Terras-raras

Terras-raras são um grupo de 17 elementos químicos, os quais incluem os 15 lantanídeos, além dos metais escândio (Sc) e ítrio (Y). Embora o nome dê essa sugestão, tais elementos não são considerados raros, sendo bem distribuídos em nossa crosta terrestre. Além disso, são muito parecidos quimicamente e, por conta disso, ocorrem em conjunto nas suas fontes minerais.

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Possuem diversas aplicações tecnológicas, o que os torna elementos de grande demanda nos dias atuais. São importantes para a transição energética, confecção de catalisadores e ímãs permanentes, visores, além de serem aplicados em eletrônicos e tecnologias de defesa. O Brasil possui a segunda maior reserva desses elementos, mas ainda produz muito pouco anualmente, diferentemente da China, que lidera o ranking de produção e disponibilidade de terras-raras.

Leia também: Quais são os recursos minerais do Brasil?

Resumo sobre terras-raras

  • Os elementos terras-raras são um grupo de 17 elementos, os quais incluem os 15 lantanídeos (elementos de transição interna localizados no sexto período da Tabela Periódica), além do escândio (Sc) e ítrio (Y).
  • Embora o nome faça parecer, tais elementos não são raros, com boa ocorrência em nossa crosta terrestre.
  • Os elementos terras-raras ocorrem em conjunto nas suas fontes minerais, uma consequência direta de sua semelhança química.
  • Os terras-raras possuem diversas aplicações tecnológicas, sendo explorados para confecção de ímãs permanentes, catalisadores, dispositivos militares de defesa, entre outros.
  • O Brasil possui a segunda maior reserva de terras-raras do mundo, porém tem uma produção ínfima.
  • A China lidera hoje a produção de terras-raras, correspondendo a 70% da produção mundial, além de ter a maior reserva natural desses elementos.

O que são terras-raras?

Símbolos dos 17 elementos químicos considerados terras-raras.
17 elementos químicos são considerados como terras-raras.

Os terras-raras (ou terras raras) são um grupo de 17 elementos químicos, os quais incluem os lantanídeos (elementos de transição interna do sexto período da Tabela Periódica), além dos metais do grupo 3 escândio (Sc) e ítrio (Y).

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O nome “terras-raras” já perdeu um pouco do seu sentido nos dias atuais, mantendo apenas seu valor histórico. Inicialmente, tais elementos metálicos foram descobertos em minerais raros, como a cerita e a gadolinita, nas minas do vilarejo sueco de Ytterby. Contudo, já se sabe que esses elementos não são nenhum pouco raros na nossa crosta terrestre, estando distribuídos em diversos locais de nosso planeta.

Um exemplo é o cério (Ce), o lantanídeo de número atômico 58, que apresenta uma abundância maior que o cobre (Cu). Já o termo “terras” faz referência a um antigo termo francês e alemão para designar óxidos, que era a forma como esses elementos eram inicialmente isolados.

Quais são os terras-raras?

Lantânio (La), um terra-rara, na sua forma pura.
Lantânio (La), um terra-rara, na sua forma pura.

Atualmente, são reconhecidos 17 elementos como terras-raras, sendo 15 deles lantanídeos, elementos de transição interna do sexto período da Tabela Periódica (número atômico 57 a 71):

  • Lantânio, La, Z = 57;
  • Cério, Ce, Z = 58;
  • Praseodímio, Pr, Z = 59;
  • Neodímio, Ne, Z = 60;
  • Promécio, Pm, Z = 61;
  • Samário, Sm, Z = 62;
  • Európio, Eu, Z = 63;
  • Gadolínio, Gd, Z = 64;
  • Térbio, Tb, Z = 65;
  • Disprósio, Dy, Z = 66;
  • Hólmio, Ho, Z = 67;
  • Túlio, Tm, Z = 68;
  • Érbio, Er, Z = 69;
  • Itérbio, Yb, Z = 70;
  • Lutécio, Lu, Z = 71.

Também pertencem aos terras-raras os metais do grupo 3 escândio (Sc, Z = 21) e ítrio (Y, Z = 39).

Ítrio, um terra-rara, na sua forma pura.
Ítrio, um terra-rara, na sua forma pura.

Principais características dos terras-raras

Na sua forma elementar (metálica), os terras-raras possuem uma coloração acinzentada (que lembra o ferro) a prateada, além de serem relativamente macios. Além disso, em sua forma metálica, são excelentes condutores de eletricidade.

Eles são reativos e se oxidam facilmente em contato com o ar, o que acaba justificando a dificuldade em obter tais elementos na sua forma pura, além do fato de serem quimicamente semelhantes. Não à toa, métodos para sua obtenção de forma satisfatória só foram alcançados no século XX, sendo que boa parte dos terras-raras tenha sido descoberta ainda no século XIX.

Como possuem grande afinidade por oxigênio, na natureza os terras-raras ocorrem na forma de óxidos, sendo considerados, inclusive, litófilos (abundantes na crosta terrestre). Além do oxigênio, também possuem grande facilidade de ligação com elementos mais eletronegativos, como é o caso do flúor (F).

Em geral, os lantanídeos, assim como o escândio e o ítrio, apresentam número de oxidação igual a +3. Contudo, alguns terras-raras podem apresentar outros números de oxidação a depender do ambiente em que estão inseridos, como é o caso do cério (+4) e európio (+2).

A solubilidade dos terras-raras também é bem semelhante e, na natureza, ocorrem em conjunto nas suas fontes minerais. Assim, de modo geral, pode-se dizer que a semelhança da configuração eletrônica justifica a semelhança de propriedades físicas e químicas dos terras-raras.

Amostra metálica de érbio.
Amostra metálica de érbio.

Os lantanídeos apresentam um efeito muito interessante, conhecido como contração lantânica. Graças a esse efeito, o raio atômico dos lantanídeos sofre um decréscimo do lantânio (Z = 57) em direção ao lutécio (Z = 71). A causa para esse efeito é a natureza do orbital 4f, que apresenta uma menor qualidade no que diz respeito à blindagem. Com mais prótons no núcleo, a carga nuclear efetiva aumenta, assim lantanídeos mais pesados acabam tendo seus elétrons de valência mais fortemente atraídos pelo núcleo, causando uma diminuição no seu tamanho.

Uma consequência interessante da contração lantânica é a forma como os lantanídeos aparecem nos minerais. Os lantanídeos mais leves (que vão do lantânio, Z = 57, ao európio, Z = 63) ocorrem em conjunto, com baixos teores dos lantanídeos mais pesados (que vão do gadolínio, Z = 64, ao lutécio, Z = 71), e vice-versa, pois a diferença do raio atômico dificulta a substituição de lantanídeos mais pesados em fontes de lantanídeos mais leves.

Leia também: Propriedades periódicas e aperiódicas dos elementos químicos

Onde são encontrados os terras-raras?

As principais fontes minerais dos terras-raras, exploradas comercialmente, são a monazita, a bastnasita e a xenotímia.

  • Monazita

A monazita é um fosfato de lantanídeos (Ln) e thório, (Ln,Th)PO4, com cerca de 71% em massa de lantanídeos presentes. Entre os terras-raras presentes, citamos alguns lantanídeos leves, como cério, lantânio, praseodímio, neodímio e samário.

É um mineral bem resistente ao intemperismo e ocorre como um mineral minoritário em granitos e granodioritos, além de associado às pegmatitas. Também ocorre em rochas metamórficas. Seu nome significa “estar sozinho”, por conta de seus cristais isolados, além de ter sido considerado um mineral raro à época de seu descobrimento.

Amostra de monazita.
Amostra de monazita.
  • Bastnasita

Também conhecida como bastnaesita, apresenta fórmula geral LnCO3F, sendo, portanto, um carbonato fluoretado de lantanídeos (majoritariamente leves). Os principais terras-raras encontrados na bastnasita são cério, lantânio, neodímio e ítrio. O teor mássico de terras-raras nesse mineral é de cerca de 76%.

É um mineral bem distribuído ao longo da crosta terrestre, porém, nunca ocorrendo em grandes quantidades. Ocorre em uma variedade de rochas ígneas, como as carbonatitas, depósitos de veios, rochas metamórficas de contato e pegmatitas. Seu nome faz referência à mina de Bästnas, que fica próxima à região de Riddarhyttan, na Suécia.

  • Xenotímia

Também conhecida como xenotima, xenotímio ou xenótimo, possui fórmula geral YPO4. Diferentemente dos casos anteriores, a xenotímia contém maiores teores de terras-raras pesados, como térbio, disprósio, gadolínio, érbio, hólmio, túlio, itérbio, lutécio, além do próprio ítrio. O teor mássico de terras-raras na xenotímia é de cerca de 61%.

A xenotímia é um mineral acessório em pegmatitas e em outras rochas ígneas, embora também possa ocorrer em rochas metamórficas. É bastante similar à monazita, com a diferença de concentrar terras-raras mais pesados.

  • Minerais minoritários de terras-raras

Embora outros minerais possuam grandes teores mássicos de terras-raras, como é o caso da britholita (62%), mosandrita (até 65%), parisita (64%), thalenita (63%) e cerianita (81%), por exemplo, tais minerais acabam não tendo importância comercial ou industrial.

Uso dos terras-raras

A demanda por terras-raras é cada vez maior na nossa sociedade. Apesar de não serem utilizados em grandes quantidades, não possuem bons substitutos. Entre seus principais usos, estão a fabricação de dispositivos eletroeletrônicos e ímãs permanentes, os quais mantêm suas propriedades magnéticas por muito tempo, e para a indústria da defesa.

Ímã permanente, um exemplo de aplicação dos terras-raras.
Ímãs permanentes são essenciais para a confecção de motores mais eficientes.

A tabela a seguir traz os principais usos dos terras-raras.

Indústria/Produtos

Aplicação

Automotiva

Catalisadores para controle de poluição; conversores catalíticos; substrato para catalisadores; baterias recarregáveis; células combustíveis; plásticos coloridos.

Cerâmica

Sensores de oxigênio; cerâmicas estruturais; revestimento para motores de jatos; revestimentos temporários cerâmicos; refratários; pigmentos.

Química

Catalisadores para refino de petróleo; fármacos; tratamento de águas; catalisadores; controle, detecção e secantes de umidade.

Defesa

Lasers; controle e orientação de mísseis; telas; radares; disruptores de radares e sonares; comunicação; escudos.

Eletrônica

Capacitores; cátodos; eletrodos; semicondutores; termistor; tubos amplificadores de frequência de rádio; granada de ítrio e ferro.

Vidro

Compostos para polimento; descolorantes; corantes; aumento de refração; decréscimo da dispersão; estabilização da radiação; absorventes.

Iluminação

Lâmpadas fluorescentes tricromáticas; lâmpadas de mercúrio; lâmpadas de arco carbono; fosforescentes de brilho longo.

Magnéticos

Alto-falantes e fones de ouvido; motores lineares; freios ABS; granadas; motores elétricos; bombas.

Magnetostritivos

Sistemas sonares; telas vibratórias; alto-falantes; bactericidas ultrassônicos; atuadores de precisão; posicionamento preciso.

Médica

Agentes de contraste; ressonância magnética; tomografia de emissão de pósitrons; emissores e rastreadores de radioisótopos.

Metalúrgica

Presentes na fabricação de ligas de alumínio, magnésio, ferro, níquel e aço; superligas; ligas pirofóricas; armamentos.

Fosforescência

Tubos de raios catódicos; luz fluorescente; visores de radares e cockpits; intensificadores de telas de raios-X; sensores de temperatura.

Terras-raras no Brasil

O Brasil possui a segunda maior reserva de terras-raras no mundo, concentrando 23% das reservas naturais, o que significa cerca de 21 milhões de toneladas. Segundo a Agência Nacional de Mineração e o Serviço Geológico Brasileiro, boa parte dos depósitos de terras-raras se concentra nos estados de Minas Gerais, Goiás, Amazonas, Bahia e Sergipe.

A produção brasileira, contudo, ainda é incipiente, com menos de 1% da produção mundial, o que significa cerca de 20 toneladas. Contudo, especialistas já afirmam que o protagonismo do Brasil na produção de terras-raras é inevitável, sendo uma questão de tempo para se destacar como um dos maiores produtores desses elementos no mundo.

O Brasil ainda tenta reivindicar, junto à Organização das Nações Unidas (ONU), uma formação geológica conhecida como Elevação do Rio Grande, que está localizada a cerca de 1200 km da costa do Rio Grande do Sul, atualmente em águas internacionais. A ilha submersa possui um tamanho próximo ao da Espanha e estudos geológicos comprovaram que ela é rica em metais terras-raras.

Leia também: Principais produtores de petróleo do mundo

Maiores reservas de terras-raras

As maiores reservas de terras-raras estão nos seguintes países, de acordo com Mineral Commodity Summaries de janeiro de 2025, do U.S. Geological Survey.

País

Reserva (em milhões de toneladas)

China

44

Brasil

21

Índia

6,9

Austrália

5,7

Rússia

3,8

Vietnã

3,5

Estados Unidos

1,9

Groelândia

1,5

As estimativas apontam para uma reserva mundial de 90 milhões de toneladas de terras-raras em nosso planeta. Um outro ponto de problema para os terras-raras é que, apesar de estarem bastante presentes na crosta terrestre, nem todos os depósitos são mineráveis, o que atrapalha bastante na sua produção.

Produção de terras-raras

Mapa da China com destaque para os terras-raras produzidos lá.
A China não só possui as maiores reservas de terras-raras, como também é a principal produtora desses elementos em escala industrial.

Em 2024, a produção de terras-raras chegou às 390 mil toneladas, superando a produção de 2023, que foi de 376 mil toneladas, segundo o Mineral Commodity Summaries de janeiro de 2025, do U.S. Geological Survey.

A China é responsável por quase 70% da produção mundial do ano de 2024, com 270 mil toneladas de terras-raras. A tabela a seguir traz mais informações acerca da quantidade produzida mundialmente.

País

Produção (em milhares de toneladas)

China

270

Estados Unidos

45

Canadá

31

Austrália

13

Nigéria

Tailândia

Índia

2,9

Rússia

2,5

Madagascar

2

Fontes

THE GEOLOGICAL SOCIETY. Rare Earth Elements – A briefing note by the Geological Society of London. Geological Society of London. dez. 2011.

CORDIER, D. J. Rare Earths. Mineral Commodity Summaries. Reston, Virginia: U.S. Geological Survey, 2025.

CASTOR, S. B.; HEDRICK, J. B. Rare Earth Elements. Industrial Mineral and Rocks. 7ª ed. SME, 2006.

VONCKEN, J. H. L. The Rare Earth Elements: An Introduction. 1ª ed. Springer, 2016.

LINS, F. A. F.; VERA, Y. M.; DOURADO, M. D. L. Brasil é o segundo em reservas de terras raras no mundo. Brasil Mineral. 19 fev. 2025. Disponível em: <https://www.brasilmineral.com.br/noticias/brasil-e-o-segundo-em-reservas-de-terras-raras-no-mundo>.

CASEMIRO, P. Terras raras: o que são, onde estão e por que os EUA se importam com elas. G1 – Ciência. 25 jul. 2025. Disponível em: <https://g1.globo.com/ciencia/noticia/2025/07/25/terras-raras-o-que-sao.ghtml>.

SERVIÇO GEOLÓGICO DO BRASIL – SGB. Serviço Geológico do Brasil esclarece dúvidas sobre potencial do país para terras raras e minerais estratégicos. Serviço Geológico do Brasil. 6 ago. 2025. Disponível em: <https://www.sgb.gov.br/w/servico-geologico-do-brasil-esclarece-duvidas-sobre-potencial-do-pais-para-terras-raras-e-minerais-estrategicos>.

Escritor do artigo
Escrito por: Stéfano Araújo Novais Stéfano Araújo Novais, além de pai da Celina, é também professor de Química da rede privada de ensino do Rio de Janeiro. É bacharel em Química Industrial pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e mestre em Química pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

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