Congresso do Panamá
A luta pela independência da América Espanhola contou com uma variedade de projetos que visavam dar fim ao processo de dominação perpetuado pelas monarquias do Velho Mundo. Nesse sentido, alguns pensadores e participantes do processo de independência das colônias espanholas enxergavam a necessidade de se formar um Estado amplo, capaz de assegurar as liberdades conquistadas e, ao mesmo tempo, promover a construção de nações prósperas.
Esse ideal de ampla integração do espaço colonial ficou popularmente conhecido como pan-americanismo e tem suas primeiras manifestações antes dos processos de independência do século XIX. Já nos finais do século XVIII, o peruano Pablo Olavide organizou uma sociedade secreta em que defendia a autonomia do Novo Mundo por meio de uma ação conjunta de boa parte das nações sul-americanas. Apesar de limitado, o ideal pan-americano de Olavide seria um primeiro passo da ideal pan-americanista.
Com o início das independências no continente americano, esse projeto foi reavivado em diferentes projetos de integração. Juan Martínez de Rosas, um dos líderes do processo de independência do Chile, defendeu a ampla cooperação entre os povos americanos contra a reação das metrópoles européias à prevenção de conflitos entre os povos americanos. Passando algumas outras manifestações semelhantes, teremos esse ideal expresso em um congresso que reuniu a maioria das nações independentes.
No ano de 1826, o Congresso do Panamá reuniu representantes do México, Peru, Grã-Colômbia, das Províncias Unidas de Centro-América e Estados Unidos. Na reunião, pretendia-se concretizar o ideal de unidade política entre os povos hispano-americanos com o estabelecimento de uma força militar comum e o fim da escravidão em toda a extensão continental. A proposta foi encabeçada por Simon Bolívar, um dos mais atuantes líderes da independência da América Espanhola.
Contudo, o ideal pan-americanista de Simon Bolívar foi refutado por três importantes nações da época: o Brasil, Os Estados Unidos e a Inglaterra. O recém-formado Império Brasileiro não tinha interesse em apoiar os ideais liberais e republicanos oferecidos por Simon Bolívar. Ao mesmo tempo, não tinha interesse em dar fim à escravidão no país, tendo em vista o interesse central que os latifundiários brasileiros tinham na manutenção da ordem escravocrata.
O fim da escravidão era um ponto que desagradava os interesses políticos norte-americanos, que ainda dependiam maçicamente desse tipo de mão-de-obra para desenvolver sua economia, principalmente na porção sul. Somado a tal fator, os Estados Unidos não tinham bons olhos ao ideal pan-americanista na medida em que ainda pretendia expandir seus domínios territoriais. No caso inglês, a integração americana ameaçava o projeto de hegemonia econômica a ser implantado no continente.
Dessa maneira, a proposta pan-americana oficializada durante o Congresso do Panamá acabou sendo abafada pela oposição das nações citadas. Com o passar do tempo, observou-se que a questão lingüística ou o passado colonial em comum não serviram de sustentáculo para a implementação do ideal defendido por Simon Bolívar. Com isso, a possibilidade lançada nessa importante reunião interamericana não conseguiu sair do papel.
Por Rainer Sousa
Mestre em História