A mística católica de Santa Teresa e São João da Cruz

A mística católica de Santa Teresa e São João da Cruz, desenvolvida no início da modernidade, possui tanta importância quanto a experiência do desenvolvimento da ciência no século XVII.
Estátua de Santa Teresa de Ávila em um convento português

Os séculos XVI e XVII são considerados, de forma geral, como os séculos da ascensão dos edifícios da ciência e da filosofia modernas. Os indícios que apontam para isso são as obras de personagens históricos como René Descartes, David Hume, Johannes Kepler e Galileu Galilei. Entretanto, nesse mesmo período, no sul do Europa, especificamente na Espanha, outro tipo de experiência intelectual estava se desenvolvendo: a mística católica.

Os principais representantes da mística católica espanhola foram Santa Teresa de Ávila e São João da Cruz. Grande parte dos historiadores costuma dar ênfase apenas ao valor literário dos escritos de ambos os santos. Porém, a experiência mística desses autores possui um forte ingrediente de autoconhecimento e de cultivo das virtudes.

Em obras como “Noite Escuta”, de São João da Cruz, e “O livro da vida” ou “As moradas do Castelo Interior”, de Santa Teresa, são testemunhadas a escavação interior, a autorreflexão e a procura da comunhão com o divino, abrindo assim o espaço para a mística, isto é: o mistério, o drama de Cristo crucificado. A despeito do viés estritamente religioso dessas obras, a significação intelectual e a riqueza poética presentes nelas são fundamentais para se entender a modernidade.

A vinculação estrita entre modernidade e racionalismo científico, que implica a secularização e laicização de tudo, pode e deve ser contestada e confrontada a partir dos escritos místicos. A mística como forma de conhecimento e de entendimento do divino e do humano é fonte para vários estudos no âmbito das ciências humanas, dentre elas, a história.

Vale salientar que esse fenômeno não é exclusivo dos séculos XVI e XVII, mas também de outras épocas da modernidade. Um exemplo é a obra do monge francês do século XX, Thomas Merton.

Publicado por Cláudio Fernandes
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