidava do comunismo internacional), Osip Piatnitski:
Stalin teve que passar a faca no próprio partido para se assegurar de que seus quadros pudessem contar somente com elementos “saudáveis”. Ele tinha a intenção de fazer a mesma coisa no Alto-Comando do Exército Vermelho. Assim, Mikhail Tukhachevski e outros líderes militares foram presos em maio de 1937 e fuzilados em junho após terem sido forçados a se confessarem traidores do Estado – as manchas de sangue permaneceram na confissão assinada por Tukhachevski. Osip Piatnitski, funcionário de alto escalão do Comintern, se opôs aos massacres. Expressou dúvidas quanto à vaidade das acusações feitas pelo partido. Isso foi o mesmo que chamar Stalin de tirano e velhaco, mas Piatnitski se recusou a desdizer-se. Sua filiação ao Comitê Central foi cassada e depois ele foi sequestrado por agentes da NKVD e executado. Ninguém nos órgãos do partido supremo repetiu seu ato de coragem suicida. [1].
Esse tipo de ação tornou-se corriqueiro a partir de então. O objetivo de Stalin era provocar instabilidade psicológica dentro da própria cúpula do comunismo soviético. Com a eliminação de líderes históricos, quaisquer possíveis insurreições contra o seu poder seriam malfadadas. Antes de 1936, Stalin já havia eliminado todos os “inimigos externos”, isto é, aqueles que ainda remanesciam dos primeiros anos da revolução (como os velhos líderes mencheviques). Com o Grande Terror, o caminho ficaria “livre” para levar a cabo seus projetos totalitários.
O fato é que, além das ações de terror promovidas contra os próprios membros de sua cúpula administrativa, Stalin continuou nos anos seguintes a promover assassinatos em massa e prisões em campos de trabalho forçado contra a própria população soviética. Um dos dispositivos legais que autorizavam a polícia secreta da URSS a fazer esse tipo de ação era o Decreto nº 00447, de 30 de julho de 1937, como deixa claro Robert Service:
O decreto 00447 determinava que 259.450 “elementos antissoviéticos” deveriam ser detidos. Vinte e oito por cento deles seriam executados, enquanto o restante, encaminhado para campos de trabalho forçado, onde cumpriria longas penas. Foram feitas especificações das pessoas que deveriam ser caçadas, entre as quais estava qualquer um que fosse cúlaque, padre, menchevique, socialista-revolucionário, “nacionalista burguês”, aristocrata banqueiro. Outras operações dessa espécie se seguiram. Grupos nacionais específicos, principalmente os que viviam nas regiões fronteiriças das URSS, junto a compatriotas em países limítrofes, foram os alvos: poloneses, gregos, alemães e coreanos. [2].
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NOTAS
[1] SERVICE, Robert. Camaradas – uma história do comunismo mundial. (Trad. Milton Chaves de Almeida). Rio de Janeiro: DIFEL, 2015. p. 179.
[2] Idem. p. 179-180.