Concordância ideológica

A concordância ideológica, ou silepse, realiza-se na relação existente entre termos da oração e ideias associadas ao sujeito e pode ser de gênero, número ou pessoa.
A concordância ideológica é realizada entre palavras e o sentido associado ao sujeito da oração

Observe a frase abaixo:

Vossa excelência foi atencioso com o caso em julgamento.

Sabe-se que a condordância nominal é normalmente realizada em função da palavra determinante, ou seja, a palavra que exigirá determinadas flexões de um outro elemento, por exemplo, o adjetivo (determinado), o qual concorda em gênero e número com o substantivo (determinante).

No entanto, é possível observar na frase acima que essa regra não se realiza, uma vez que o adjetivo atencioso não concorda em gênero com o pronome de tratamento vossa excelência, ou seja, há uma concordância além da palavra em si e ela é realizada em função do sentido a que se refere o determinante, no caso, um juiz. A esse tipo de realização na língua portuguesa dá-se o nome de concordância ideológica ou silepse.

A concordância ideológica ou silepse é aquela que é feita da palavra para o seu sentido e pode ser apresentada das seguintes formas:

1 – Nas expressões de tratamento – silepse de gênero.

Exemplo:

Vossa Senhoria chegou atrasado para reunião.

2 – No uso de sujeitos coletivos que possuem forma singular, mas carregam uma ideia de plural – silepse de número.

Exemplo:

Gente, venham depressa para cá.

3 – Na inclusão do falante no sujeito de 3ª pessoa do plural – silepse de pessoa.

Exemplo:

Todos os funcionários somos responsáveis pelo sucesso do projeto.

Perceba o uso desse tipo de silepse de pessoa na música do Ultraje a Rigor, na qual o compositor utiliza-se da expressão a gente com o significado de nós.

Inútil
Ultraje A Rigor

A gente não sabemos escolher presidente
A gente não sabemos tomar conta da gente
A gente não sabemos nem escovar os dente
Tem gringo pensando que nóis é indigente

(Refrão)

Inútil
A gente somos inútil
Inútil
A gente somos inútil
Inútil
A gente somos inútil
Inútil
A gente somos inútil

A gente faz carro e não sabe guiar
A gente faz trilho e não tem trem prá botar
A gente faz filho e não consegue criar
A gente pede grana e não consegue pagar

(Refrão)

A gente faz música e não consegue gravar
A gente escreve livro e não consegue publicar
A gente escreve peça e não consegue encenar
A gente joga bola e não consegue ganhar

Atenção: É necessário ficar atento quanto ao uso desse tipo de concordância, uma vez que ela permite uma maior liberdade na construção do enunciado, mas pode prejudicar a clareza e a harmonia da comunicação intencionada. Assim, algumas dessas possibilidades aparecem em contextos informais de comunicação (como a silepse de pessoa), e outras pertencem a um contexto comunicativo mais formal. Utilize com atenção esse recurso linguístico e amplie suas habilidades comunicativas. Bons estudos!

Publicado por Mariana Rigonatto
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