Revolta Urabi: anticolonialismo egípcio

Eclodindo no auge do Imperialismo, a Revolta Urabi foi uma manifestação contra a presença estrangeira no Egito, mas cuja derrota levou à intervenção britânica no país.
O Coronel Ahmad Urabi (“Arabi Paxa”, 1839-1911), cuja fonte é Mary Evans Picture Library

A Revolta Urabi ocorreu no Egito, entre 1881 e 1882, e tinha como objetivo colocar em prática princípios liberais e constitucionais que dessem representação política à população egípcia. Iniciada como um levante militar, a Revolta Urabi conseguiu amplo apoio da população nativa do Egito, tendo como principal líder Ahmadi Urabi, cujo sobrenome inspirou a denominação da revolta.

No final do século XIX, o Egito encontrava-se sob domínio administrativo do Império Turco-Otomano. Os oficiais turco-circassianos ocupavam os altos postos do exército, relegando aos egípcios posições de subordinação. Os estrangeiros também gozavam de privilégios em relação à população civil do país, sendo que a maioria não estava sujeita às leis egípcias.

Ao mesmo tempo, pesados impostos eram exigidos da população nativa, conhecida como os fellahin. Quando não eram capazes de pagar os tributos determinados, os fellahin eram duramente castigados.

Por outro lado, o Egito encontrava-se em enormes dificuldades financeiras em decorrência das desastrosas políticas do quediva Ismail (1863-1879), que havia contraído enorme dívida com países europeus. Essa situação levou o controle das finanças egípcias às potências europeias, principalmente França e Inglaterra. O governo do quediva Tawfiq (1879-1892) continuou a subserviência aos governos europeus, que, somada à sua corrupção, causava grande insatisfação entre a população egípcia.

É necessário ao leitor ter em mente o contexto em que estava inserido o Egito à época. Todo o continente africano estava sofrendo intervenções de países europeus, no processo histórico do Imperialismo. A imposição de novas formas de trabalho e de organização social estava dilacerando as antigas práticas econômicas, políticas e sociais que vigoravam entre a população do continente. No caso egípcio, tal situação era firmada principalmente através da utilização de terras cultiváveis para a plantação de algodão, que alimentava as máquinas das indústrias têxteis europeias.

Politicamente, ideias liberais e constitucionais haviam entrado no país desde a metade do século XIX, influenciando principalmente setores letrados da população e algumas camadas do exército. Havia a divulgação desses ideais através de jornais, além da própria religião islâmica servir como ponto de aglutinação da oposição política, que se desenvolveu em torno de um constitucionalismo nacionalista.

O estopim da revolta foi a insatisfação dentro do exército, principalmente com a impossibilidade de os egípcios ocuparem os postos de mais alta patente. Além disso, soldos muito baixos eram pagos aos soldados egípcios. O resultado político foi uma intervenção dos militares a partir de fevereiro de 1881, que resultou na revolta contra o colonialismo europeu e o quediva Tawfiq.

A revolta foi liderada principalmente pelo coronel Ahmad Urabi, um militar de origem fellah, cuja capacidade oratória era admirada, principalmente por intercalar em seus discursos trechos do Corão. Participou da formação do Partido Nacionalista, o al-Hizb al-Watani, e conseguiu com seus apoiadores importantes realizações no início da revolta. Turcos-circassianos foram substituídos por egípcios em postos-chave da administração. A pressão levou o quediva Tawfiq a instituir uma assembleia popular, promulgando ainda uma constituição liberal em 07 de fevereiro de 1882.

Mas os revoltosos queriam ainda a derrubada de Tawfiq, sendo que alguns setores tinham por interesse a formação da República Egípcia. Essa oposição levou Tawfiq a organizar junto aos ingleses uma forma de derrubar os revoltosos do poder. Alguns historiadores propõem que um massacre na cidade de Alexandria contra os estrangeiros, em 12 de junho de 1882, teria sido organizado pelos ingleses para justificar uma intervenção militar.

A intervenção militar havia mesmo sido solicitada por Tawfiq e ocorreu tanto no ataque à cidade de Alexandria quanto na ocupação do Canal de Suez pelos ingleses, que serviram como ponto de partida para esmagar a revolta. Mesmo com o apoio popular à causa constitucionalista – financeira e de composição das forças militares revoltosas, principalmente depois da declaração do jihad contra os europeus –, as forças inglesas saíram vitoriosas.

O esmagamento da revolta ocorreu em 13 de setembro de 1882, durante a Batalha de Tell al-Kebir. Os ingleses ocuparam o Egito por 72 anos, mantendo ainda o país dominado pelo Império Turco-Otomano. Ahmad Urabi foi preso e deportado para o Ceilão, colônia inglesa cujo nome atual é Sri Lanka. Porém, os anseios nacionalistas permaneceriam entre a população egípcia, garantindo diversas formas de resistência à ocupação estrangeira.

* Crédito da Imagem: História geral da África, VII: África sob dominação colonial, 1880-1935 / editado por Albert Adu Boahen. – 2.ed. rev. – Brasília: UNESCO, 2010, p. 75.

Publicado por Tales dos Santos Pinto
Química
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