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Programa nuclear iraniano

O programa nuclear iraniano é uma iniciativa científica voltada para o uso pacífico de energia nuclear. Apesar das tensões, não há provas de que o Irã possua armas nucleares.
Barris de material radioativo e bandeira do Irã em alusão ao programa nuclear iraniano.
O programa nuclear iraniano concentra-se no enriquecimento de urânio, mas não há evidências de que o Irã tenha armas nucleares.

O programa nuclear iraniano é uma iniciativa científica voltada para uso da energia nuclear iniciada nos anos 1950 no Irã, com o apoio ocidental. O programa evoluiu de um projeto voltado ao uso pacífico da energia nuclear para uma questão central de tensões internacionais, especialmente após a Revolução Islâmica de 1979. O Irã afirma que suas atividades são pacíficas, mas o enriquecimento de urânio em altos níveis e a falta de transparência geram suspeitas de sua intenção de desenvolver armas nucleares.

Não existem evidências de que o país possui armas nucleares. Os Estados Unidos, que antes apoiaram o programa, passaram a ser seus principais opositores, promovendo sanções e articulando acordos como o JCPOA, rompido unilateralmente em 2018, agravando as tensões.

Os riscos do programa incluem uma possível corrida armamentista no Oriente Médio, um aumento da proliferação nuclear e até o uso de materiais nucleares por grupos terroristas. Hoje, nove países possuem armas nucleares, enquanto o Irã permanece em destaque devido às incertezas sobre seus objetivos, tornando a história de seu programa um reflexo das complexas dinâmicas de poder global.

Leia também: Tratado sobre a Proibição de Armas Nucleares — quem assinou?

Resumo sobre programa nuclear iraniano

  • O programa nuclear iraniano é uma iniciativa científica do Irã voltada para o uso da energia nuclear.
  • O Irã afirma que a inciativa é para fins pacíficos, mas programa é cercado de controvérsias sobre seu possível desvio para a construção de armas nucleares.
  • A relação dos EUA com o programa nuclear iraniano mudou de apoio inicial nos anos 1950 para oposição severa após 1979.
  • Em 2018 o Plano de Ação Conjunto Global (JCPOA) foi rompido pelo governo Trump, acirrando as tensões.
  • O Irã não possui bombas nucleares comprovadas.
  • Existe uma preocupação internacional de que o país possa desenvolver armas nucleares futuramente.
  • Os riscos do programa nuclear iraniano são a proliferação nuclear, o aumento das tensões regionais e uma corrida armamentista no Oriente Médio.
  • Também se teme a possibilidade de uso de materiais nucleares por grupos terroristas apoiados pelo Irã, o que pode afetar a segurança global.
  • Nove países possuem arsenais nucleares: EUA, Rússia, China, França, Reino Unido, Índia, Paquistão, Coreia do Norte e Israel.
  • Irã e Arábia Saudita possuem programas nucleares em estágio avançado.

O que é o programa nuclear iraniano?

O programa nuclear iraniano é uma iniciativa tecnológica e científica desenvolvida pelo Irã para explorar e utilizar a energia nuclear. Ele inclui atividades como a construção de reatores nucleares, o enriquecimento de urânio e a pesquisa em diversas aplicações da energia nuclear.

Embora o Irã defenda que o programa tem fins pacíficos, como geração de energia elétrica e uso médico, ele é visto com ceticismo pela comunidade internacional devido ao seu potencial para desenvolvimento de armas nucleares.

Esse programa começou na década de 1950, com o apoio dos Estados Unidos, no contexto do programa Átomos para a Paz. Com o passar do tempo, especialmente após a Revolução Islâmica de 1979, o Irã intensificou suas atividades nucleares de forma independente, levando a suspeitas de que o país buscava a capacidade de desenvolver armas nucleares.

Apesar de reiterar seu compromisso com o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP), o Irã enfrentou sanções internacionais e acusações de não cumprir os regulamentos da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).

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Estados Unidos e o programa nuclear iraniano

A relação entre os Estados Unidos e o programa nuclear iraniano é marcada por tensões políticas e diplomáticas. Nos anos 1950 e 1960, os EUA apoiaram o início do programa nuclear iraniano, fornecendo tecnologia e treinamento. No entanto, após a Revolução Islâmica de 1979, a relação entre os dois países deteriorou-se drasticamente, e os EUA tornaram-se um dos principais críticos das atividades nucleares iranianas.

Desde então, os Estados Unidos têm pressionado por sanções econômicas contra o Irã, alegando que o programa nuclear representa uma ameaça à segurança regional e global. Em 2015, os EUA, junto de outras potências mundiais, negociaram o Plano de Ação Conjunto Global (JCPOA), que impôs limites rigorosos ao programa nuclear iraniano em troca de alívio nas sanções econômicas. Porém, em 2018, o governo de Donald Trump retirou unilateralmente os EUA do acordo, alegando que ele era insuficiente para conter o Irã.

A retirada resultou na reimposição de sanções e no aumento das tensões entre os dois países. A partir daí, o Irã retomou algumas atividades nucleares que estavam suspensas pelo acordo, e as negociações para restabelecer o JCPOA enfrentam dificuldades. A postura dos Estados Unidos continua sendo uma peça-chave no futuro do programa nuclear iraniano, influenciando tanto as políticas do Irã quanto as ações de outros países na região.

→ Declaração de Teerã e o programa nuclear iraniano

Assinada em 21 de outubro de 2003, a Declaração de Teerã foi o primeiro acordo significativo entre o Irã e as potências ocidentais após o aumento das suspeitas sobre o caráter militar do programa nuclear iraniano. O acordo envolveu o Irã e três países da União Europeia (Alemanha, França e Reino Unido, representados pelo grupo E3).

O objetivo do documento era abordar preocupações internacionais relacionadas ao programa nuclear iraniano, garantindo a natureza pacífica das atividades nucleares do país e promovendo a cooperação com a comunidade internacional. Diante da pressão internacional, o Irã optou por negociar com o grupo europeu para evitar sanções mais severas e aliviar tensões com os Estados Unidos e a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).

O Irã se comprometeu a suspender temporariamente suas atividades de enriquecimento de urânio e reprocessamento de combustível nuclear enquanto se prosseguiam as negociações. Também aceitou assinar o Protocolo Adicional do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP), permitindo inspeções mais rigorosas de suas instalações nucleares.

Os países europeus reconheceram o direito do Irã de desenvolver tecnologia nuclear para fins pacíficos, conforme previsto pelo TNP. O objetivo principal era criar um clima de confiança mútua, reduzindo receios de que o Irã pudesse desenvolver armas nucleares. Apesar da suspensão inicial das atividades de enriquecimento, o Irã interpretou a declaração como um reconhecimento de seu direito de manter capacidades nucleares para fins pacíficos.

No entanto, as negociações posteriores foram marcadas por tensões. O Irã acusava as potências ocidentais de má-fé ao não removerem sanções e restrições econômicas. Por outro lado, os países europeus e os Estados Unidos suspeitavam que o Irã não estava plenamente transparente sobre suas intenções nucleares.

Líderes mundiais em reunião da Declaração de Teerã, em 2003, sobre o programa nuclear iraniano.
A Declaração de Teerã, de 2003, foi o primeiro acordo sobre o programa nuclear iraniano.[1]

O acordo de 2003 foi temporário e acabou se desgastando devido à falta de progresso e à pressão contínua de países como os Estados Unidos, que mantinham uma postura mais dura contra o programa iraniano. Em 2006, o caso foi encaminhado ao Conselho de Segurança da ONU, resultando em sanções multilaterais contra o Irã. Décadas depois, as negociações nucleares evoluíram, culminando no Plano de Ação Conjunto Global (JCPOA) de 2015, que tentou resolver definitivamente as questões relacionadas ao programa nuclear iraniano.

Veja também: Qual foi a bomba mais potente já feita?

O Irã tem bombas nucleares?

Atualmente, não há evidências concretas de que o Irã possua armas nucleares. O país é signatário do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP), que proíbe o desenvolvimento de armas nucleares por nações que não as possuíam antes de 1967. Além disso, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) monitora as instalações nucleares iranianas, embora o nível de transparência do Irã varie ao longo do tempo, dependendo de sua relação com a comunidade internacional.

O programa nuclear iraniano concentra-se no enriquecimento de urânio, uma tecnologia que pode ser usada tanto para fins pacíficos quanto para a produção de armas nucleares. O enriquecimento acima de 90% é necessário para fabricar uma bomba nuclear, e o Irã já declarou ter enriquecido urânio a níveis superiores a 60%, levantando preocupações internacionais. No entanto, enriquecimento não equivale automaticamente à construção de uma arma, e desenvolver uma bomba funcional envolve desafios técnicos significativos.

Embora o Irã negue qualquer intenção de construir armas nucleares, as ações do país, como limitar inspeções da AIEA e expandir suas capacidades de enriquecimento, geram desconfiança. Especialistas sugerem que o Irã poderia alcançar a capacidade de produzir uma bomba nuclear em questão de meses, caso decidisse seguir esse caminho, mas isso ainda é uma hipótese.

Quais os riscos do programa nuclear iraniano?

O programa nuclear iraniano representa uma série de riscos que afetam a estabilidade regional e a segurança internacional. Caso o Irã desenvolva armas nucleares, isso pode desencadear uma corrida armamentista no Oriente Médio. Países como Arábia Saudita, Turquia e Egito poderiam buscar capacidades nucleares semelhantes para equilibrar o poder regional.

A existência de um programa nuclear avançado no Irã pode aumentar as tensões com países vizinhos, como Israel, que considera o programa uma ameaça existencial. Isso pode levar a ataques preventivos ou escaladas militares. Há preocupações de que materiais nucleares do programa iraniano possam ser desviados para grupos terroristas apoiados pelo Irã, como o Hezbollah. Isso ampliaria significativamente os riscos globais.

A incerteza em torno do programa nuclear iraniano prejudica os esforços internacionais de controle de armas e enfraquece tratados como o TNP. Além disso, aumenta as divisões entre potências globais, como EUA, Rússia e China, sobre como lidar com a situação.

Quais países possuem armas nucleares?

Atualmente, nove países possuem armas nucleares confirmadas:

  • Estados Unidos: o primeiro país a desenvolver e usar armas nucleares. Possui um dos maiores arsenais do mundo.
  • Rússia: herdeira do arsenal nuclear soviético, tem o maior número de ogivas.
  • China: desenvolveu armas nucleares nos anos 1960 e continua expandindo suas capacidades.
  • França: mantém um arsenal nuclear significativo, com foco na dissuasão estratégica.
  • Reino Unido: possui um número limitado de armas nucleares e é membro do TNP.
  • Índia: desenvolveu armas nucleares fora do TNP, justificando sua posição com base em ameaças regionais.
  • Paquistão: também fora do TNP, desenvolveu armas nucleares como resposta à Índia.
  • Coreia do Norte: declarou possuir armas nucleares e realizou testes, desafiando a comunidade internacional.
  • Israel: nunca confirmou oficialmente, mas acredita-se amplamente que possui um arsenal nuclear.

Além desses países, outras nações, como Irã e Arábia Saudita, têm programas nucleares com potencial para desenvolvimento militar, mas não possuem armas confirmadas.

Saiba mais: Quais são os efeitos da explosão de uma bomba atômica?

História do programa nuclear iraniano

O programa nuclear iraniano teve início nos anos 1950, durante o governo do xá Reza Pahlavi, com o apoio dos Estados Unidos no contexto do programa Átomos para a Paz. A primeira instalação nuclear foi construída com assistência ocidental, e o Irã planejava desenvolver uma rede de usinas nucleares para geração de energia.

Após a Revolução Islâmica de 1979, o programa foi interrompido temporariamente devido à mudança no regime e à retirada do apoio ocidental. Nos anos 1980, durante a guerra com o Iraque, o Irã retomou suas atividades nucleares, buscando diversificar suas fontes de energia e fortalecer sua posição estratégica.

Nos anos 2000, descobertas de instalações nucleares não declaradas em Natanz e Arak aumentaram as suspeitas de que o Irã buscava desenvolver armas nucleares. A partir daí, o programa enfrentou uma série de sanções internacionais, negociações diplomáticas e inspeções da AIEA. O ápice dessas negociações foi o acordo de 2015 (JCPOA), que limitou o programa iraniano em troca de alívio nas sanções.

Reator do programa nuclear iraniano.
Reator nuclear Arak IR-40 no Irã. Segundo o governo iraniano, as pesquisas são para uso pacífico de energia nuclear.[2]

No entanto, a retirada dos EUA do acordo em 2018 e o aumento das tensões com potências ocidentais levaram o Irã a expandir novamente suas atividades nucleares. Hoje, a história do programa nuclear iraniano reflete as complexas dinâmicas de poder, segurança e diplomacia na arena internacional.

Créditos das imagens

[1] Wikimedia Commons (reprodução)

[2] Wikimedia Commons (reprodução)

Fontes

DE SOUZA, A. C. F. As fragilidades do regime de não-proliferação nuclear: o caso iraniano. 2020. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Relações Internacionais) – Universidade de Brasília, Brasília, 2020. Disponível em: https://bdm.unb.br/bitstream/10483/28513/1/2020_AnaCeciliaFrancaDeSouza_tcc.pdf

DEL PRETE, G. O programa nuclear iraniano e o acordo E3/EU+3. Mural Internacional, v. 7, n. 1, p. 1-15, 2016. Disponível em: https://www.academia.edu/55469965/O_Programa_Nuclear_Iraniano_e_O_Acordo_E3_EU_3_the_Iranian_Nuclear_Program_and_the_E3_EU_3_Agreement

NASCIMENTO, M. P. de O. et al. O projeto nuclear iraniano: as sanções dos EUA e o papel da diplomacia brasileira nas negociações. Fronteira: Revista de Iniciação Científica em Relações Internacionais, v. 3, n. 39, p. 1-20, 2021. Disponível em: https://periodicos.pucminas.br/index.php/fronteira/article/download/23332/18635/

RAVISON, R. J. Questão nuclear iraniana: o programa nuclear persa e a diplomacia internacional. 2015. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Relações Internacionais) – Universidade de Brasília, Brasília, 2015. Disponível em: https://bdm.unb.br/bitstream/10483/11367/1/2015_RaquelJainechineRavison.pdf

TEIXEIRA JÚNIOR, A. W. M. O programa nuclear iraniano: situação atual, perspectivas e implicações para a segurança internacional. In: Congresso Acadêmico sobre Defesa Nacional, 11., 2015, Pirassununga. Anais [...]. Pirassununga: Academia da Força Aérea, 2015. Disponível em: https://www.gov.br/defesa/pt-br/arquivos/ajuste-01/ensino_e_pesquisa/defesa_academia/cadn/pogramaa_nucleara_ira.pdf/%40%40download/file

Publicado por Tiago Soares Campos

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