JK x Fidel Castro

JK e Fidel: uma relação delicada frente ao contexto político de uma época.

No momento em que a ilha de Cuba assistiu a deflagração de uma revolução, o resto do mundo abriu-se em preocupações. No continente americano, os governos instituídos se viram cercados pelo dilema entre aplaudir ou virar as costas para a reviravolta capitaneada por Fidel Castro e Ernesto “Che” Guevara. Aqui no Brasil, o presidente Juscelino Kubitscheck, governador desenvolvimentista e simpático aos EUA, sofreu esse mesmo dilema.

Inicialmente, a aproximação entre Brasil e Cuba aconteceu graças a dois fatores primordiais: os revolucionários cubanos não tinham postado claramente sua orientação política e o Brasil tinha interesses em estreitar relações de cooperação política e financeira com os países latino-americanos. Neste período, as nações latinas discutiam a revisão das políticas intervencionistas dos EUA e arquitetavam um projeto de cooperação econômica.


A Operação Pan-Americana (OPA) seria uma maneira de superar a situação de miséria dos países latino-americanos semelhante ao Plano Marshall, que recuperou a Europa após a Segunda Guerra. Enquanto os EUA olhavam com desconfiança a mobilização política dos latinos, os revolucionários cubanos viam com bons olhos o projeto cooperativista capitaneado pelo Brasil. Em uma reunião de líderes simpáticos à OPA, Fidel Castro aplaudiu a iniciativa e exigiu a criação de um fundo de investimento estadunidense de 30 bilhões de dólares.

Depois desta reunião, Fidel realizou uma visita ao Brasil que contou com uma reunião com o presidente Juscelino Kubitscheck. Neste encontro, amplamente coberto pelos órgãos de imprensa da época, Fidel salientou a posição de liderança da nação tupiniquim para que as amarras do subdesenvolvimento fossem superadas em toda a América. O clima amigável da visita, de fato, encobria as primeiras tensões com o governo brasileiro.

A embaixada do Brasil em Cuba, que anteriormente abrigava revolucionários, agora era refúgio dos perseguidos pelo regime de Fidel. Além disso, o acirramento nas relações entre Cuba e os EUA acabou deixando o Brasil em situação delicada em uma reunião da OEA. Ao não se postar contra os embargos econômicos dos EUA contra Cuba, o diplomata cubano Raúl Roa taxou as autoridades brasileiras como subservientes.

O governo cubano, que começara a receber apoio da União Soviética, passou a defender a oposição à perspectiva política e ideológica dos Estados Unidos. Uma segunda reunião preparatória da OPA, acontecida na Colômbia, ainda surgiu como uma nova oportunidade de reconciliação entre Brasil e Cuba. No entanto, o governo cubano se negava a apoiar qualquer nação aliada aos EUA.

A possibilidade conciliatória por meio da OPA acabou perdendo sua força durante o governo Kennedy. Se adiantando ao projeto integracionista da OPA, o governo de JFK lançou a chamada Aliança para o Progresso. O projeto era composto por uma política de ajuda emergencial que muito interessava as nações latino-americanas. Dessa maneira, a Operação Pan-Americana perderia seu espaço.

As relações instáveis entre JK e Fidel ganharam novo fôlego durante a administração de Jânio Quadros, que defendia uma política externa completamente autônoma. Novos diálogos com Cuba foram empreendidos em um contexto de total oposição aos EUA. A opção diplomática de Jânio acabou despertando a desconfiança de várias personalidades políticas brasileiras. Em tempos de Guerra Fria, essa aproximação bastava para que o termo “comunista” significasse um tipo de desqualificação política.

Por Rainer Sousa
Mestre em História

Publicado por Rainer Gonçalves Sousa
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