Recursos estilísticos da poesia: figuras de linguagem
A poesia precisa comover, despertar emoções, enlevar. Assim, fazendo valer tais intenções, o poeta dispõe de recursos diversos, haja vista que na linguagem não há limites nem objeções.
Relacionadas a esse assunto, estão as figuras de linguagem, envolvidas no estilo de quem realiza um trabalho especial com a linguagem, dado o perfil conotativo que assumem os textos pertencentes ao gênero lírico.
Norteados pelo objetivo de ressaltar acerca dos traços que demarcam esses recursos, passaremos a estabelecer familiaridade com algumas dessas figuras de linguagem, as quais representam o aspecto em questão. Podemos destacar:
Metáfora
De forma literal, o poema em questão representa tal recurso estilístico:
Metáfora
Uma lata existe para conter algo
Mas quando o poeta diz: "Lata"
Pode estar querendo dizer o incontível
Uma meta existe para ser um alvo
Mas quando o poeta diz: "Meta"
Pode estar querendo dizer o inatingível
Por isso, não se meta a exigir do poeta
Que determine o conteúdo em sua lata
Na lata do poeta tudonada cabe
Pois ao poeta cabe fazer
Com que na lata venha caber
O incabível
Deixe a meta do poeta, não discuta
Deixe a sua meta fora da disputa
Meta dentro e fora, lata absoluta
Deixe-a simplesmente metáfora
Gilberto Gil
Constatamos que o autor estabelece uma relação de semelhança entre a “lata”, objeto concreto, e a capacidade artística do poeta.
Antítese
Amor é fogo que arde sem se ver
Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;
É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?
Camões
Inferimos que há um jogo de contraste entre palavras opostas, tais como: contentamento/descontente/ dói/ não se sente/não querer/mais que bem querer...
Prosopopeia ou personificação
A Estrela
Vi uma estrela tão alta,
Vi uma estrela tão fria!
Vi uma estrela luzindo
Na minha vida vazia.
Era uma estrela tão alta!
Era uma estrela tão fria!
Era uma estrela sozinha
Luzindo no fim do dia.
Por que da sua distância
Para a minha companhia
Não baixava aquela estrela?
Por que tão alto luzia?
E ouvi-a na sombra funda
Responder que assim fazia
Para dar uma esperança
Mais triste ao fim do meu dia.
Manuel Bandeira
Notamos que ao dar voz à estrela (um ser inanimado com características humanas), o autor, na última estrofe, retrata de forma magistral o recurso em questão.
Eufemismo
Consoada
Quando a Indesejada das gentes chegar
(Não sei se dura ou caroável),
talvez eu tenha medo.
Talvez sorria, ou diga:
- Alô, iniludível!
O meu dia foi bom, pode a noite descer.
(A noite com os seus sortilégios.)
Encontrará lavrado o campo, a casa limpa,
A mesa posta,
Com cada coisa em seu lugar.
Manuel Bandeira
Constatamos que Manuel Bandeira suaviza seu discurso por meio de um recurso denominado eufemismo, no intento de se referir à morte (demarcada pelo vocábulo “indesejada”).
Estes foram apenas alguns dos recursos empregados na linguagem poética, os quais tendem a conferir maior ênfase à mensagem, tornando-a mais expressiva.