John Wycliffe, precursor da Reforma
Sabe-se que, a partir do ano de 1517, após a publicação das 95 teses contra o clero católico por Martinho Lutero, a unidade do pensamento e da estrutura político-administrativa que a religião cristã exercia no continente europeu começou a ser cindida. São conhecidas também todas as dimensões culturais e políticas que nasceram da Reforma Luterana no século XVI, sobretudo nos reinos que compunham o que hoje é a Alemanha. Entretanto, Martinho Lutero e o seu contemporâneo João Calvino, outro importante reformador, tiveram precursores séculos antes. Nas linhas que se seguem trataremos de um deles: John Wycliffe.
O professor da Universidade de Oxford, John Wycliffe (1330-1384), desferiu duras críticas ao clero católico ainda no século XIV. Ele era pároco em Lutterworth, no condado de Yorkshire, na Inglaterra, e também era funcionário do rei inglês, tendo enorme influência sobre este, principalmente quando o assunto era a mediação com o clero. Wycliffe foi contemporâneo dos embates teológicos e filosóficos nominalistas, que influenciariam grandemente o pensamento moderno, inclusive o teológico/reformista.
Wycliffe foi um dos primeiros a denunciar a corrupção no clero católico e a anunciar a tese (que depois seria amplamente defendida por Lutero) de que qualquer um que tivesse fé poderia ter a salvação eterna, sem necessariamente ter que se dedicar ao cultivo das virtudes e às boas obras. Outra de suas críticas, mais de viés teológico, tinha como alvo a doutrina católica da transubstanciação de Cristo, no ritual eucarístico, isto é, na cerimônia eucarística do pão e do vinho.
Outro ponto importante das críticas de Wycliffe foi a defesa da “autoridade suprema” das Escrituras e da não interferência da opinião papal sobre elas e sobre a tradição cristã. Esse princípio atacava a autoridade do papa como sendo representante de Pedro, na Terra, e portador da “chave da Igreja”. Wycliffe chegou a qualificar alguns papas de anticristos por conta disso.
Um de seus principais tratados foi o De veritate Sacrae Scripturae (Da veracidade nas Sagradas Escrituras), publicado em 1378. Para Wycliffe, ao contrário do papa, as escrituras eram infalíveis. Essa tese influenciou tanto o luteranismo quanto o calvinismo e suas ramificações. Uma das últimas ações de Wycliffe foi tentar traduzir a Bíblia para o inglês, tal como o faria Lutero, ao traduzir a Bíblia para o alemão no século XVI.
Além de Wycliffe, Thomas Müntzer e Jan Huss foram outros dos mais proeminentes pré-reformadores protestantes da Europa.