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Democracia ateniense

A democracia ateniense foi um sistema de governo praticado em Atenas, na Grécia Antiga. Nele os cidadãos participavam diretamente das decisões políticas.
Gravura do famoso discurso de Péricles. Sob sua liderança, a democracia ateniense alcançou seu auge.
Gravura do famoso discurso de Péricles. Sob sua liderança, a democracia ateniense alcançou seu auge.

A democracia ateniense foi um sistema de governo direto praticado na cidade-estado de Atenas no século V a.C. Nele os cidadãos participavam diretamente nas decisões políticas. Desenvolveu-se no século VI a.C., num período de intensas mudanças sociais e políticas, culminando na Idade de Ouro de Atenas, sob a liderança de Péricles.

Originou-se das reformas de Sólon e Clístenes, que mitigaram crises sociais e redistribuíram o poder, estabelecendo instituições que permitiram a participação direta dos cidadãos. Caracterizava-se pela participação direta dos cidadãos nas assembleias; pela igualdade política entre cidadãos — homens livres —; pelo sorteio de cargos públicos; e pela prestação de contas dos magistrados.

Leia também: Grécia Antiga — tudo sobre uma das mais importantes civilizações da Antiguidade

Resumo sobre democracia ateniense

  • A democracia ateniense foi um sistema de governo praticado pelos antigos gregos na cidade-estado de Atenas, no século V a.C.
  • Na democracia ateniense, os cidadãos participavam diretamente nas decisões políticas.
  • Teve origem nas reformas de Sólon e Clístenes.
  • Alcançou seu auge no século V a.C., sob a liderança de figuras como Péricles.
  • Era composta por vários órgãos, sendo os principais: a Ekklesia, a Boulé, os Tribunais Populares e os Magistrados.
  • Seu declínio aconteceu devido a conflitos internos e externos, especialmente após a Guerra do Peloponeso e a hegemonia macedônia de Filipe II.
  • A democracia ateniense é diferente da democracia contemporânea.
  • Enquanto a democracia ateniense era direta e limitada a homens livres nascidos em Atenas, a atual é representativa e mais inclusiva, abrangendo todos os cidadãos adultos.

Videoaula sobre democracia ateniense

O que foi a democracia ateniense?

A democracia ateniense foi um sistema de governo praticado na cidade-estado de Atenas durante a Antiguidade clássica, especialmente no século V a.C. Esse sistema é amplamente considerado como uma das primeiras formas de democracia direta da história. Nele os cidadãos tinham a oportunidade de participar diretamente nas decisões políticas, em contraste com a democracia representativa moderna, em que os cidadãos elegem representantes para tomar decisões em seu nome.

Em Atenas, o poder era exercido diretamente pelo povo, e as decisões importantes eram tomadas em assembleias abertas a todos os cidadãos livres.

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Contexto histórico da democracia ateniense

A democracia ateniense desenvolveu-se em um contexto de intensas mudanças sociais e políticas. Durante o século VI a.C., Atenas passou por uma série de conflitos internos entre aristocratas e plebeus, o que levou a diversas reformas políticas. A cidade-estado de Atenas estava emergindo como um centro comercial e cultural importante, e a crescente população urbana exigia maior participação política.

No século V a.C., sob a liderança de figuras como Péricles, a democracia ateniense alcançou seu auge. Esse período é frequentemente referido como a Idade de Ouro de Atenas, caracterizada por um florescimento das artes, filosofia, e por um notável progresso na ciência e na arquitetura. Atenas também se destacou militarmente, especialmente durante as Guerras Médicas, contra o Império Persa.

Veja também: Mitologia grega — deuses, seres e mitos cultivados pela sociedade grega

Qual a origem da democracia ateniense?

A origem da democracia ateniense está profundamente enraizada nas reformas políticas iniciadas no final do século VI a.C. Uma das figuras centrais nesse processo foi Sólon, que, em 594 a.C., implementou reformas que mitigaram a crise social e econômica de Atenas. Sólon aboliu a escravidão por dívidas, reorganizou a estrutura social e permitiu que mais cidadãos participassem da vida política, embora o poder ainda fosse concentrado na elite.

Busto de Clístenes, considerado o pai da democracia grega.
Busto de Clístenes, considerado o pai da democracia grega.[1]

As reformas de Clístenes, em 508-507 a.C., são consideradas a verdadeira fundação da democracia ateniense. Clístenes reorganizou a população em novas tribos e demos, enfraquecendo o poder das antigas famílias aristocráticas e criando um sistema mais inclusivo. Ele estabeleceu a Boulé, um conselho de 500 cidadãos que preparava a agenda para a Ekklesia, a assembleia popular.

Características da democracia ateniense

A democracia ateniense tinha várias características únicas que a diferenciavam de outros sistemas de governo da época e mesmo das democracias modernas. Era uma democracia direta, na qual os cidadãos participavam pessoalmente das deliberações políticas.

Todos os cidadãos — homens livres e maiores de 18 anos — tinham o direito de participar da Ekklesia, em que poderiam discutir e votar nas decisões políticas. Embora nem todos os habitantes de Atenas fossem considerados cidadãos (mulheres, escravos e estrangeiros eram excluídos), entre eles havia uma forte ênfase na igualdade política.

Muitos cargos públicos eram preenchidos por sorteio, a fim de evitar corrupção e assegurar que todos os cidadãos tivessem a oportunidade de servir. Os magistrados e outros funcionários públicos eram frequentemente auditados e podiam ser destituídos ou punidos em caso de mau desempenho ou corrupção.

Quais eram os órgãos da democracia ateniense?

A democracia ateniense era estruturada em vários órgãos principais, que desempenhavam funções específicas na governança da cidade-estado. Esses órgãos incluíam a Ekklesia, a Boulé, os Tribunais Populares e os Magistrados.

→ Ekklesia

A Ekklesia era a assembleia de todos os cidadãos atenienses e o órgão supremo da democracia ateniense. Todos os cidadãos tinham o direito de participar e votar nas reuniões da Ekklesia, que ocorriam regularmente na colina de Pnyx. A Ekklesia discutia e decidia sobre questões importantes, como leis, políticas externas, finanças públicas e declarações de guerra. As decisões eram tomadas por maioria simples.

→ Boulé

A Boulé era um conselho de 500 cidadãos que desempenhava um papel crucial na administração diária de Atenas. Os membros da Boulé eram escolhidos por sorteio, representando as 10 tribos atenienses, com 50 membros de cada tribo. A Boulé preparava a agenda para a Ekklesia, discutia projetos de lei, supervisionava os magistrados e cuidava de vários aspectos administrativos e financeiros da cidade-estado.

→ Tribunais Populares

Os Tribunais Populares, ou Helieia, eram compostos por grandes grupos de jurados cidadãos, também selecionados por sorteio. Esses tribunais tinham a função de julgar uma ampla gama de casos, desde disputas privadas até acusações criminais e questões políticas. O sorteio dos jurados visava a assegurar imparcialidade e prevenir a corrupção. Os veredictos eram decididos por maioria simples dos jurados presentes.

Gravura do julgamento de Sóstenes, em texto sobre democracia ateniense.
Os jurados dos tribunais atenienses eram cidadãos escolhidos por sorteio.

→ Magistrados

Os Magistrados eram responsáveis por executar as leis e administrar a Justiça em várias áreas. Existiam diferentes tipos de magistrados, cada um com funções específicas, como os Arcontes, que supervisionavam questões religiosas e culturais, e os Estrategos, responsáveis pelos assuntos militares. Os magistrados eram escolhidos por sorteio ou eleição e serviam por períodos limitados, geralmente um ano. Após o término do mandato, eram submetidos a um escrutínio para avaliar sua atuação.

Reformas políticas da democracia ateniense

As reformas políticas na democracia ateniense foram essenciais para a sua evolução e funcionamento, desde as reformas iniciais de Sólon, que lançaram as bases para a participação popular, até as mais radicais de Clístenes, que estabeleceram a estrutura democrática. Péricles também introduziu reformas significativas, incluindo o pagamento de salários para jurados e outros funcionários públicos, permitindo que mesmo os cidadãos mais pobres pudessem participar ativamente da vida política.

As reformas contínuas foram motivadas pela necessidade de adaptar o sistema às mudanças sociais, econômicas e políticas, garantindo a participação ampla e a mitigação de conflitos internos. Essas reformas fortaleceram a democracia ateniense, tornando-a mais inclusiva e eficiente.

Busto de Péricles, reformador da democracia ateniense.
Busto de Péricles.[2]

Fim da democracia ateniense

O fim da democracia ateniense foi gradual e marcado por uma série de conflitos internos e externos. Durante a Guerra do Peloponeso (431-404 a.C.), Atenas sofreu grandes perdas e a instabilidade política aumentou. Em 404 a.C., após a derrota para Esparta, o governo democrático foi temporariamente substituído por um regime oligárquico conhecido como Os Trinta Tiranos. Embora a democracia tenha sido restaurada posteriormente, nunca recuperou completamente a estabilidade e a influência de antes.

No século IV a.C., sob a crescente ameaça de potências externas, como a Macedônia, a democracia ateniense foi enfraquecendo. Em 338 a.C., após a Batalha de Queroneia, Filipe II da Macedônia estabeleceu a hegemonia sobre a Grécia, marcando o fim efetivo da independência e da democracia ateniense.

Democracia ateniense x democracia atual

Comparar a democracia ateniense com a democracia atual revela tanto semelhanças quanto diferenças significativas. A principal semelhança reside na ideia fundamental de que o poder político deve ser derivado do povo. No entanto, enquanto a democracia ateniense era direta, com os cidadãos participando pessoalmente nas decisões, a maioria das democracias modernas é representativa, na qual os cidadãos elegem representantes para tomar decisões em seu nome.

Outra diferença importante é a inclusão. A democracia moderna tende a ser mais inclusiva, com a cidadania estendendo-se a todos os adultos independentemente de gênero, raça ou status econômico. A democracia ateniense, por outro lado, era restrita a homens livres nascidos em Atenas, excluindo mulheres, escravos e estrangeiros.

Além disso, a tecnologia e os meios de comunicação modernos permitem uma participação política mais informada e ampla. Ferramentas como eleições, referendos, Parlamentos, e um Judiciário independente são elementos fundamentais das democracias contemporâneas que não existiam na forma direta da democracia ateniense. Para saber mais sobre esse tópico, clique aqui.

Críticas à democracia ateniense

Embora a democracia ateniense seja frequentemente elogiada por suas inovações políticas, também é alvo de várias críticas. Uma das principais críticas é a exclusão de grandes segmentos da população, como mulheres, escravos e metecos (estrangeiros residentes). Isso significava que apenas uma pequena fração da população tinha direitos políticos plenos.

Outra crítica importante é a vulnerabilidade da democracia ateniense à manipulação e à demagogia. Oradores habilidosos podiam influenciar a Ekklesia e levar a decisões impulsivas ou prejudiciais. O ostracismo — um processo pelo qual cidadãos considerados uma ameaça à democracia poderiam ser exilados — também era suscetível a abusos.

Além disso, a dependência de sorteios para o preenchimento de muitos cargos públicos, embora destinada a evitar a corrupção, às vezes resultava na nomeação de indivíduos inexperientes ou incompetentes para funções importantes.

Saiba mais: Período Homérico — período da história grega no qual se formaram as primeiras cidades independentes

Exercícios resolvidos sobre democracia ateniense

1. Considerando o contexto histórico e as características da democracia ateniense, analise as seguintes afirmativas sobre a inclusão e participação cidadã nesse sistema de governo.

Qual das alternativas a seguir melhor reflete as limitações e exclusões da democracia ateniense?

a) A democracia ateniense permitia a participação de todos os habitantes da cidade, incluindo mulheres e estrangeiros.

b) A democracia ateniense era um sistema completamente inclusivo, sem qualquer forma de discriminação.

c) Apenas cidadãos homens, maiores de 18 anos e nascidos em Atenas, podiam participar diretamente das decisões políticas.

d) As reformas de Clístenes incluíram mulheres e escravos na participação política da Ekklesia.

e) A democracia ateniense não tinha qualquer forma de exclusão social ou política.

Resposta: c)

A democracia ateniense, apesar de ser uma das primeiras formas de democracia, era bastante limitada em termos de inclusão. Apenas homens livres, nascidos em Atenas e maiores de 18 anos podiam participar diretamente das decisões políticas. Mulheres, escravos e estrangeiros eram excluídos desse processo, o que mostra uma significativa limitação na igualdade política dessa sociedade.

2. Analise as características e o funcionamento das instituições da democracia ateniense. Considerando o papel das instituições da democracia ateniense, qual das seguintes alternativas melhor descreve o funcionamento da Boulé?

a) A Boulé era uma assembleia aberta a todos os cidadãos atenienses, em que cada cidadão podia propor leis e votar.

b) A Boulé era composta por 500 cidadãos, selecionados por sorteio, que preparavam a agenda para a Ekklesia e supervisionavam a administração diária da cidade.

c) A Boulé era um tribunal onde os cidadãos julgavam casos criminais e disputas civis.

d) A Boulé era um conselho de magistrados eleitos que exercia autoridade suprema sobre todas as decisões políticas.

e) A Boulé consistia em um grupo de aristocratas que decidia as políticas externas de Atenas sem a participação do povo.

Resposta: a)

Boulé era uma instituição fundamental na democracia ateniense, composta por 500 cidadãos selecionados por sorteio, representando as 10 tribos de Atenas. A principal função da Boulé era preparar a agenda para as reuniões da Ekklesia, além de supervisionar a administração diária da cidade-estado. Esse mecanismo de sorteio buscava garantir a participação equitativa e evitar a concentração de poder nas mãos de poucos.

Créditos das imagens

[1] Ohio Channel | Wikimedia Commons (reprodução)

[2] Brett Bigham | Wikimedia Commons (reprodução)

Fontes

COMMELIN, P. Mitologia Grega e Romana. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

FUNARI, P. P. Grécia e Roma. São Paulo: Contexto, 2007.

Publicado por Tiago Soares Campos

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