Cinco poemas de Augusto de Campos
Augusto de Campos é um dos principais representantes do Concretismo brasileiro, movimento literário que teve início no ano de 1956. Poeta, tradutor, crítico literário e musical e ensaísta brasileiro, ao lado de Décio Pignatari e de seu irmão Haroldo de Campos, o poeta fundou o grupo Noigandres (palavra extraída de uma canção do trovador provençal Arnaut Daniel e que significa "o olor que afasta o tédio") e, posteriormente, uma revista literária de mesmo nome. Foi por meio da revista que o grupo conseguiu organizar as ideias oriundas das vanguardas do início do século XX e dar início a uma nova proposta artística, cujo objetivo era aliar elementos visuais à palavra escrita.
Liderado pelos três poetas paulistas, Décio Pignatari, Augusto e Haroldo de Campos, o Concretismo tinha como principais objetivos eliminar o intimismo e o eu lírico do poema, retomando procedimentos adotados pelas correntes de vanguarda do começo do século XX, como o Futurismo e o Cubismo. Expressão máxima de seu estilo, a poesia de Augusto de Campos faz uso de diferentes procedimentos de criação artística: o poeta utiliza recursos da poesia, das artes visuais, da publicidade, da música e das tecnologias digitais (o poeta é grande pesquisador das mídias eletrônicas), sempre unindo palavra, som, imagem e movimento em uma unidade estrutural. Seu interesse pela dimensão “verbivocovisual” (conceito criado pelo poeta irlandês James Joyce) permeia toda a sua obra, considerada uma das mais representativas e consistentes do movimento concretista.
Veja abaixo a leitura – feita pelo poeta – da primeira estrofe da Canção XI do trovador Arnaut Daniel (século XII) em provençal e em tradução para o português:
Para que você conheça um pouco mais sobre o Concretismo, o Mundo Educação traz para você cinco poemas de Augusto de Campos. São poemas que rompem com os aspectos visuais, sonoros e verbais da poesia em uma experiência que subverte a tradição literária e renega a poesia discursiva. Boa leitura!
Augusto de Campos: o pulsar, 1975
O Vivo
Não queiras ser mais vivo do que és morto.
As sempre-vivas morrem diariamente
Pisadas por teus pés enquanto nasces.
Não queiras ser mais morto do que és vivo.
As mortas-vivas rompem as mortalhas
Miram-se umas nas outras e retornam
(Seus cabelos azuis, como arrastam o vento!)
Para amassar o pão da própria carne.
Ó vivo-morto que escarnecem as paredes,
Queres ouvir e falas.
Queres morrer e dormes.
Há muito que as espadas
Te atravessando lentamente lado a lado
Partiram tua voz. Sorris.
Queres morrer e morres.
Augusto de Campos.
Augusto de Campos: dias dias dias, 1953
Augusto de Campos: amortemor, 1970
Augusto de Campos: Intradução: asa de akhmátova, 1997